Moçambique: 20 garimpeiros morrem soterrados em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
14 de outubro de 2020
O deslizamento de terras numa mina de ouro ilegal nas margens do rio Meluli, em Nampula, matou pelo menos 20 pessoas. Autoridades admitem a existência de mais vítimas e anunciaram o encerramento do local.
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Pelo menos duas dezenas de garimpeiros ilegais morreram soterrados, na terça-feira (13.10), numa mina localizada nas margens do rio Meluli, no posto Administrativo de Namaita, no distrito de Rapale, na província moçambicana de Nampula.
O incidente ocorreu na sequência de um deslizamento de terras causado pelas fortes chuvas que se abateram sobre a região. As autoridades locais, através do líder comunitário de Nacuahu, confirmaram o resgate de 20 corpos, mas admitem a possibilidade de haver mais vítimas. As buscas continuam.
O inspetor da direção provincial dos Recursos Minerais e Energia de Nampula, Abel Cumbana, disse que a instituição tomou conhecimento da extração de ouro naquela região no dia 25 de setembro, ordenando o encerramento da mina ilegal, o que não veio a acontecer.
"Estivemos lá no dia seguinte, no dia 26, e procurámos conversar com as pessoas que estavam a fazer o garimpo de ouro. Uma vez que era uma atividade de risco no leito do rio, aconselhámos as pessoas a abandonar a área. Demos o prazo de dois dias", contou.
No entanto, os garimpeiros nunca chegaram a abandonar o local de forma permanente. "Trabalhavam até de noite. A maior parte das pessoas dormia até no leito do rio, porque o rio estava seco. Dormiam lá nas escavações com medo que aparecessem outras pessoas para fazerem trabalhos nas suas áreas", relata.
O inspetor Abel Cumbana garante que a mina será encerrada em definitivo por não reunir condições para a sua legalização.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.