Moçambique perde milhões de euros em 2016 devido à corrupção
Leonel Matias (Maputo)
1 de fevereiro de 2017
Para o Centro de Integridade Pública não constitui motivo de espanto o anúncio do Gabinete de Combate a Corrupção de que o Estado moçambicano foi lesado no ano passado em milhões euros devido à corrupção.
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O Gabinete Central de Combate a Corrupção (GCCC) anunciou esta terça-feira (31.01) que o Estado moçambicano foi lesado em 2016 num montante equivalente a seis milhões e duzentos mil euros devido à corrupção.
Deste montante, só foi recuperado cerca de metade em dinheiro, bens móveis e imóveis.
Entrevistado pela DW África Baltazar Fael, do Centro de Integridade Pública (CIP), disse que a sua instituição já vinha anunciando que de certa maneira o programa criado para controlar o fluxo do dinheiro do Estado, designado E-SISTAFE, estava vulnerável a ser atacado por várias pessoas.
"Aqueles que são os operadores do E-SISTAFE estão a violar este sistema e a conseguir retirar fundos do Estado. É preciso que se faça uma monitoria a esse sistema de modo a que de alguma forma se consiga travar essa apetência dos funcionários para se apoderarem dos fundos".
1200 processos-crime
O Gabinete Central de Combate a Corrupção instaurou em 2016 mais de 1200 processos-crime que resultaram em cerca de 500 acusados dos quais foram detidos 160 cidadãos moçambicanos. Os dados indicam que se registaram 414 casos de corrupção ativa e 216 de corrupção passiva.Os casos mais registados são o peculato, abuso de cargo ou função, pagamento de remunerações indevidas e enriquecimento ilícito.
O Gabinete revelou também que solicitou já, do Brasil, os documentos relacionados com a investigação sobre os pagamentos ilegais feitos pela Embraer a dirigentes dasLinhas Aéreas de Moçambique (LAM).
Eduardo Sumana, porta voz do Gabinete, disse que as autoridades moçambicanas esperam receber em maio as identidades dos moçambicanos envolvidos nesse caso de corrupção e que a investigação está numa fase avançada.
Para Baltazar Fael, do CIP, trata-se de um passo importante mas que "vem um pouco tardiamente e a reboque também daquilo que nós temos dito. Em primeiro lugar a Procuradora-Geral da República, se nós formos a ver os últimos discursos que ela fez, alegava questões de cooperação internacional, a falta de acordos bilaterais com certos países, para não agir.”
Inverter o cenário
Moçambique caiu 32 lugares no ranking segundo o relatório divulgado pela Transparência Internacional na semana passada sobre a perceção da corrupção.
Instado a comentar sobre esta queda sem precedentes para o país, o porta-voz do Gabinete Central de Corrupção, Eduardo Sumana afirmou que "tem muito a ver com a conjuntura actual em que vivemos. Temos é que sentar e fazer o TPC ( trabalho de casa, tirar lições) e por via disto trabalharmos no sentido de invertermos este cenário”.
Mas Baltazar Fael, do CIP, é mais direto e sublinha que "é preciso que o Governo faça mais, que haja um compromisso da parte do Governo em criar medidas para conter a corrupção”.
Moçambique perdeu mais de seis milhões de euros em 2016
Desmascarar os corruptos
A organização não-governamental Transparência Internacional seleccionou, entre 383 candidaturas, os 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção". A votação decorre até 10 de fevereiro. Isabel dos Santos está na lista.
Isabel dos Santos
A filha mais velha do Presidente angolano está entre os 15 casos "mais simbólicos da grande corrupção" seleccionados pela Transparência Internacional. Isabel dos Santos foi considerada a primeira bilionária africana pela revista Forbes, que questiona a sua fortuna de mais de três mil milhões de dólares, num país em que dois terços da população vive com menos de dois dólares por dia.
Foto: picture-alliance/dpa
Banco Espírito Santo
As suspeitas de corrupção do Banco Espírito Santo (BES) em Portugal começaram quando entrou em bancarrota em 2014, levando accionistas e investidores a perderem dez mil milhões de euros, estima a Transparência Internacional. Foram descobertas fortes evidências de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, já esteve preso e foi recentemente libertado sob fiança.
Foto: DW/J. Carlos
Teodoro Nguema Obiang
Conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, o filho do Presidente da Guiné Equatorial é, desde 2012, segundo vice-presidente da República e chefe de Defesa e Segurança do Estado. A Guiné Equatorial é o país mais rico de África, per capita, apesar do Banco Mundial alegar que mais de 75% da população vive na pobreza, com menos de dois euros por dia.
Foto: DW/R. Graça
Petrobras
A petrolífera Petrobras está envolvida num escândalo de subornos, comissões e lavagens de dinheiro de alegadamente mais de dois mil milhões de euros, que conduziu o Brasil a uma profunda crise política. Este caso envolveu mais de 50 políticos e 18 empresas. A população brasileira já fez vários protestos nas ruas para exigir justiça pelos crimes cometidos pela empresa estatal.
Foto: picture alliance/CITYPRESS 24
Ricardo Martinelli e companheiros
É ex-Presidente do Panamá e empresário. Possui atualmente uma rede de supermercados no país, entre outras empresas. Está envolvido numa polémica de espionagem política durante o seu mandato entre 2009 e 2014, utilizando alegadamente dinheiros públicos. Tem outras acusações em tribunal, incluindo vários crimes financeiros e subornos e perdões ilegais.
Foto: Getty Images/AFP/J. Ordone
Sistema político do Líbano
O sistema político no Líbano, nomedamante, o Governo, as autoridades a a instituições, encontram-se também na lista da International Transparency. Segundo a Associação de Transparência Libanesa, a corrupção encontra-se em todos setores sociais e governamentais, existindo "uma cultura de corrupção" no país. O Líbano é considerado um país "muito fraco" em termos de integridade.
Foto: Getty Images/AFP
Mohamed Hosni Mubarak
Presidente do Egito entre 1981 e 2011, Mohamed Hosni Mubarak foi também julgado e condenado em 2011 a prisão perpétua por crimes de guerra e contra a humanidade. No entanto, e após estar preso durante três anos, o Tribunal Penal do Cairo cancelou as acusações. Em maio de 2015 foi sujeito a um novo julgamento. Mubarak encontra-se agora preso.
Foto: Reuters/M. Abd El Ghany
Felix Bautista
O senador da República Dominicana foi acusado de branqueamento de capitais, abuso de poder, prevaricação e enriquecimento ilícito no valor de vários milhões de dólares. Bautista já foi presente a tribunal, mas nunca foi considerado culpado, o que originou vários protestos por parte da população dominicana que segundo um relatório de 2014 do Banco Mundial apresenta afluência na pobreza crónica.
Foto: unmaskthecorrupt.org
Estado americano de Delaware
O Estado norte-americano de Delaware está nomeado pelos crimes nos serviços transfronteiriços onde foram aplicadas regras secretas, pela falta de recolha de dados dos benificiários e pela maior incidência nos cidadãos comuns. O jornal The New York Times chegou mesmo a apelidar o Estado como "paraíso fiscal corporativo". Quase metade das empresas públicas nos EUA estão incorporadas em Delaware.
Foto: Getty Images/M. Makela
Zine al-Abidine Ben Ali
O ex-Presidente da Tunísia, que governou entre 1987 e 2011, é acusado de roubar mais de dois mil milhões de euros à população tunisina e de beneficiar amigos e companheiros a escapar à justiça. É conhecido pelo seu estilo de vida extravagante e saiu do Governo em 2011, na sequência de vários protestos e manifestações nas ruas da Tunísia conhecidos como a Revolução de Jasmim.
Foto: picture-alliance/dpa
FIFA
A Federação Internacional de Futebol, mais conhecida como FIFA, é acusada de ultrajar milhões de fãs. Os respoonsáveis pelos cargos mais elevados são acusados de roubar milhões de euros e estão a ser analisados 81 casos suspeitos de branqueamento de capitais um pouco por todo o mundo. Em 2006, o repórter Andrew Jennings lançou o livro "Jogo Sujo - O mundo Secreto da FIFA".
O ex-Presidente da Ucrânia é acusado de "deixar escapar" milhões de ativos estatais em mãos privadas e de ter fugido para a Rússia antes de ser acusado de peculato. Yanukovych começou o seu mandato em 2010, foi reeleito em 2012 e cessou as suas funções no ano de 2014, quando foi destituído após vários protestos populares nas ruas do país contra a possível aproximação com a Rússia.
Foto: picture alliance / AP Photo
Fundação Akhmad Kadyrov
A Fundação Akhmad Kadyrov é a associação para o desenvolvimento social e económico na Chechénia e foi acusada de obter valores que rondam os 55 milhões de dólares por mês, enquanto 80% da população continuava a viver na pobreza. Os membros da associação são ainda acusados de gastar as verbas a entreter e oferecer presentes às estrelas de Hollywood.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Bondareff
Comércio de jade no Mianmar
O negócio da comercialização de jade está avaliada em cerca de 28 mil milhões de euros. A Transparência Internacional refere que quem mais lucra são traficantes de droga e funcionários de cargos mais elevados. Os conflitos saem também a ganhar através da compra de armas. Sóem novembro de 2015 morreram cerca de 100 trabalhadores na exploração de jade no Mianmar, após um deslizamento de terras.
Foto: Getty Images/AFP/K. Maung Win
China Communications Construction Company
A China Communications Construction Comaonz (CCCC) é uma das maiores empresas de construção do mundo e tem sede na China. A CCCC, que pertence parcialmente ao Estado, está alegadamente envolvida em propostas não-concorrenciais, negociações secretas e supostos casos de subornos. Em 2014 foi processada por violar os direitos dos moradores durante a construção de uma estrada no Uganda.
Foto: AFP/Getty Images
International Transparency
"Unmask the Corrupt" é um projeto da Transparency International e a votação está agora aberta a toda a população mundial até ao dia 10 de fevereiro. Casey Celso, diretor de Advocacia da Transparency International, frisa que a votação é totalmente anónima. "Lutamos contra a corrupção há bastante tempo e tentamos colocar o conceito de grande corrupção em todo o mundo", afirmou.