Moçambique: Pior da crise já passou mas desafios continuam
8 de maio de 2017"O cenário de curto prazo para a economia de Moçambique melhorou claramente e o ponto mais baixo do ciclo já deve ter passado; no entanto, o cenário ainda é constrangido por vários riscos e é condicionado pela ocorrência de vários eventos", lê-se numa nota de análise, citada pela agência de notícias Lusa
Os analistas do Banco Português de Investimento (BPI) salientam que, dos contactos que mantiveram recentemente em Maputo, os intervenientes salientaram "certas fraquezas da economia", destacando "o débil sistema judicial, a elevada burocracia do Estado, as fracas infraestruturas e uma população com poucas qualificações".
A estes fatores estruturais, escrevem os analistas, "juntam-se as debilidades atuais da economia", que enfrenta "dificuldades de acesso ao financiamento, quer por via das taxas de juro elevadas, quer pelas condições exigentes na concessão de crédito, os problemas de liquidez do Estado e falta de confiança por parte dos parceiros internacionais".
No final do ano, as notícias foram positivas para o país, designadamente "a retoma das exportações de carvão por parte da Vale e a apreciação do metical, decorrente também de medidas de política monetária fortemente restritivas", mas para este ano as taxas de crescimento devem manter-se em níveis historicamente baixos.
Desafios para 2017
"Para este ano, apesar da expectativa de alguma retoma da atividade económica, não é esperado que se volte a assistir a taxas de crescimento substanciais como as verificadas no passado, embora a trajetória deva ser positiva", escrevem os analistas do BPI no rescaldo da visita ao país.
Os desafios para este ano, apontam, passam pela "negociação com os credores para a reestruturação da dívida e acordo com o FMI para um novo programa, retirada gradual dos subsídios aos combustíveis, confirmação da atenuação/suspensão das tensões político-militares, evolução dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais, manutenção de um cenário de restrições de liquidez no aparelho estatal e as decisões finais de investimento dos projetos de gás natural".
Para os analistas do BPI que seguem a economia moçambicana, o modelo de assistência financeira dos doadores internacionais deverá mudar, focando-se menos no financiamento e mais em projetos concretos. "Não parece possível que os doadores voltem a conceder os donativos da mesma forma que faziam anteriormente; deverão antes aplicar diretamente a projetos, garantindo também uma melhor monitorização; nasce, assim, a necessidade do Governo desenvolver estratégias para alargar a sua base tributável e fazer face às suas despesas de funcionamento e às despesas essenciais para que se registem processos no desenvolvimento económico", explicam..
As perspetivas de médio e longo prazo, no entanto, "continuam favoráveis", essencialmente devido à dinâmica renovada dos megaprojetos na área dos recursos naturais, e a situação político-militar "está aparentemente mais pacificada, permitindo a retoma da circulação normal de bens e pessoas".
Consequências
A crise do ano passado deixa, no entanto, consequências: "no caso do Governo, será exigido que operem com menos recursos, promovendo a sua utilização de forma mais eficiente; que promovam medidas de alargamento da base tributável, medidas de combate à informalidade da economia e promoção de outros setores da economia (diversificação económica e criação de emprego)".
Para os privados, "é esperado que as empresas que sobreviverem a esta crise fiquem mais robustas no futuro, através da diminuição de custos, melhoria do 'governance' e ponderando melhor as suas apostas de negócio".
Por último, "no caso do setor financeiro, é expectável uma gestão de tesouraria mais cautelosa, mais controlo nos custos e melhor avaliação do risco na concessão de crédito". A crise, concluem, deverá "ser vista como uma janela de oportunidades, potenciando um crescimento mais sustentado e gerador de bem-estar para a população".