Região sul de Moçambique enfrenta a pior seca dos últimos trinta anos. Barragens têm níveis de armazenamento abaixo dos 30%. Cenário já afeta a agricultura e o abastecimento de água.
Publicidade
A pior seca dos últimos trinta anos está a afetar a agricultura na região sul de Moçambique. E a água escasseia em Maputo, onde populares dizem que o problema arrasta-se desde 2016. Este ano, embora as autoridades gestoras da água tenham decretado restrições, problemas de abastecimento aos bairros continuam.
Na região sul, três barragens - Massingir, em Gaza, e Pequenos Libombos e Corumana, na província de Maputo - estão com níveis de armazenamento abaixo dos 30%.
Já a Administração Regional de Águas, ARA-Sul, tenta superar este cenário com racionamento. O seu diretor-geral, Hélio Banze, diz que na barragem de Corumana, situada no rio Incomáti, a única solução é restringir o fornecimento de água para os canaviais de Xinavane e Maragra.
Abastecimento
"Há anos temos restrições na Bacia de Incomáti. Fornecemos água para a agricultura das principais açucareiras de Xinavane e Maragra a 50%. Esse cenário terá que prevalecer, pois ainda estamos num momento de época chuvosa, [mas] com pouca chuva. Uma avaliação será feita no final desta época", esclarece.
As restrições não são apenas para as açucareiras. Os pequenos agricultores e criadores de gado ao longo da bacia de Incomáti terão apenas 15% deste precioso líquido.
"Estamos a tentar dar alguma satisfação ao setor da agricultura para manter as culturas vivas. A morte dessas pode resultar em prejuízos para os nossos agricultores. Estamos a fornecer os 15%, e esse cenário deve prevalecer até o final da época chuvosa", diz.
Rios
A situação na barragem dos Pequenos Libombos, no rio Umbeluzi, é pior do que nas restantes albufeiras. A água que dali sai abastece as cidades de Maputo, Matola e Boane e, segundo Pedro Paulino, diretor-geral do Fundo de Investimento e Património de Água, FIPAG, só há água para um ano.
"Atualmente, temos cerca de 12 mil metros cúbicos a serem aduzidos para a rede através de investimentos em infraestruturas feitos em furos. Essa água está a ser aduzida a partir da zona norte de Maputo diretamente para a rede", explica.
Por sua vez, o Governo moçambicano continua à procura de soluções para a crise de água no sul do país. A dessalinização da água do mar, por exemplo, é um projeto que Maputo pondera levar avante.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.