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Moçambique: PM desvaloriza registo de empresas de golpistas

Lusa
22 de maio de 2024

O primeiro-ministro moçambicano, Adriano Maleiane, condenou a alegada tentativa de golpe de Estado na RDCongo, mas desvaloriza o facto de três dos supostos golpistas terem empresas registadas em Moçambique.

Foto: Roberto Paquete/DW

 Falando à margem do terceiro conselho coordenador do Gabinete de Informação de Moçambique, na província de Maputo, Adriano Maleiane começou por repúdiar a alegada tentativa de golpe de Estado na República Democrática do Congo. 

"Condenamos toda a tentativa de golpe de Estado, o Governo não pode senão condenar esse ato (...)", disse o dirigente aos jornalistas, vincando que "o país tem muitos investidores e muitos investimentos, mas nós não andamos a acompanhar a vida particular dos investidores".

Em causa está o facto de três dos alegados envolvidos na suposta tentativa de golpe de Estado na República Democrática do Congo (RDCongo), incluindo o congolês Christian Malanga, que liderou o movimento, aparecerem em registos oficiais como detentores, desde 2022, de empresas com sede em Moçambique.

O primeiro-ministro referiu ainda que o que os investidores estrangeiros fazem nos seus países de origem não é assunto de Moçambique.

"Todo o investimento e investidor está registado e está a seguir as normas que estão aqui. Agora, o que faz no país de origem dos capitais, isso não é assunto nosso. Vai ser nosso se, por alguma coisa, falhar os termos de investimento que foram aprovados [em Moçambique]", acrescentou o governante.

"Não temos nada a ver com esse assunto"

Questionado pela imprensa local sobre supostas fotografias em que os alegados golpistas aparecem ao lado de figuras proeminentes do país ligadas ao partido no poder, Maleiane disse também não ser "assunto do Governo".

"Não temos nada a ver com esse assunto, esse é o meu comentário. Por isso é que não sabemos como comentar e as fotografias que saem. Isso é de âmbito particular, não é um problema do Estado", frisou o primeiro-ministro moçambicano.

Christian Malanga, líder dos alegados golpistas na RDCongoFoto: Christian Malanga/Handout/REUTERS

O Instituto Nacional de Minas disse que as três pessoas entre os envolvidos na suposta tentativa de golpe de Estado na RDCongo e que são apontadas como proprietárias de empresas em Moçambique não constam do cadastro mineiro, admitindo, no entanto, que as empresas em causa estão registadas no país, embora não como operadoras mineiras.

 Segundo documentos oficiais do registo da Bantu Mining Company na Conservatória do Registo de Entidades Legais de Maputo consultados pela Lusa, além de Christian Malanga, congolês no exílio -- com passaporte emitido pelo Essuatíni (antiga Suazilândia) -, integram aquela sociedade, com operação em Matola, arredores da capital moçambicana, os norte-americanos Cole Patrick Ducey e Benjamin Reuben Zalman Polun.

Os três registaram ainda no Chimoio, província de Manica, a Global Solutions Moçambique, de acordo com a imprensa local moçambicana.

Dezenas de atacantes invadiram às primeiras horas de domingo as residências do Presidente da RDCongo, Felix Tshisekedi, e do vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Vital Kamerhe, numa tentativa de golpe de Estado, rapidamente travada pelo exército congolês.

A tentativa de golpe de Estado foi liderada pelo ativista da diáspora congolesa nos Estados Unidos, Christian Malanga, morto pelas Forças Armadas da RDCongo, depois de invadir o Palácio da Nação, a residência presidencial.

Três norte-americanos alegadamente envolvidos no golpe, incluindo os dois sócios da Bantu Mining Company, foram capturados pelo exército congolês.

A embaixadora norte-americana na RDCongo, Lucy Tamlyn, condenou o ataque e manifestou-se "muito preocupada" com o alegado envolvimento de cidadãos dos EUA.

O porta-voz das forças armadas, Sylvain Ekenge, afirmou à televisão pública ter "cortado pela raiz" a "tentativa de golpe", depois de ter sugerido que os atacantes eram congoleses e estrangeiros, mas sem dar pormenores.