Líder comunitário e esposa de outro líder comunitário foram mortos para além de mais um dirigente comunitário ter sido ferido no domingo (27.02.) em Funhalouro. Segundo a Polícia, homens da RENAMO terão sido os autores.
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As vítimas mortais são Ernesto Govene, que era secretário do círculo pertencente à FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), o partido no poder, e Fátima Muetui, esposa do líder comunitário Azarias Massingue, que ficou gravemente ferido.
Juma Aly Dauto, porta-voz da Polícia no comando provincial de Inhambane, disse em conferência de imprensa que os autores dos assassinatos poderão ser membros do maior partido da oposição, a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana).
O crime aconteceu na madrugada de domingo (27.02.), dentro das residências das vítimas no bairro 25 de Junho, em Funhalouro. As autoridades falam em dez homens armados. O porta-voz da Polícia afirma que alguns estavam vestidos com fardas normalmente usadas pela guerrilha da RENAMO.
E isso leva Juma Aly Dauto a concluir o seguinte: "Leva-nos a crer que são indivíduos da RENAMO que num passado recente estiveram a protagonizar ataques às populações aquela zona. Dispararam contra o líder comunitário local, de 66 anos de idade, provocando-lhe ferimentos graves e alvejaram mortalmente a esposa. Em seguida dirigiram-se à residência do secretário do círculo e alvejaram-no até à morte."
Polícia receia deslocamento da população
O porta-voz do comando provincial da Polícia em Inhambane mostra-se preocupado com os assassinatos. E assegura que a corporação já está no terreno a investigar o caso: "Nós estamos preocupados, estamos no momento em que havia sido decretado uma trégua, mas esta parte [RENAMO] ainda continua com os ataques as populações naquela zona. É uma preocupação enorme para as Forças de Defesa e Segurança, mas estamos a fazer o trabalho com vista a neutralizar esses indivíduos ainda a monte."E Juma Aly Dauto acrescenta que "neste momento como a população está atormentada, não é de admirar a deslocação da população para zonas mais seguras tal como ocorreu no passado recente."
Contactado pela DW África, o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, não quis prestar declarações sobre o ocorrido. Mas numa mensagem escrita afirma que os assassinatos não tiveram motivações políticas. E que poderá ter-se tratado de um ajuste de contas pessoal. A polícia já afastou a hipótese de crime passional.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.