A Polícia de Moçambique, na Zambézia, desmente uma alegada tentativa de impedir a passeata, de bicicleta, do edil de Quelimane, Manuel De Araújo, com embaixadores que visitaram a cidade.
Publicidade
Manuel de Araújo, edil de Quelimane, circulava de bicicleta na tarde de quarta-feira, (03.11), pelas ruas da cidade na companhia de diplomatas do Canadá, Suécia e Finlândia. A passeata foi interrompida pelos agentes de lei e ordem que exigiram a apresentação de uma autorização legal para aquilo que alegaram ser uma manifestação.
A reação indignada nas redes sociais levou à convocação esta quinta-feira de duas conferências de imprensa. A primeira foi pelo partido da oposição, RENAMO, onde o delegado distrital, Latifo Charifo, deplorou a atitude da polícia e afirmou não compreender porque persiste este tipo de situações em Quelimane.
"A nossa pergunta é: o que é que está a acontecer com a nossa polícia? O secretário de Estado da Juventude e Desporto, Gilberto Mendes, fez uma passeata em Maputo com mais de 50 ciclistas e a polícia simplesmente aplaudiu. No dia 1, Dia da Juventude Africana, também houve uma passeata da OJM em Milange com mais de 50 motorizadas. A policia assistiu e aplaudiu. Porque é que aqui na cidade de Quelimane tem de acontecer isso?", indagou.
Publicidade
Ordem e tranquilidade pública
A segunda conferência de imprensa foi convocada pelo comando provincial da Policia da República de Moçambique (PRM) na Zambézia. O chefe das relações públicas, Miguel Caetano, desmentiu as acusações levantadas contra os agentes da ordem.
"De acordo com as redes sociais e as informações que estão a ser veiculadas, a policia tentou impedir esta atividade. A policia não impediu que o acontecimento tivesse lugar. Razão pela qual, por volta das 17 horas, a passeata decorreu com o devido acompanhamento da polícia. O principal objetivo da PRM é manter a ordem e a tranquilidade pública como é sabido. Em atividades que envolvem aglomerados de pessoas é necessário que haja uma comunicação às autoridades policiais", justifica.
"Atitude lamentável"
Já o analista Ricardo Raboco, ouvido pela DW África, critica o ocorrido. "É uma atitude lamentável", disse acrescentando: "Estamos a falar de corpo diplomático e da autoridade legalmente eleita", não se tendo tratado de uma manifestação política. "E quando se avalia a questão que o policia terá feito quando diz de quem seria a responsabilidade caso acontecesse algo a aqueles cidadãos estrangeiros, eu penso que esta questão é problemática", advertiu Raboco.
Nos últimos dois anos têm ocorrido situações semelhantes na Cidade de Quelimane, onde a policia tem abortado algumas marchas pacíficas.
Ainda em Quelimane, um grupo de estudante agendou para este sábado (6/11) uma marcha para reivindicar a devolução de dinheiro pago a uma instituição de ensino técnico-profissional, que funcionava ilegalmente há mais de dois anos. Os estudantes disseram que estão apreensivos, por recearem a atuação da polícia na manifestação.
Moçambique: Voluntários fazem reflorestação de mangal destruído em Quelimane
No bairro de Icidua, em Quelimane, foi criada a Associação de Amigos e Naturais de Icidua para responder à pressão humana sobre os mangais e mitigar os danos à vegetação com ações de conservação e gestão sustentável.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Plantação de mangais no bairro Icidua, em Quelimane
A iniciativa, que também pretende preservar as espécies marinhas, é uma forma de evitar a erosão e travar inundações que fustigam zonas residenciais com maré alta. O grupo vai plantar 1000 árvores, conhecidas como salgueiros. Os trabalhos começaram há uma semana e deve abranger várias zonas do bairro mais populoso de Quelimane, o Icidua.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Replantar para evitar o pior
O Icidua evidencia a realidade da tamanha pressão humana exercida sobre a natureza em Quelimane, com extensas áreas de mangal desertas. Os populares cortam os magais para fazer lenhas, carvão e até para a construção de casas em zonas proibidas -uma realidade que se repete em outras zonas da Zambézia. Há mais incidência em Sangarriveira, Janeiro e Torrone. A solução é a replantação.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Falta terreno para a construção de casas
Áreas de mangais em Quelimane estão ocupadas por habitações e de forma desordenada, embora o solo não seja o mais apropriado para a construção de casas. Os habitantes alegam que é difícil encontrar terrenos adequados para a construção de casas em Quelimane. Assumem os riscos de construir casas em terras húmidas, devastando a floresta de mangais.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Centro comercial do mangal abatido
O mercado de Ajante é o maior centro a nível de Quelimane, onde a população de renda baixa e média procede a compra e venda de material de construção de casas. A maior parte desses materiais é proveniente das plantas de mangal. As pessoas cortam mangais para vender e conseguir recursos para sobreviver.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Pequenas embarcações que transportam mangais
Para transportar mangais abatidos a outras regiões do interior e para o mercado no centro, utilizam as pequenas canoas. As espécies de mangais mais concorridas e que enchem sempre essas pequenas embarcações são Mucandhra e Mveze. O valor de Mucandhra é o dobro do preço de outras espécies, e ela é usada para a construção de casas. A venda a grosso, por canoa, custa cerca de 50 euros.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Destruir para sobreviver
Rodrigues Jacinto, de 47 anos, vive desta atividade desde quando era um adolescente. Jacinto conta à DW que esta é a sua única fonte de rendimento e assim sustenta a sua família. Ele passa noites a cortar mangais que chegam a três metros de comprimento e depois os transporta em canoas de Inhassunge até à feira - numa viagem de 24 horas.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Fecalismo a céu aberto é um risco às comunidades
Uma das práticas mais predominantes em bairros atravessados pelo mangal é o fecalismo. Muitos residentes que habitam naquelas zonas não possuem latrinas em suas casas.O conselho autárquico de Quelimane tem mobilizado recursos para a construção de latrinas, como forma de evitar que a população recorra aos mangais em caso das necessidades. Pelos vistos, entretanto, a prática ainda continua.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Nené Ribeiro coordena a iniciativa
Nené Ribeiro, de 64 anos, é funcionário do Conselho Autárquico de Quelimane. Ele explica que muitos confundem a iniciativa com um ato político-partidário. Ele salienta, no entanto, que o objetivo é proteger o bairro de inundações e proteger a biodiversidade. A associação não tem financiamento externo, funciona à base de contribuições dos seus membros.