O turismo fomentou o desenvolvimento da praia do Wimbe, na cidade nortenha de Pemba, mas também aumentou o preço dos produtos. Populações locais queixam-se da perda de poder de compra.
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Com 12 quilómetros de costa, a praia do Wimbe é o cartão-de-visita da chamada terceira maior baia do mundo, a Baia de Pemba, na província de Cabo Delgado. Aqui, as praias paradisíacas combinam a beleza da areia fina branca com a água cristalina e palmeiras autóctones. O clima convida ao mergulho e desfruto da gastronomia local.
Se por um lado a visita de turistas à praia do Wimbe, em Pemba, constitui uma oportunidade de negócio para os agentes económicos na zona, por outro é um pesado fardo para os residentes. Os habitantes do bairro Eduardo Mondlane, onde se localiza a zona turística, reclamam do custo de vida a que estão sujeitos devido à subida dos preços dos produtos.
Estes atributos conferem à praia do Wimbe o estatuto de um dos locais turísticos mais procurados em Moçambique por turistas e funcionários de organizações nacionais e estrangeiras, o que se traduz também na criação de um terreno fértil para o desenvolvimento de negócios por parte dos operadores turísticos. Humberto Nazaré, gerente de uma das estâncias a operar na zona há mais de 20 anos, descreve as visitas à praia do Wimbe como "importantes”, pois constituem o estímulo para o crescimento da sua empresa.
"Temos visitantes. Recebemos muita gente de fora e nacionais. Mas as organizações que cá estão sedeadas é que são o forte do movimento que temos no nosso estabelecimento”, frisa.
A opinião é partilhada por Henriques Rodrigues, outro operador de um estabelecimento na praia do Wimbe. "É vantajoso [praticar atividade comercial], porque aqui é como se fosse o cartão-de-visita da praia do Wimbe. Todo o turista que chega tem de visitar a praia do Wimbe. E tem muitos ganhos. O cliente quando chega aqui quer comer camarão, peixe, a comida de Cabo Delgado e, pronto, também temos alguns artesãos que vendem peças”.
O reverso da medalha
Apesar das vantagens que o turismo trouxe para a região, os locais também estão a sentir o reverso da medalha: se por um lado existem muitas oportunidades de negócio, por outro há um sentimento de sufoco por parte dos habitantes que lamentam o aumento do custo de vida em Pemba.
Os residentes das zonas circunvizinhas da praia do Wimbe dizem não ser concebível que produtos adquiridos localmente, principalmente o pescado, estejam a ser comercializados a preços considerados "inacessíveis”.
"Antes conseguíamos com 50 meticais [cerca de 0,70 euros] comprar peixe e comer. Mas agora, mesmo que sejam peixinhos, já não se consegue comprar nada com esse dinheiro”, comenta Abdul Gafur Selimane, que reside junto à praia de Wimba.
"O peixe aqui está muito caro, por isso tenho que me dirigir à praia em busca de moluscos para alimentar a família, uma vez que sou solteira”, diz Baina Imamo. "As coisas estão mesmo inacessíveis. A alternativa é verduras ou feijão cute”, acrescenta,
Turistas são quem mais beneficia
O sociólogo e docente universitário Abílio Lázaro Mandlate destaca que o "turismo tem oferecido uma grande oportunidade para o desenvolvimento de atividades económicas, particularmente na praia do Wimbe”.
"Infelizmente o que temos visto é que quem mais aproveita essas potencialidades são indivíduos que vêm do estrangeiro. Existe aquela perceção de que os estrangeiros têm poder de compra e, uma vez tendo o poder de compra, aqueles indivíduos que fornecem bens e serviços nas áreas turísticas mais frequentadas acabam por vender esses serviços a preços que só realmente eles podem pagar”, explica.
Como solução para o problema, o sociólogo salienta que é "necessário que o país se posicione no sentido de fazer do turismo uma atividade economicamente rentável, não só para aqueles indivíduos que fornecem os serviços, mas também viável para os turistas nacionais”.
Os coqueiros de Inhambane
O coqueiro é muito usado na província de Inhambane, no sul de Moçambique. Seja na construção de casas, salas de aulas, estâncias turísticas e até na gastronomia, esta palmeira garante o sustento de muitas famílias.
Foto: DW/L. da Conceição
"A vida começa assim"
O coqueiro dá novos horizontes principalmente aos jovens que não têm oportunidades de emprego depois de formados. Eles dedicam-se à construção de barracas (casas típicas da região) suportadas pelas ripas de madeira proveniente do coqueiro, cujas folhas são aproveitadas também para vedação dos quintais. As pessoas que vivem nestas condições habitacionais dizem que "a vida começa assim".
Foto: DW/L. da Conceição
Baixa produção
Inhambane chegou a transportar cerca de 1.500 toneladas de derivados de coco, mas nos últimos 10 anos as rendas baixaram e as plantações de coqueiro foram afetadas por pragas. Os cidadãos são prejudicados pelo encerramento de fábricas que tinham como matéria-prima aqueles derivados. O silêncio do Governo preocupa o conselho empresarial, que apela para o uso sustentável dos coqueiros.
Foto: DW/L. da Conceição
Água de coco
É um cartão de visita na região. Composta por vitaminas e sais minerais ricos em benefícios para a saúde, que vão da hidratação à prevenção de doenças, a água de coco é comercializada nos centros das cidades por mulheres oriundas dos subúrbios. Nas praias, é um excelente negócio para adolescentes e jovens. Os vendedores dizem que conseguem um rendimento médio de 10 euros por dia.
Foto: DW/L. da Conceição
De Inhambane a Maputo
José Alfredo, comerciante de coco desde a década 90 em Inhambane, mudou a rota do seu negócio ao Lourenço Marques, hoje Maputo (capital de Moçambique), para conseguir mais lucros. Conseguiu construir duas casas com material convencional e tem algumas cabeças de gado. E ele afirma que os seus filhos nunca deixaram de frequentar a escola.
Foto: DW/L. da Conceição
Fábricas de sabão e óleo
A província de Inhambane tem fábricas para o beneficiamento do coco, empregando cidadãos locais e alguns estrangeiros. Mas, os agricultores reclamam do preço baixo para a venda dos derivados de coco, que são exportados para países da África Austral, Europa, América e Ásia. Nos últimos cinco anos, quatro fábricas já fecharam as portas por falta de matéria-prima.
Foto: DW/L. da Conceição
"Vivo na casa de coqueiro"
Uma frase que todo visitante escuta dos residentes de Inhambane, principalmente os cidadãos com baixo poder aquisitivo. Essa casa alberga cinco pessoas num dos bairros suburbanos. Como forma de proteger a terra, tem-se emprestado o espaço para habitação, mas não se pode construir com material convencional.
Foto: DW/L. da Conceição
"Não tive outra escolha"
Zaqueu Guiamba, jovem que trabalha numa das serrações de madeira na região sul de Moçambique, diz que não teve "outra escolha" depois de concluir o ensino médio. Casado e pai de dois filhos, com este trabalho ele tem rendimento médio de 3 euros por dia - o que dificulta o seu futuro. Zaqueu ainda está de olho em novas oportunidades.
Foto: DW/L. da Conceição
Capela de coqueiro
Principalmente nas zonas rurais, onde muitos grupos religiosos professam cultos, as estacas, ripas, barrotes, madeira e macuti são usados para a construção. O custo do material é muito barato e os próprios fiéis são responsáveis nas reabilitações.
Foto: DW/L. da Conceição
Sura, a bebida do coqueiro
Sura é um líquido extraído das palmeiras e que dá origem a uma bebida alcoólica tradicional na região. Ele também é o ingrediente de bolinhos e pães de sura, que são vendidos nas paragens dos auto-carros. Muitas pessoas, principalmente mulheres, sobrevivem com este negócio. Visitantes desta região sempre provam a iguaria. Uma tradição antiga preservada pelo povo.
Foto: DW/L. da Conceição
Escassez de coco nos mercados
O preço do coco duplicou nos últimos anos e as vendedoras dizem que é devido ao abate constante dos coqueiros, que afeta a sua produção e, consequentemente, os negócios de quem vive desta palmeira. E os clientes reclamam da qualidade do coco, muito utilizado na gastronomia típica da região.
Foto: DW/L. da Conceição
Atração turística
Os coqueiros também servem o tursimo de Inhambane. Várias estâncias turísticas são construídas com as matérias provenientes do coqueiro, principalmente os troncos e as folhas, que são usadas para forrar o telhado.
Foto: DW/L. da Conceição
Bom negócio
Romao Wacela dedica-se ao negócio do tronco de coqueiro há mais de 10 anos na cidade de Maxixe. Ele vende tábuas para porta, barrotes, ripas e prancha. Por dia consegue arrecadar cerca de 10 euros e diz que "coqueiro dá bom negócio". O comerciante sustenta a sua família e ainda tem projetos em carteira para utilizar o coqueiro mesmo sabendo que não está fácil encontrá-lo para o abate.
Foto: DW/L. da Conceição
Indústrias encerradas
A falta de políticas para a produção do coco e a sua reposição levou o encerramento de algumas fabricas que operavam apenas com o material fornecido pelo coqueiro. Esta indústria pertence a um grupo de investidores sul-africanos, mas não funciona há mais de um ano, deixando dezenas de cidadãos sem emprego.