População critica aumento e lamenta a falta de aviso prévio da empresa pública sobre a alteração tarifária. Nos últimos cinco anos, o preço da energia em Moçambique já foi aumentado quatro vezes.
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A energia para os clientes de baixa tensão, em Moçambique, está mais cara desde o passado dia 1 de março. Os clientes da Empresa Pública Electricidade de Moçambique (EDM) passarão a pagar mais 21 por cento em função da quantidade de quilowatt-hora (kWh) de energia que consumirem.
Estão abrangidas pela medida as categorias doméstica, agrícola e geral. Mantém-se inalterada a tarifa praticada para a chamada categoria social, o escalão para os moçambicanos com menos posses.
Segundo a empresa pública Electricidade de Moçambique, o agravamento da tarifa visa permitir que a instituição possa prosseguir com os investimentos de expansão da rede eléctrica, que tem como objetivo colmatar o crescimento da procura e aumentar o acesso da população à energia elétrica.
A EDM diz ainda que o ajuste tarifário visa assegurar o equilíbrio financeiro, permitindo, assim, a continuidade de fornecimento de energia com qualidade e segurança.
Preço da energia volta a subir em Moçambique
População critica novo aumento
Os moçambicanos não estão satisfeitos. Consideram que os aumentos vão agravar as suas condições de vida e criticam o facto de não terem sido avisados previamente sobre as novas tarifas.
À DW África, Dércio Saraiva diz que "não faz sentido que o preço da energia aumente todos os anos" e acrescenta que "isso não vai ajudar" a população. Uma opinião partilhada também por Mário Laue que acrescenta que "com o preço da energia mais elevado, devia ser tomado em consideração o nível dos salários". Já para Albino Costa Machava, "o governo devia fazer alguma coisa para minimizar a situação", pois esta é uma alteração que vai "piorar a vida" de todos.
Preocupações que o Presidente da Associação para o estudo e defesa do consumidor, Proconsumer, considera legítimas. Em entrevista à DW África, Alexandre Bacião constata que "tem sido hábito das empresas que fornecem produtos e serviços básicos subirem os preços sem uma prévia informação". O que, acrescenta o mesmo responsável, "vem criar grandes transtornos na programação dos consumidores no que diz respeito ao seu orçamento familiar".
Sem aviso prévio
A Empresa Electricidade de Moçambique procedeu de forma discreta à alteração das suas tarifas, tendo apenas divulgado um aviso num jornal diário. Um comportamento ao qual o Presidente da Proconsumer aponta o dedo.
Para Alexandra Bacião, as associações de defesa dos consumidores deviam ser consultadas antes das subidas dos preços, principalmente quando se trata de serviços básicos. "[O aumento das tarifas] devia merecer uma concertação entre as empresas que fornecem esses serviços básicos e nós que somos de defesa do consumidor para fazer valer na letra e no espírito a lei de defesa do consumidor. O que acontece é que as empresas sobem taxas de serviços básicos ao seu belo prazer", critica.
Alexandre Bacião acrescenta ainda que este não é o melhor momento para esta alteração. "Era de esperar que este tipo de subida de preços de produtos, fundamentalmente de serviços básicos, acompanhasse aquilo que tem sido o reajustamento salarial", aponta.
Em Moçambique, o reajustamento dos salários tem sido feito anualmente, com efeitos a partir do mês de abril.
A dura vida dos trabalhadores informais de Moçambique
O trabalho informal é fonte de renda de muitos moçambicanos. Seja vendendo produtos ou serviços, a prática de atividades nas ruas é o ganha-pão de muitas famílias, mas impõe uma série de dificuldades e riscos.
Foto: DW/B. Jequete
Lavagem de carros
Por falta de emprego, muitos jovens decidiram atuar como empreendedores. Alguns ganham a vida a lavar carros nas ruas, bermas e esquinas da cidade de Chimoio, capital provincial de Manica. Muitas viaturas já não vão para as empresas que atuam no setor, porque os jovens oferecem o serviço a preços baixos, conquistando assim os clientes.
Foto: DW/B. Jequete
Água difícil de encontrar
Os lavadores de carros, que fazem do seu ganha-pão a atividade de lavar viaturas nas ruas, passam imensas dificuldades para encontrar uma fonte de abastecimento de água ou um poço tradicional. Percorrem longas distâncias para encontrar um local onde possam adquirir a água necessária para o trabalho, muitas vezes longe da zona de cimento.
Foto: DW/B. Jequete
Iniciate em ação
Salvador Manuel, de 26 anos de idade, diz ser novo na atividade de lavagem de viaturas nas ruas. "Eu não fazia nada, e um dia meu amigo convidou me para lhe ajudar a lavar carros aqui na cidade. Tive muita vergonha nos primeiros dias, mas tempos depois engrenei-me e agora já faço sozinho o trabalho," revela.
Foto: DW/B. Jequete
Odor desagradável
As principais ruas e avenidas da cidade ficam alagadas, resultado da lavagem das viaturas. Como não há sistema de esgoto, a água acaba formando pequenas poças que tendem a exalar um odor desagradável. O fato leva a edilidade a voltar as costas para os empreendedores. Caso sejam interpelados pelos fiscais, são aprendidos os materiais usados no trabalho como forma de desencorajar a prática.
Foto: DW/B. Jequete
Gravar a matrícula
Carlos Vasco, de 34 anos de idade, prefere dedicar-se à gravação da matrícula de viaturas e motorizadas. Ele diz estar a ganhar um "bom dinheiro" com o trabalho, suficiente para sustentar sua família. Há quem financie os estudos e outras necessidades com esta atividade. Alguns possuem formação académica, outros ainda estão a frequentar o ensino superior.
Foto: DW/B. Jequete
Roupas usadas
Em Chimoio, a roupa usada é vendida nos passeios, à beira das estradas e debaixo de árvores de sombra. Os empresários da urbe estão contra a atividade, devido à concorrência. "Na rua", os clientes também encontram boa roupa e a preço baixo. No entanto, quando os fiscais aparecem, recolhem toda a mercadoria – um risco diário para quem opta pela atividade.
Foto: DW/B. Jequete
Vender alimentos
Muitas vendedoras de alimentos alegam ter abandonado os mercados por "falta de movimento". Dizem que os clientes já não se fazem sentir nos mercados. Esta camada vende tomate, tubérculos, verduras, pepinos, feijões, entre outros produtos. A má conservação dos produtos atenta a saúde pública. Outro problema é que ocupam os passeios, obrigando os cidadãos a circular nas faixas de rodagem.
Foto: DW/B. Jequete
Vidas em risco
Produtos são vendidos também na via pública. Para além das principais artérias da cidade, muitos vão de estabelecimento em estabelecimento a oferecer os seus produtos, conquistando a clientela. Outros, caminham mesmo entre os carros, na esperança de encontrar os seus clientes em pleno trânsito e, ao mesmo tempo, colocando a própria vida em risco.
Foto: DW/B. Jequete
Recarga de telemóvel
A maior parte dos vendedores de cartões de recarga de telemóvel na cidade de Chimoio são adolescentes e jovens que perambulam pelas artérias da cidade. Muitos pernoitam nas ruas e trabalham sem folgas. Estão sempre atentos à chamada dos clientes, alguns destes automobilistas – o que tem gerado um número de acidentes.
Foto: DW/B. Jequete
À espera de um emprego
A atividade informal mais concorrida é o comércio - trabalho pelo qual optam, enquanto aguardam por um emprego formal. Muitos estão a investir o lucro para pagar os estudos, além do próprio sustento. Não é novidade encontrar um jovem com curso superior a vender nas ruas de Chimoio. Alguns têm vergonha de fazer o negócio e acabam se envolvendo em atos criminosos ou com as drogas.