Ministério da Saúde está a capacitar agentes de saúde para a campanha de vacinação contra a cólera, que deverá abranger quase 900 mil pessoas nas zonas afetadas pelo ciclone Idai. Vacinas já chegaram ao centro do país.
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O Ministério de Saúde de Moçambique pretende formar dentro de duas semanas cerca 884 mil agentes da saúde que vão administrar no terreno vacinas contra a cólera, após a passagem do ciclone Idai, na cidade de Beira e nos distritos de Dondo, Nhamatanda e Buzi.
A sessão de formação começou nesta segunda-feira (01.04), mesmo dia em que chegaram ao centro do país as doses de vacina que serão utilizadas na campanha.
A campanha de vacinação contra a cólera no centro de Moçambique é promovida junto com a Organização Mundial da Saúde (OMS), UNICEF e Médicos Sem Fronteiras. A meta, de acordo com o diretor-geral do Instituto de Saúde de Moçambique, Ilesch Jani, é abranger cerca de 884 mil pessoas nas próximas duas semanas.
"Vamos vacinar pessoas com mais de um ano de idade que residem nas zonas afetadas. É uma vacina de administração oral e é dada numa única dose", explica Jani.
Por enquanto, o tratamento de doenças diarreicas e cólera decorre num hospital móvel da Cruz Vermelha e em quatro centros de tratamento de cólera instalados nos centros de saúde de Macurungo, Munhava, Macuti e Manga.
Sensibilização
O Ministério da Saúde garante que há capacidade de resposta face à esta epidemia, que já fez uma vítima fatal no último fim de semana. O diretor nacional de Assistência Médica de Moçambique, Ussene Isse, anunciou que, paralelamente, haverá campanhas de sensibilização sobre medidas de prevenção e combate à cólera e a descentralização:
Moçambique prepara campanha de vacinação contra a cólera
"A nossa equipa está no terreno ainda a fazer a monitorizar diária. Esta é a nossa forma de trabalhar, continuar a monitorar esta situação na província e também reforçar a nossa capacidade como setor de resposta rápida e eficiente para reduzir o número de mortes".
Por seu turno, a diretora da Organização Mundial de Saúde para África (OMS) afirmou que se está a "posicionar" para ajudar o governo moçambicano a prevenir os surtos de doenças na Beira e evitar um colapso do sistema de saúde.
"Estamos a posicionar-nos para ajudar o governo [moçambicano] e os parceiros para isso. Temos de nos lembrar que, muitas vezes, os impactos em termos de doenças se devem mais ao colapso do sistema de saúde do que ao impacto direto da própria catástrofe", declarou Matshidiso Moet, após visitar o Centro de Controlo da Cólera instalado no complexo sanitário do bairro de Mucurungo, na Beira.
40 milhões de dólares no combate à cólera
Ussene anunciou também que cerca de 90% dos casos de cólera detetados depois do ciclone Idai no centro de Moçambique foram tratados com sucesso. A diretora regional da OMS, anunciou também um pacote financeiro de cerca de 40 milhões de dólares para os próximos três meses.
Segundo o último balanço epidemiológico apresentado esta segunda-feira, foram detetados até ao momento 1.046 casos, dos quais 949 foram tratados, 102 continuam internados, havendo a registar um óbito.
Zambézia: Centros para vítimas de inundações sob pressão
Milhares de desalojados pelas cheias e pelo ciclone na Zambézia, centro de Moçambique, vivem em centros de acomodação. A DW África constatou que faltam tendas e que os médicos estão preocupados com a saúde da população.
Foto: DW/M. Mueia
Visitas de rotina
Cerca de 20 médicos e especialistas deslocaram-se este sábado (30.03) aos centros de acomodação de Dhugudiua e Namitangurine - este último, onde há um maior aglomerado populacional refugiado das cheias na Zambézia. Os profissionais de saúde juntaram-se numa ação solidária para minimizar os problemas da população. A campanha é rotineira, para controlar eventuais surtos.
Foto: DW/M. Mueia
Problemas de saúde
Doenças respiratórias, malária e diarreias afetam muitas das vítimas das inundações refugiadas nos centros de acomodação de Namitangurine e Dhugudiua, distrito de Nicoadala. No centro de Dhugudiua, criado este mês, em média, são atendidos 30 pacientes por dia. A maioria apresenta estes problemas de saúde, segundo autoridades sanitárias.
Foto: DW/M. Mueia
Uma tenda para dez pessoas
Segundo as autoridades comunitárias dos centros de reassentamento, uma tenda abriga dez pessoas. A insuficiência de tendas agravou-se nas últimas semanas e as cheias na sequência do ciclone Idai colocaram ainda mais pressão sobre as instalações. O centro de Namitangurine recebe desalojados das inundações desde 2012. Acolhe atualmente mais de mil famílias.
Foto: DW/M. Mueia
Casas e bens destruídos
No centro de Dhugudiua, a cerca de 45 quilómetros da cidade de Quelimane, vivem cerca de 80 famílias, acomodadas em tendas. São, na maioria, crianças e mulheres que foram transferidas da zona de Musselo, depois de verem as suas palhotas e bens destruídos pela força das águas no início deste mês.
Foto: DW/M. Mueia
Infraestruturas de lona
Além de servirem de moradia para as vítimas das inundações, algumas das tendas nos centros de reassentamento funcionam como unidades sanitárias permanentes e outros serviços sociais.
Foto: DW/M. Mueia
Cozinha para todos
Os desalojados no centro de reassentamento em Dhugudiua partilham a mesma cozinha para confeccionar alimentos. No chão, os conjuntos de três pedrinhas separadas por 10 centímetros são fogões a lenha improvisados.
Foto: DW/M. Mueia
Falta proteína
Há comida suficiente, mas a alimentação não é a ideal no centro de Dhugudiua. Os desalojados dizem que recebem farinha, arroz e outros donativos de diferentes organizações e doadores singulares, mas não há peixe e o feijão não chega para todos os agregados familiares. O caril é feito quase sempre à base de verduras.
Foto: DW/M. Mueia
Mil litros de água
O abastecimento de água para tomar banho e lavar roupa e loiça é garantido por um tanque móvel de mil litros instalado no local.
Foto: DW/M. Mueia
Controlar as condições de higiene
No distrito de Nicoadala, há cerca de 20 ativistas destacados exclusivamente para controlar a higiene nos centros de acomodação. A missão é vigiar o tratamento da água utilizada pelas famílias, a limpeza das tendas e sensibilizar os moradores do centro para as boas práticas de higiene para evitar surtos de cólera e malária.
Foto: DW/M. Mueia
Uma vida de desespero
Apesar do apoio que recebem nos centros de reassentamento, muitas famílias dizem-se desesperadas: não têm como começar a reconstruir as suas habitações e regressar à vida normal. A maioria dos homens não tem emprego. Muitos viviam da carpintaria e da serralharia nos locais onde viviam e, aqui, não têm onde ir para pedir financiamento. As mulheres choram a perda das suas machambas.
Foto: DW/M. Mueia
À espera de terras
Nos centros de reassentamento, os desalojados aguardam a distribuição de terrenos. Muitos não perdem a esperança de serem colocados em zonas mais seguras, em áreas menos propensas a cheias, tal como prometeram as autoridades provinciais da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
Voluntários satisfeitos
Os médicos que se deslocaram aos centros de reassentamento nesta missão voluntária mostram-se satisfeitos pela adesão popular aos serviços prestados, principalmente de testes voluntários de HIV e malária. Os profissionais de saúde atenderam ainda pacientes com várias queixas,desde dores nas articulações a dores de barriga, e prestaram serviços de oftalmologia.