Com a previsão de chuvas acima do normal, Instituto Nacional de Gestão de Calamidades afirma estar preparado para inundações. Drones serão usados para facilitar o trabalho.
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Moçambique poderá registar chuvas com tendência acima do normal, na região sul e centro do país nesta época chuvosa que vai até março de 2018. As informações foram avançadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) e colocam mais um desafio às autoridades governamentais moçambicanas.
Como resposta, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) afirma que está pronto para agir face a eventuais situações de cheias, secas e ciclones. Todos os cenários já foram equacionados, pelo menos é o que afirma Ana Cristina, diretora do Departamento de Prevenção e Mitigação do INGC.
Moçambique quer usar novas tecnologias para amenizar efeitos da chuva
"O cenário um é composto por ameaças de pequena magnitude, como ventos fortes, descargas atmosféricas, inundações localizadas nas vilas e ainda secas. Já o cenário dois, no plano de contingência, prevê a combinação do cenário um para além da ocorrência de cheias nas bacias hidrográficas”, explicou a diretora do Departamento de Prevenção e Mitigação do INGC.
Uso inédito de drones
Para identificar áreas propensas a cheias para uma rápida intervenção, o Programa Alimentar Mundial (PAM) disponibilizou drones que vão sobrevoar áreas afetadas e facilitar o processamento da informação sobre as regiões propensas a ocorrência de cheias ou de ventos fortes. Esta vai ser a primeira vez que Moçambique vai usar estes equipamentos para auxiliar na recolha de informações de zonas de riscos ou já afetadas pelas chuvas.
Para o diretor geral do INGC, João Machatine, isso poderá colocar o país à prova no que diz respeito a capacidade previsional de preparação e de prontidão. Os equipamentos servirão de referência como resposta e recuperação rápida face às possíveis ocorrências de cheias, ventos fortes e inundações.
É que numa situação de emergência não basta ter informação, mas é preciso que ela seja necessária para que as decisões sejam acertadas.
"Os drones estão dotados de capacidade para drenar informação útil e precisa que permite agir com um menor risco de desvio possível. Para nós, os gestores de desastres, o uso de drones nas operações de emergência deve servir para a coleta de informação em tempo real, a avaliação rápida do impacto, a monitoria rápida da informação pública e a advocacia”, detalhou João Machatine.
Mesmo problema todos os anos
Vale lembrar que o país é vulnerável a estes cenários que estão a ganhar contornos alarmantes. Quando ocorrem desastres, a capacidade de responder de forma oportuna e eficaz é muitas vezes a diferença entre a vida e a morte.
"O uso de drones tem um potencial de apoiar a gestão de emergências de modo a fazer o uso da tecnologia que está a avançar rapidamente”, destacou Karim Manente, representante do PAM em Moçambique.
Outro cenário previsto quando há cheias em Moçambique é a resposta a dar a população afetada em termos de víveres.
Assim, o Conselho Técnico do INGC, refere que está preparado para assistência aos mais vulneráveis num programa que consiste no apoio social direto,"É um programa baseado essencialmente nas transferências monetárias que compreende questões de cheias num período de seis meses. E para questões de seca compreende um período de doze meses. O programa assiste todas as pessoas, desde que tenham sido abrangidas pelo apoio do INGC”, disse João Casimiro, membro do Conselho.
Refira-se que o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) está a fazer atualizações meteorológicas, na última semana de cada mês, desde outubro deste ano, fato que vai acontecer até janeiro de 2018.
O PAM também realçou que a situação de emergência em Moçambique será menos grave que a seca e as chuvas que assolaram o país entre outubro de 2016 e março de 2017, deixando mais de um milhão de pessoas em situação de necessidade urgente de assistência humanitária.
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.