Moçambique: Presidente Nyusi encontra-se com deslocados
Delfim Anacleto
14 de agosto de 2020
Em visita a Cabo Delgado, o Presidente Filipe Nyusi, garantiu às vítimas dos ataques armados, que as Forças de Defesa e Segurança estão a trabalhar para a regresso à normalidade dos distritos alvos de insurreição.
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Em Metuge, distrito que alberga vários centros de acolhimento de famílias deslocadas devido a ataques terroristas, Filipe Nyusi, assegurou nesta sexta-feira (14/08) que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estão empenhadas no terreno, com objetivo de estancar o clima de insegurança infligido pelos terroristas.
O Chefe do Estado moçambicano pediu aos deslocados a não perderem a esperança, porque, segundo ele, é isso que o inimigo precisa para se apropriar das riquezas.
Alguns deslocados que falaram com o estadista pediram ações rápidas para que a segurança volte às zonas de origem, para que possam retomar as suas atividades de produção.
Sofrimento
"Aqui estamos a sofrer muito. Estamos a dormir no chão. Uma criança de um mês está a dormir no chão", disse um dos deslocados.
Dirigido-se aos deslocados, o presidente moçambicano classificou a violência armada que assola o norte do país desde 2017 como "uma guerra que pretende dividir” os moçambicanos e pediu união para contrariar a intenção. "Não percam a esperança porque o país é nosso”, disse o Presidente. "Se nós perdermos a esperança eles querem ficar com o que é nosso.
Nyusi reiterou a sua convicção que esta é uma guerra que vou levada a Moçambique por forças externas. Já o tinha afirmado anteriormente numa rede social, onde escreveu: "Parte desta população saiu do distrito de Quissanga devido à guerra movida por pessoas que nos querem dividir por causa das nossas riquezas.”
Acusações de ingerência externa
Na celebração de contratos para a eletrificação de 15 postos administrativos em todo o país, Filipe Nyusi criticou a atitude de moçambicanos e estrangeiros que estariam a desrespeitar o sofrimento das FDS: "Lamentamos por aqueles moçambicanos, que bem protegidos, levam de ânimo leve o sofrimento de quem os protege, incluindo alguns estrangeiros que livremente escolheram viver em Moçambique mas que, em nome camuflado dos direitos humanos, não respeitam o sacrifício dos que mantém erguida esta jovem pátria, e garantir a sua estadia em Cabo Delgado e em Moçambique em geral”, disse o Presidente.
Os mercados-fantasma de Inhambane
Em Inhambane, no sul de Moçambique, o Governo tem construído vários mercados, mas poucos são utilizados. Os vendedores comercializam os seus produtos nas ruas e avenidas, alegando que os mercados não atraem os clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
O mercado que nunca funcionou
O mercado de peixe da vila de Vilankulo foi inaugurado este ano, mas ainda não começou a funcionar. Os vendedores fora do mercado desconhecem os motivos para o não funcionamento do estabelecimento. O mercado foi construído pela empresa sul-africana Vilcon, em parceria com a empresa PROPESCA, e custou aos cofres públicos o equivalente a pouco mais de 140 mil euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Lotação máxima
A União Europeia e o Governo da Suécia financiaram em 2017 a construção de um mercado grossista em Maxixe, que custou o equivalente a 290 mil euros. Foi inaugurado a 9 de setembro, período da campanha eleitoral. Mas, até agora, o mercado tem apenas nove comerciantes - apesar de todos os postos constarem como "ocupados".
Foto: DW/L. da Conceição
"As pessoas compram mais nas ruas"
Muitos vendedores ocupam as ruas e avenidas da província em busca do sustento familiar. Várias vezes são impedidos pelas autoridades municipais ou provinciais, mas voltam sempre para a via pública. Questionados sobre os motivos que os levam a abandonar os mercados erguidos pelo Estado, muitos afirmam que "as pessoas compram mais nas ruas" e "dentro dos mercados ninguém entra".
Foto: DW/L. da Conceição
Luta entre vendedores e automobilistas
A presença dos vendedores informais nas ruas gera conflitos com os automobilistas, que dizem que a ocupação desorganizada dos espaços acaba por reduzir as dimensões das avenidas ou das ruas, dificultando a circulação das viaturas e pessoas. Mas, para os residentes, o facto de os vendedores ocuparem os passeios não é problema - desde que estejam organizados.
Foto: DW/L. da Conceição
Investimento perdido
No ano de 2015, as autoridades distritais de Morrumbene construíram um mercado na vila sede como forma de abrigar os vendedores informais. Na altura, recorreram à polícia para obrigar os comerciantes que ocupavam as ruas a irem para o novo mercado. Mas o resultado é este: até hoje, o mercado da vila de Morrumbene encontra-se desocupado.
Foto: DW/L. da Conceição
Construído e abandonado
Centenas de bancas construídas pelo Governo em Inhambane são abandonadas pelos vendedores, que preferem disputar passeios com peões e automobilistas nos centros das cidades e vilas. Os comerciantes dizem que nunca abandonarão os passeios para entrar nos mercados. O Governo acaba por ceder à vontade dos comerciantes para evitar clivagens políticas.
Foto: DW/L. da Conceição
"Os mercados estão longe da cidade"
Alguns consumidores nas ruas de Inhambane afirmam que preferem fazer as suas compras fora dos mercados. Um dos motivos principais desta preferência é a localização dos mercados, que não facilita a deslocação diária dos clientes. Hansa Ismael, consumidora, diz que "os mercados estão longe das cidades e ninguém tem dinheiro para apanhar transporte todos os dias".
Foto: DW/L. da Conceição
Portas fechadas desde a inauguração
Desde que foi entregue em 2016, o mercado do peixe de Maxixe funcionou menos de um mês. Os utentes dizem que o mercado não é rentável, porque gasta muito com a energia devido aos congeladores para a conservação do peixe. As autoridades afirmam não ter dinheiro para ajudar nos custos. Por isso, as portas continuam fechadas e o peixe é vendido sem condições básicas de higiene.
Foto: DW/L. da Conceição
Milhões para construção precária
Os conselhos autárquicos têm construído nos últimos anos alpendres que funcionam como mercados para a venda de diversos produtos, mas nem sempre estes locais são usados pelos utentes. As obras custam acima de 2 milhões de meticais (30 mil euros), mas, por a construção ser precária, os mercados acabam degradados sem terem sido usados.
Foto: DW/L. da Conceição
Casas de banho não usadas
A construção dos mercados em Inhambane é acompanhada também pela edificação de casas de banho, que chegam a custar mais de 7 mil euros. Mas estes espaços nunca são usados. Analistas criticam o facto de o Estado gastar tanto dinheiro em projetos pouco rentáveis e sugerem que os fundos públicos sejam antes investidos na melhoria das vias de acesso e no abastecimento de água e energia.