No dia em que se celebram 26 anos de paz em Moçambique, o Presidente Filipe Nyusi anunciou para o próximo sábado (06.10) o início da desmilitarização, desmobilização e reintegração dos homens armados da RENAMO.
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Começa este sábado (06.10) o processo efetivo de desmilitarização, desmobilização e reintegração dos homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O anúncio foi feito pelo Presidente da República; Filipe Nyusi, na esteira das celebrações dos 26 anos de paz e reconciliação nacional: "Tenho o prazer de anunciar que, como está previsto no memorando de entendimento, com a Renamo, iremos lançar no próximo sábado, dia seis de outubro o início efectivo do processo de desmilitarização, desmobilização e reintegração."
O processo de desmilitarização segue-se a um memorando de entendimento entre o Governo e o maior partido da oposição. O chefe de Estado garantiu que já estão criadas todas as condições para o arranque deste processo. Filipe Nyusi disse que, até este sábado (06.10), estarão em Moçambique peritos de vários países, incluindo Alemanha, para presenciar este ato.
Presidente de Moçambique anuncia boas novas no dia da paz
"Queremos congratular os oficiais internacionais dos quais alguns dos seus embaixadores encontram-se aqui. Mas também queremos estender os nossos agradecimentos a todos os que trabalham neste processo", disse Nyusi.
No âmbito deste anúncio do desarmamento da RENAMO, o Presidente pediu a união de todos os moçambicanos e parceiros de cooperação para a preservação da paz: "A unirem-se a nós e de forma enérgica trabalhar para a erradicação de tudo o que atente contra a paz no nosso seio. Esta paz, cuja semente foi lançada há 26 anos, hoje pretendemos concretizar porque unidos somos mais fortes."
RENAMO comprometida com a paz
O maior partido da oposição moçambicana não confirma nem desmente a notícia. Em entrevista à DW África, André Madjibiri, mandatário da RENAMO, apenas prometeu: "Nós vamos nos pronunciar oportunamente, dê-me um tempo. O Presidente disse que há-de haver início de reintegração? Sim, sim e do desarmamento dos homens da RENAMO com a vinda de peritos."
Mas o coordenador interino da RENAMO, Ossufo Momade, reiterou que o partido está comprometido com a paz. Entretanto, Momade ameaçou usar os homens armados para intervirem nesta campanha eleitoral para responderem às alegadas agressões aos seus membros levadas a cabo pela FRELIMO, o partido no poder: "Perante estas barbaridades, os nossos membros e simpatizantes, pedem ao partido que ordene os "rangers" para intervirem em sua defesa já que a polícia não faz nada."
Desmantelamento de acampamentos em Cabo Delgado
No dia da paz em Moçambique, a polícia também anunciou o desmantelamento de acampamentos de indivíduos que semeiam terror na província nortenha de Cabo Delgado.
Segundo Bernardino Rafael, comandante geral da polícia, já foram detidos 280 indivíduos, mil casas foram queimadas e 90 pessoas morreram. "As forças de defesa e segurança já desativaram acampamentos de Naneia, Chitolo, Chingalola. Este último era tido como o maior e onde os malfeitores se subdividiram em pequenos grupos e são esses pequenos grupos que estão a criar alterações na ordem e segurança pública nos pontos referenciais", detalha Rafael.
Moçambique celebra os 26 anos de paz que foram assinados em Roma, capital da Itália, entre o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, e o falecido líder da RENAMO, Afonso Dlhakama.
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.