Em Moçambique, entraram em vigor novas medidas de prevenção contra o novo coronavírus. Eventos com mais de 50 pessoas estão proibidos. Mas como reduzir as aglomerações nos transportes?
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Um dia depois de Moçambique registar o primeiro caso do novo coronavírus, e depois de o Presidente Filipe Nyusi anunciar novas medidas para prevenir o contágio, os motoristas de transportes semicoletivos de passageiros, vulgo "Chapa 100", alertam para a situação no setor.
O Executivo proibiu eventos com mais de 50 pessoas. Mas, nos transportes, seria bastante complicado limitar o número de passageiros, afirma o motorista Joaquim Félix. Em Maputo, muitos veículos costumam andar a abarrotar, dado que há uma escassez crónica de transportes.
"É muito difícil, a não ser que o Governo procure políticas para estabilizar a situação que estamos a viver, e nós, como sociedade, vamos ver se vale a pena ou não", afirma o motorista Joaquim Félix.
Outro transportador, César António, refere que, pelo menos, há álcool para desinfetar o autocarro. "Deram-nos um líquido para, quando chegarmos aos terminais, passarmos os panos no corrimão", conta.
Os passageiros comentam que regras como o distanciamento de metro e meio entre as pessoas já são medidas quase impossíveis de cumprir na cidade - que o diga Dulce Machava: "Entramos muitos, enchemos carros, para prevenir não dá".
"Uso indiscriminado da cloroquina é prejudicial"
O especialista em saúde pública Hélder Martins avisou numa entrevista à televisão privada STV que, neste momento, a única forma de lutar contra a doença Covid-19 é cumprir com as recomendações do Governo.
"Esta não é altura de festas. Quem esteve para casar nestes dias, que adie, tem tempo para casar. Batizados, etc., tudo isso é para adiar. As pessoas têm de ver isso com alguma inteligência e um certo sentido de responsabilidade", defende.
A rotina de isolamento de cidadãos dos PALOP na Alemanha
04:39
Nas redes sociais, têm sido partilhadas mensagens referindo que a cloroquina, um medicamento anti-malárico que já não está em uso, é eficaz para curar a Covid-19. Mas o professor Hélder Martins alerta que o uso indiscriminado da cloroquina é prejudicial.
"Tomem cuidado. Não se ponham a tomar a cloroquina sem indicação para isso. Enquanto não houver validação dos estudos, é melhor considerar que a cloroquina não tem efeito nenhum porque não está provado coisa nenhuma", afirma o especialista.
Confiança nos moçambicanos
Hélder Martins tem fé que os moçambicanos cumpram as medidas de prevenção do Governo.
"A minha impressão, daquilo que tenho visto, é que a população moçambicana está a responder bem a estas medidas. Mas é preciso perceber que, a partir de hoje, temos que intensificar", apela o especialista em saúde.
Além de proibir eventos com mais de 50 pessoas, o Governo moçambicano decretou o encerramento de todas as escolas e a suspensão dos vistos de entrada no país para prevenir o contágio contra o novo coronavírus. Além disso, todos os viajantes passam a ser obrigados a ficar em quarentena domiciliária.
Transportes coletivos: Um perigo em Chimoio
Desde o "chapa" ao "my love", passando pelo autocarro: andar de transportes em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, significa correr riscos. Viaturas em péssimo estado e falta de fiscalização são rotina.
Foto: DW/B. Jequete
Latas em trânsito
É uma visão comum nas ruas da cidade de Chimoio: os dedos das mãos não chegam para contar as viaturas de transporte de passageiros que deveriam estar fora de circulação há muitas inspeções atrás. Mas os residentes não têm grande escolha e vêem-se forçados a andar em mini-autocarros como o da imagem - conhecidos por "chapas" - com portas que não fecham bem, pneus em mau estado e luzes avariadas.
Foto: DW/B. Jequete
Sentar é arriscado
No interior dos veículos, o cenário é idêntico. Os assentos em grande parte dos chapas já viram melhores dias. Além do desconforto, a situação chega a colocar os passageiros em risco: há mini-autocarros em que vão sentados em ferros, mesmo em viagens mais longas. E subir e descer dos transportes é muitas vezes sinónimo de chegar ao destino com a roupa rasgada devido às más condições dos bancos.
Foto: DW/B. Jequete
Famoso...e empoeirado
Além do risco de acidentes, há também ameaças à saúde dos passageiros. Em muitos chapas, as janelas deixaram de ser de vidro há vários quilómetros. A fita-cola usada para "remediar" não é suficiente para travar a poeira e a poluição. E as viagens são feitas a respirar este ar impuro.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos também nos transportes públicos
Os autocarros geridos pela autarquia também precisam de manutenção. O material escolhido para substituir este vidro foi a fita-cola, que serve também para remendar tejadilhos. Andar de autocarro público em época de chuva pode significar chegar molhado ao destino. E os passageiros questionam o trabalho de inspeção das autoridades, numa altura em que aumenta o licenciamento de viaturas obsoletas.
Foto: DW/B. Jequete
Uma frota degradada
Na paragem de transportes urbanos que fazem a rota Cidade-Bairro 5 e vice-versa, nenhum carro está em condições para o efeito. E todos passaram e passam de seis em seis meses a inspeção de viaturas e circulam sob o olhar dos agentes reguladores de trânsito. Alguns passageiros preferem andar a pé em vez de correrem riscos a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Verificar condições antes de arrancar
Os passageiros que continuam a arriscar viajar nos chapas degradados verificam as condições dos veículos antes de subirem a bordo. Se não oferecerem condições mínimas - especialmente no caso dos assentos - desistem e esperam pela próxima viatura.
Foto: DW/B. Jequete
Viagens de risco nos "my love"
Por falta de transportes em algumas rotas na cidade e na província, as viaturas de caixa aberta também fazem transporte de passageiros - uma atividade ilegal. Os chamados "my love" foram concebidos para o transporte de mercadorias. Não há qualquer tipo de segurança para as pessoas a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Sem condições? Sem problema
Engane-se quem pensa que não há fiscalização. Nenhuma viatura que faz o serviço de transporte de passageiros escapa às rondas dos agentes reguladores de trânsito. Mas a polícia fecha os olhos às más condições dos veículos e deixa passar os chapas, gerando muitas críticas entre a população, que questiona os critérios das autoridades. Em vez de sanções, só há extorsão, dizem os residentes.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos para todos os gostos
São inúmeras as soluções encontradas pelos proprietários para manterem os chapas em funcionamento: se os fechos já não funcionam, usam-se cordas, arames ou correntes - mas há casos em que as portas caem nas vias, impedindo a circulação. Se o veículo já não tem ignição, faz-se uma ligação direta, contrata-se alguém para empurrar ou estaciona-se numa rampa - colocando os passageiros em risco.
Foto: DW/B. Jequete
Novos autocarros são gota no oceano
O Ministério dos Transportes acaba de alocar para a província de Manica dez autocarros para o transporte público. Destes, apenas três vão para Chimoio, uma cidade com 33 bairros e mais de 300 mil habitantes.
Foto: DW/B. Jequete
Ministro promete mais
O Ministro dos Transportes, Carlos Mesquita, viaja com o governador de Manica, à direita, e o presidente da autarquia de Chimoio, à esquerda, momentos depois de fazer a entrega dos autocarros às empresas privadas que gerem os transportes. Mas não há lugares para todos nesta viatura com capacidade para 88 passageiros. O ministro promete mais autocarros para a província de Manica.
Foto: DW/B. Jequete
À espera de novas viaturas e novas regras
Além de mais veículos, o Governo promete outras medidas para regular o setor. Até lá, os "my love", os chapas e os (poucos) autocarros - mesmo degradados - são a solução possível para os residentes de Chimoio e da província de Manica.