Moçambique: Primeira morte por cólera confirmada na Beira
rl | Nélio dos Santos | Reuters | AP
1 de abril de 2019
A primeira morte por cólera após a passagem do ciclone foi confirmada este domingo. E número de casos da doença quase dobrou em relação aos últimos dias. Autoridades devem iniciar vacinação ainda esta semana.
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Em Moçambique, e quase duas semanas após a passagem do ciclone Idai, morreu este fim de semana a primeira vítima de cólera na cidade da Beira. A informação foi confirmada este domingo (31.03) pela Direção Nacional de Assistência Médica de Moçambique.
Segundo o diretor nacional de Assistência Médica de Moçambique, Ussene Isse, o número de casos confirmados da doença quase que duplicou em apenas dois dias. No sábado, haviam sido reportados na província moçambicana de Sofala 271 casos de cólera. Um número que subiu para 517 no domingo.
Moçambique: Primeira morte por cólera confirmada na Beira
Várias agências internacionais estão em Sofala para ajudar as autoridades moçambicanas no combate da doença. David Wightwick, líder da equipa da Organização Mundial da Saúde (OMS) na cidade da Beira, explica que o foco é o controlo do surto.
"Vamos tratar todos os casos de diarreia como se fossem suspeitos de cólera. Os casos muito graves serão encaminhados para os centros de tratamento que estão a ser instalados. Muitos destes centros já estão em funcionamento".
Surto
O primeiro caso de cólera foi detetado na cidade da Beira na passada quarta-feira. E, menos de uma semana depois, foram já confirmados 517 casos, o que faz deste um surto em rápida expansão.
A ajuda internacional é por isso cada vez mais urgente. E continua a chegar de vários países, desde Portugal, à França e Estados Unidos. Também nos próximos dias, devem chegar ao país 12 médicos e enfermeiros vindos de Cabo Verde.
O Governo chinês já enviou para a cidade da Beira uma equipa de médicos para a assistência às vítimas. Este domingo, os profissionais começaram já a pulverizar com sprays anticólera vários locais.
Wang Shenguin é o porta-voz da equipa médica chinesa e disse que a "situação é muito má". "O nosso Governo preocupa-se, está muito preocupado com a situação aqui na Beira. E como a China tem uma boa relação com África, decidiu enviar para cá alguns médicos".
Vacinas
Nesta segunda-feira, anunciou a OMS, chegarão a Moçambique 900 mil vacinas orais contra a cólera, que devem começar a ser administradas na população ainda esta semana.
O ciclone Idai, que atingiu o centro de Moçambique no passado dia 14 de março, fez até à data 501 vítimas mortais. No entanto, e ainda que tenha sido concluída na semana passada a fase de salvamento e resgate das vítimas, as autoridades continuam a alertar que este é um número que pode vir a subir. O total de pessoas afetadas pelo Idai voltou a crescer no último sábado, totalizando 843.723.
Beira: Vida difícil após ciclone Idai
A Beira foi a cidade moçambicana mais afetada pelo ciclone Idai. Milhares de pessoas ficaram desalojadas e agora a vida está bastante mais cara. Autoridades apelam à solidariedade de todos para reconstruir a região.
Foto: DW/A. Sebastião
Beira após ciclone
O ciclone Idai destruiu mais de 90% da cidade da Beira, no centro de Moçambique, segundo a Cruz Vermelha. Milhares de pessoas ficaram desalojadas. Muitas estão em centros de acomodação, outras refugiaram-se em edifícios no centro da cidade. Estas famílias viviam no bairro pesqueiro da Praia Nova, inundado pelas águas, e refugiaram-se aqui.
Foto: DW/A. Sebastião
Medo de doenças
Aqui, nos escombros de um edifício onde havia uma loja de colchões, vivem mais de 180 pessoas, incluindo crianças. Dormem em cima de plásticos, sem redes mosquiteiras. E o risco de contrair malária é grande. As autoridades locais estão preocupadas com a possível eclosão de doenças, também por causa das águas paradas e da falta de saneamento básico. Foram confirmados cinco casos de cólera na Beira.
Foto: DW/A. Sebastião
À espera de realojamento
Elisa morava no bairro da Praia Nova e vive agora na antiga loja de colchões. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) prometeu realojar as pessoas que aqui estão, e chegou a registar os seus nomes, conta Elisa. Mas, até agora, ela e os outros continuam à espera.
Foto: DW/A. Sebastião
Começar do zero
Pedro vende produtos alimentares: arroz, bolachas, sal, tomates. Mas perdeu toda a sua mercadoria com o ciclone Idai. Como este comerciante, muitos outros habitantes da região perderam as suas fontes de rendimento - na agricultura, por exemplo. A ONU pede apoios para estas pessoas. Pedro tinha uma pequena poupança e, entretanto, já conseguiu comprar produtos para vender na Praça do Município.
Foto: DW/A. Sebastião
Vida mais cara
Os preços dos alimentos e dos materiais de construção subiram depois da passagem do ciclone Idai. E as filas são grandes para comprar produtos básicos como arroz, farinha ou óleo alimentar. Nos centros de acomodação, as vítimas do ciclone alertam que a comida não chega. Uns conseguem arranjar comida distribuída pelas autoridades ou por parceiros, outros não.
Foto: DW/A. Sebastião
Especulação de preços
O preço do tomate aumentou para quase o triplo do habitual. Antes, um quilo rondava 70 meticais (quase um euro); agora, pode custar entre 180 e 200 meticais (2,80 euros). As vendedeiras alegam que os fornecedores aumentaram o preço da caixa de tomate. As autoridades avisam, no entanto, que, se alguém for apanhado a especular preços, será punido com "mão dura".
Foto: DW/A. Sebastião
Reconstrução
Depois da passagem do ciclone Idai, o edil Daviz Simango disse em entrevista à DW que a Beira se tornou uma "cidade fantasma". Segundo Simango, recuperar a cidade e voltar à normalidade é um "desafio enorme". O Governo moçambicano apelou esta quarta-feira (27.03) ao setor privado, à sociedade civil e aos parceiros internacionais para continuarem a apoiar a reconstrução da região afetada.