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"Problemas do IGEPE são muito mais graves"

31 de janeiro de 2017

Auditoria do Tribunal Administrativo revelou irregularidades em empresas participadas pelo Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE). Jornalista Fernando Lima diz que os problemas são ainda mais profundos.

Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM) é uma das empresas com participações do IGEPE e do Estado moçambicanoFoto: EMATUM

A auditoria ao Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), citada pelo jornal moçambicano "A Verdade", revela violações de regulamentos, má gestão e falta de transparência em várias empresas participadas pela instituição.

Mas o analista moçambicano Fernando Lima considera que o Tribunal Administrativo faz uma mera "análise legalista". Em entrevista à DW África, o diretor do semanário "Savana" diz que o caso pede também uma intervenção de fundo por parte das autoridades e de natureza política.

"Problemas do IGEPE são muito mais graves"

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DW África: Uma investigação a esta instituição muito próxima ao poder político é realista?

Fernando Lima (FL): Ao IGEPE tem ido parar tudo o que é lixo, mas também tudo o que é lucro, tudo o que é Estado. E há uma grande indefinição em relação à carteira das participações do IGEPE. Isto leva a que este instituto tenha grandes problemas institucionais – por exemplo, tem que mostrar musculatura em relação aos Ministérios da tutela sobre determinadas empresas que ou eram tuteladas ou, na prática, ainda são tuteladas por Ministérios.

O Tribunal Administrativo faz uma análise legalista dos problemas que o IGEPE enfrenta, mas os seus problemas são muito mais graves e profundos do que aquilo que o tribunal inventaria. Portanto, é preciso uma intervenção de fundo e de natureza política em relação ao IGEPE. Ou seja, ou o IGEPE tem mãos livres para atuar e faz uma gestão económica em relação às suas participadas ou é mais outro dos instrumentos políticos à disposição do Governo para fazer um arremedo de gestão económica de empresas participadas pelo Estado.

DW África: Acha que o Estado moçambicano tem interesse em mudar isso, uma vez que, segundo o documento do Tribunal Administrativo, há mais de quinze anos que o IGEPE lida com empresas problemáticas?

Fernando Lima: "Muitos dos gestores apontados pelo IGEPE são claramente fretes políticos"Foto: DW

FL: Sim e não. Os sinais que vêm do Governo são no sentido de haver maior liberdade em relação ao IGEPE – mais autonomia e mais decisões de caráter económico. E, nos últimos tempos, muitas dessas prorrogativas e indicações têm vindo do próprio primeiro-ministro. Mas são apenas indicações de natureza verbal em tomadas de posição públicas. Agora, em relação àquilo que acontece na prática, não me parece que algo tenha mudado substancialmente. Mais - muitos dos gestores apontados pelo IGEPE para as várias participadas são claramente fretes políticos, porque o instituto tem que acomodar uma série de indivíduos, que ou são ex-ministros ou prestaram serviços ao partido – portanto, tem pressões para acomodar essas pessoas no aparelho económico. É isso que tem feito ao longo dos últimos anos.

DW África: Por que falham tantos projetos e investimentos em Moçambique?

FL: Porque muitos dos projetos não são concebidos com a racionalidade económica que deveriam ter. Não vamos falar sequer dos projetos que estão na ordem do dia e de que todo o mundo fala, mas podemos falar, por exemplo, de projetos sobre cana-de-açúcar ou jatropha – eu não conheço nenhum projeto de jatropha que teve sucesso em Moçambique. Todos foram à falência. Muitas vezes não há clareza em relação aos próprios projetos, e o IGEPE é chamado a intervir quando, em primeira mão, nunca teve uma palavra a dizer sobre esses mesmos projetos.

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