Moçambique: Processo de DDR é lançado em Inhambane
Lusa
1 de dezembro de 2020
Mais 170 guerrilheiros da RENAMO começaram a ser desmobilizados no sul de Moçambique. Com este novo grupo, quase 1.500 membros do braço armado do partido já foram abrangidos no âmbito do processo de paz.
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Mais 170 guerrilheiros do braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição em Moçambique, começaram a ser desmobilizados esta segunda-feira (30.11) na base de Mabote, na província de Inhambane, sul do país. Este grupo junta-se ao processo de desmilitarização, desarmamento e reintegração (DDR), em curso no país, que já reintegrou 1.470 guerrilheiros.
"Encoraja-nos saber que este processo vai de acordo com o planificado", referiu André Majibire, secretário-geral da RENAMO e membro da comissão mista que acompanha o processo.
"Tudo está a correr como nós prevíamos e queremos aproveitar este momento para apelar a todos os combatentes, mesmo a aqueles que se desviaram deste rumo, para abraçarem este processo", acrescentou, numa alusão aos dissidentes que têm feito ataques armados contra civis no centro do país.
O processo de desmobilização na base de Mabote, situada na província de Inhambane, teve início na sexta-feira passada (27.11). O encerramento surge no âmbito do acordo de paz celebrado em 2019 entre o Governo e a RENAMO.
Depois de um arranque simbólico no ano passado, o processo de DDR esteve paralisado durante vários meses, tendo sido retomado em 4 de junho.
Os últimos dados do enviado pessoal do secretário-geral da ONU para Moçambique, Mirko Manzoni, indicavam que até outubro 25% dos 5.221 guerrilheiros da RENAMO tinham sido desmobilizados, tendo sido encerradas várias bases militares daquela formação no centro de Moçambique.
Ajuda internacional
A Suécia prometeu desembolsar 30 milhões de coroas suecas (quase três milhões de euros) para apoiar a implementação do Acordo de Paz e Reconciliação em Moçambique. "Com este apoio, esperamos contribuir para uma implementação sustentável do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional de Maputo", referiu Mette Sunnergren, embaixadora da Suécia em Moçambique, numa divulgada esta segunda-feira.
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A Suécia torna-se, assim, no décimo contribuinte ao fundo comum, depois da Suíça, União Europeia, Irlanda, Canadá, Noruega, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Finlândia e Botswana.
O acordo de paz em Moçambique foi assinado em agosto de 2019 pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e pelo presidente da RENAMO, Ossufo Momade.
Apesar de progressos registados, nomeadamente a assinatura do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional em agosto de 2019, um grupo de dissidentes, a autoproclamada Junta Militar da RENAMO, tem feito ataques armados que já provocaram a morte de 30 pessoas.
A Junta liderada por Mariano Nhongo, antigo líder de guerrilha, contesta a liderança do partido e as condições para a desmobilização decorrentes do acordo de paz.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.