Por causa da prostituição infantil muitas crianças estão a abandonar a escola em Inhambane. A procuradoria local diz que tem conhecimento e já está a trabalhar para combater o problema, mas não especifica as medidas.
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A prostituição infantil na província de Inhambane, sul do país, acontece sobretudo nos distritos de Govuro, Inhassoro, Vilankulo, Massinga, Maxixe e Homoine. As autoridades calculam que centenas de menores, com idades entre os 12 a 16 anos, têm recorrido a esta prática para ganhar algum dinheiro e muitos acabam por abandonar a escola.
Uma jovem que pediu para não ser identificada contou à DW África que se começou a prostituir há sete anos, quando tinha apenas 13 anos. Foi através de uma amiga que trabalhava com a tia no mesmo negócio sexual, no distrito de Maxixe.
Mas agora, por causa da crise que se vive em Moçambique, os clientes pagam menos. Se antes cada sessão custava 500 meticais (cerca de 6 euros), hoje em dia só querem pagar 200 meticais (3 euros) ou menos.
"Os clientes não aceitam pagar 500 ou 400 meticais, só apenas 200 ou mesmo 100 meticais, dinheiro que nem chega para comprar nada porque temos muitas despesas a realizar com o valor da prostituição. Tentamos reclamar, mas ninguém aceita pagar", conta a jovem.
E os motivos para enveredar por este ramo são justificados por ela: "Fazemos para combater a pobreza e ter algo para comer e comprar sabão para banho. O melhor dia é quando consigo atender 6 a 7 homens."
Prostituição impulsionada pela famíliaMuitas vezes são os próprios familiares que obrigam os menores a prostituir-se. Outra jovem, agora com 19 anos, contou à DW África que foi uma tia que a levou para a vila turística de Vilankulo. Por isso, acabou por abandonar a escola que frequentava no distrito de Govuro.
Moçambique: Prostituição infantil é um problema em Inhambane
Conta que nos últimos três anos muitos homens que procuraram os seus serviços pediram para ter relações sexuais desprotegidas, sem uso de preservativo, e prometeram pagar o dobro. Mas a jovem não aceitou porque tem consciência das consequências futuras e já viu amigas a perderem a vida por causa de doenças.
"Há pessoas que aparecem a dizer que não querem preservativos, mas como usamos nos nossos serviços temos que insistir. E se não quer, deixa e leva teu dinheiro", diz ela.
Procuradoria fala em medidas, mas não especifica quais
O procurador adjunto provincial de Inhambane, José Ernesto, disse à DW África que a sua instituição tem conhecimento da prática da prostituição infantil nesta região. Por isso, estão a trabalhar com outras organizações do Estado e também privadas para fazer cumprir a lei.
"Temos conhecimento desta prostituição infantil e da violência sexual de menores. Temos tomado medidas, e já se sabe que a procuradoria tem a função de fazer cumprir a lei e instar as outras instituições também para conformarem com a lei", afirma José Ernesto.
O procurador adjunto provincial de Inhambane não avançou, no entanto, que medidas estão a ser tomadas em concreto.
Ernesto lembra que este ano foi detido um cidadão estrangeiro no distrito de Vilankulo que usava crianças, entre os 6 e os 12 anos, como escravas sexuais e que vai ser julgado por violação de menores. Não se sabe ainda a data do julgamento.
"Está detido, indiciado de mais de um crime de violação de menores. É um caso que foi detetado pelas autoridades, ele vai responder com pena de 20 a 24 anos agravados nos termos do artigo do Código Penal".
Custo de vida aumenta em Inhambane
Em Moçambique, a crise económica afetou a vida de comerciantes e clientes, que reclamam dos altos preços. Saiba como os moçambicanos na província de Inhambane, no sul do país, sobrevivem apesar da crise.
Foto: DW/L. da Conceição
"Estamos cansados"
Os moçambicanos e, em particular, os residentes da província de Inhambane, estão ansiosos para ver o fim da crise financeira que o país atravessa, também relacionada com a desvalorização do metical, a moeda local. Manuel Santos, um vendedor de chinelos femininos nas ruas da cidade de Maxixe, conta-nos que está cansado de passar horas a trabalhar debaixo do sol, exposto a vários perigos.
Foto: DW/L. da Conceição
Buscar sustento para a família
António Macicame, residente de Inhambane, fabrica cestos de palha para conseguir algum dinheiro que o permita sustentar a sua família. São ao todo cinco pessoas. Ele diz que não tem sido fácil conseguir vender os seus cestos e por isso circula nas ruas e avenidas para conquistar os clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
Onde estão os clientes dos supermercados?
Os clientes desapareceram das lojas e supermercados nestes últimos anos devido ao elevado custo de vida. As compras diminuíram consideralvemente e os supermercados são apenas frequentados pelas famílias quando fazem compras para cerimónias especiais. Muitos preferem comprar nas ruas.
Foto: DW/L. da Conceição
Roupas em segunda mão
Em várias partes da cidade, nos passeios e nas calçadas, há roupas em segunda mão à venda. Por causa do aumento dos preços das roupas importadas da Europa e Ásia, os habitantes de Inhambane passaram a frequentar menos as boutiques modernas, comprando mais roupas usadas. Uma peça usada pode ser vendida por menos de um euro. Já nas boutiques, o preço mínimo é de 10 euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Menos pão na mesa
Também várias padarias estão vazias e sem clientes nos balcões. Muitas famílias têm optado por consumir produtos mais frescos e nutritivos, como a mandioca e a batata doce, substituindo o pão na mesa, por estar cada vez mais caro.
Foto: DW/L. da Conceição
Os vários preços do frango
O frango ainda é o prato preferido de muitas pessoas na província de Inhambane, mas os preços variam. O preço mínimo é de cerca de 280 meticais e nas zonas rurais chega a custar 400 meticais, ainda vivo. Preparado nos restaurantes, um prato de frango custa no mínimo 500 meticais. Jovens e senhoras viram uma oportunidade de negócio em vender frangos vivos para terceiros nas ruas e quintais.
Foto: DW/L. da Conceição
Compra-se menos
Devido à crise, compra-se menos produtos de primeira necessidade nas várias comunidades circunvizinhas às cidades. Antes, as viaturas que partiam voltavam cheias, mas atualmente poucos comerciantes vão até às cidades para fazer grandes compras.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise na hotelaria e turismo
A hotelaria e o turismo têm sido fundamentais para o desenvolvimento. O Governo moçambicano afirma que houve melhoras nos últimos dois anos. Mas, na realidade, o cenário que se nota é de um fraco número de clientes. Há hotéis que não recebem mais de dez hóspedes no período de um mês - mesmo oferecendo preços promocionais. Por isso, acabam por demitir muitos dos seus trabalhadores.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise nos transportes
Muitas pessoas já não viajam com regularidade. Hoje, delega-se alguém de confiança até mesmo para se receber os salários nos distritos onde não há bancos. O objetivo é poupar o dinheiro dos transportes. Os transportadores, por sua vez, dizem que as suas receitas diárias baixaram em 50%.
Foto: DW/L. da Conceição
Salões de beleza vazios
Salões de beleza tem sido caraterizados pelo fraco movimento de clientes. O aumento do custo de vida - e também dos preços de produtos de beleza - afetou a vida de muitas mulheres. Elas poupam dinheiro para comprar produtos da primeira necessidade e já não frequentam salões de beleza como antes. Para essas mulheres o dilema é: comer ou viver de beleza?
Foto: DW/L. da Conceição
"Não é tempo de cruzar os braços"
Cecília Jasse vende bolinhos e pão, juntamente com outras senhoras no mercado central na cidade de Maxixe. Enquanto o seu marido é trabalhador sazonal numa empresa, ela compra pão numa das padarias locais para revender. Acorda de madrugada para fritar bolinhos e diz que não quer ficar em casa à espera do marido. Para ela, "não é tempo de cruzar os braços".