Há oportunidades para o empresariado nacional na exploração dos hidrocarbonetos, garante Nuno Uinge que já opera no setor. Mas o empresário adverte que as firmas têm de estar bem preparadas e investir na formação.
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Quando se fala da exploração dos recursos naturais em Moçambique é só das grandes multinacionais que se ouve dizer. E as empresas nacionais onde ficam nesta janela de oportunidades? Quase nada se sabe sobre o seu envolvimento, mas há alguns empresários, mesmo que em parceria com estrangeiros, estão já a tirar vantagens neste setor. Tal é o caso de Nuno Uinge, empresário moçambicano, através da empresa Energy Works. A DW África conversou sobre o assunto com ele:
DW África: Há oportunidades para as pequenas e médias empresas se alavancarem e também contribuirem para o desenvolvimento do país neste setor?
Nuno Uinge (NU): Existem muitas oportunidades para as pequenas e médias empresas nacionais poderem participar. Mas pelo que vejo não depende só da vontade ou do querer, as empresas têm de se preparar bastante, porque estes são setores que exigem tecnologia e então as empresas que quiserem operar nesse sentido têm que estar à altura. E também há uma série de standards exigidos internacionalmente em relação à segurança e higiene no trabalho, ambiente e certificação de qualidade e quem não se preparar para isso não consegue lá chegar. E em Moçambique, o Governo abriu algumas portas através da legislação que foi aprovada nos últimos tempos que dão passos com vista ao aproveitamento dessas oportunidades. Está em curso a aprovação da lei do aproveitamento do conteúdo local.
Há lugar para o empresariado nacional nos hidrocarbonetos?
DW África: Falou em conhecimento, como em Moçambique a exploração destes recursos ainda é algo novo isso significa que numa primeira fase parcerias com empresas internacionais seriam a solução?
NU: Ninguém no mundo pode dizer que está suficientemente preparado, porque a gente vê que a cada dia que passa há novas descobertas cientificas, há novas aplicações, novas exigências, então todos nós temos de aprender. Vejo em grandes empresas concursos complexos, as empresas se juntam, cada empresa sabe que sozinha não pode fazer nada. Então, nós moçambicanos não podemos nos sentir inferiores em relação a isso. Não temos referências do passado, mas havendo vontade podemos muito bem, por via de parcerias com outras empresas.
DW África: Quais são os desafios para as empresas locais que terciarizam serviços para as grandes multinacionais, no caso concreto das mineradoras e petrolíferas?
NU: O primeiro desafio é o próprio país, Moçambique tem de investir no fator humano. Tem de haver um grande investimento consistente em relação as pessoas formadas em Moçambique, essa é a base para qualquer sucesso. Em relação às empresas têm de incluir nos seus programas a formação do seu pessoal.
DW África: O setor dos recursos minerais está ainda muito dominado pelo Governo. Já há uma ponte sólida estabelecida entre o Governo e o setor privado?
NU: O Governo, através da legislação que criou, abriu as portas. E nós como moçambicanos, dependendo do conhecimento e experiência que temos, temos a liberdade de requerer as licenças e pelo que sei, sinto e vejo o Governo não tem dificultado muito isso. Muitas vezes o que acontece é que as pessoas têm as licenças e ficam sentadas em cima delas, ou porque não têm recursos financeiros ou conhecimento para poderem prosseguir com o processo. E depois, passado algum tempo, o Governo volta levar [as licenças]. Mas posso dizer com garantias que não sinto que o Governo esteja a impedir o que quer que seja aos nacionais. Agora, o problema está no desconhecimento, falta de recursos e por aí fora.
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.