Queimadas descontroladas devastam florestas em Sofala
Arcénio Sebastião (Beira)
3 de outubro de 2018
As autoridades moçambicanas estão preocupadas com as queimadas descontroladas na província central de Sofala. As queimadas são uma das principais causas da devastação das florestas da região.
Floresta queimada na província de Sofala, MoçambiqueFoto: DW/A. Sebastiao
Publicidade
Só no ano passado, as queimadas descontroladas destruíram mais de 10.000 hectares de floresta na província central de Sofala, uma área equivalente a cerca de 14.000 campos de futebol.
Filipe José, de 48 anos, mora no distrito de Maringuée viu recentemente a sua casa ser reduzida a cinzas. Presume-se que o fogo tenha começado por causa de uma queimada no distrito vizinho de Gondola.
A maior parte dos seus pertences foi consumida pelas chamas: "Cama, mala, dinheiro também. Eu estava a fazer negócio de peixe seco, também estava aí dentro. Tudo isso [ficou queimado]. [O fogo] queimou roupas, esteiras e tudo. Não tirei nada aí de dentro".
Queimadas descontroladas devastam florestas em Sofala
This browser does not support the audio element.
O número de queimadas descontroladas tem diminuído nos últimos anos. Mesmo assim, em 2017, a Direção Provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural registou mais de oito mil queimadas.
A caça furtiva e a limpeza das áreas para cultivo ou para permitir a regeneração de um novo capim para a pastagem de gado, são apontadas como as principais causas para as queimadas descontroladas. Os fogos chegam, às vezes, a atingir uma extensão de mais de 20 quilómetros.
Mão criminosa?
Francisco Oliveira vive da agricultura e diz que, por trás de muitas queimadas, há mão criminosa e lembra que "já é altura de irmos a machamba, alguns queimam para fazer machambas, além de outros cuidados. Do nada chegam, queimam cometendo crimes. Aqui perto uma moagem e celeiros cheios de milho arderam. Então, é prejuízo que estão a causar".
As autoridades governamentais estão preocupadas e têm feito palestras para alertar as comunidades para o perigo das queimadas, além de divulgarem técnicas de combate aos fogos. Além disso, vão ser criados grupos de gestão de recursos naturais, para sensibilizar a população e prevenir queimadas descontroladas.
Parque Nacional da Gorongosa: uma história de sucesso
Depois de dizimado com a guerra civil moçambicana, muitos desistiram de recuperar a vida sevagem do parque. Mas uma fundação apostou na recuperação. O maior parque de vida selvagem do país é hoje exemplo de prosperidade.
Foto: Gorongosa National Park/Clive Dreyer
Só, nunca mais
O Parque Nacional da Gorongosa tem uma história turbulenta. Até há uns anos, este leão poderia sentir-se solitário, mas entretanto a população de leões cresceu. Hoje o parque tem uma área de mais de 4.000 quilómetros quadrados, com uma zona tampão adicional de 3.300 quilómetros quadrados. Uma relíquia num país de 25 milhões de habitantes.
Foto: Gorongosa National Park/Ticky Rosa
Paisagem de perder de vista
O parque está localizado no extremo sul do Grande Vale do Rift, que vai desde a Etiópia, Quénia e Tanzânia, antes de terminar em Moçambique. Esta característica geológica única cria um enorme vale cercado de planaltos. No geral, cerca de dois terços do vale são constituídos por savana, 20% são pastagens e o restante é área de floresta.
Foto: Gorongosa National Park/James Byrne
Memória de elefante
Embora parte da área do parque tenha sido reservada para zona privada de caça, em 1920, as autoridades coloniais portuguesas criaram o parque nacional até 1960. Depois da guerra de libertação, Moçambique tornou-se independente em 1975. Seguiu-se a guerra civil que terminou em 1992. Alguns elefantes mais velhos estão ainda traumatizados pelo conflito.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
Dias sombrios do parque
Em 1977, dois anos depois da independência, Moçambique mergulhou numa violenta guerra civil. O parque foi duramente afetado. A Resistência Nacional Moçambicana instalou o seu comando central numa zona do parque. As duas partes em conflito dizimaram animais para alimentação e tráfico de marfim, para financiar a guerra. Em 1983, o parque foi encerrado e abandonado.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
O regresso a casa
Depois da guerra civil ter terminado em 1992, o parque permaneceu fechado. Estima-se que entre 90% e 95% da vida selvagem do parque se tenha perdido. Dados daquela altura apontam para apenas 15 búfalos, 5 zebras, 6 leões, 100 hipopótamos e 300 elefantes. Os primeiros animais a regressar foram aves. Hoje, o parque alberga mais de 400 espécies.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Clima especial para circunstâncias especiais
Devido à sua topografia, o parque tem vários microclimas e um ciclo anual de estações húmidas e secas, o que contribui para a sua diversidade.
Num esforço para revitalizar o parque, foram contratados novos funcionários, em 1994, com o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento e da União Europeia. Lentamente, o espaço estava a recuperar, mas às vezes a natureza precisa de uma mão amiga.
Foto: Gorongosa National Park/Paul Kerrison
Esforços de todas as partes
Em 2004, a Fundação Carr, com sede nos Estados Unidos, aliou-se ao Governo de Moçambique num projeto para reconstruir o parque e reintroduzir animais. Um esforço para restaurar vida selvagem devastada. Este projeto piloto teve tanto sucesso que em 2008 a fundação e seu fundador, Gregory Carr, concordaram em continuar a recuperar o parque, acordando numa gestão conjunta por mais 20 anos.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Um verdadeiro final feliz
O Parque Nacional da Gorongosa passou por várias etapas: de reserva de caça privada, a parque nacional e campo de batalha antes de voltar a ser um parque nacional. Nos últimos anos, muitos milhões foram investidos no parque e nas comunidades locais. É a prova viva que a vida selvagem pode renascer das cinzas - com paciência, muita força de vontade e dinheiro.