Há cada vez menos tocadores de mbira. Músicos moçambicanos pedem ao Estado mais apoios para ensinar a tocar o instrumento musical. Maputo recebe este fim-de-semana festival da mbira.
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Domingos Coutinho é um dos poucos tocadores de mbira em Moçambique, um instrumento musical tradicional, que se assemelha a um pequeno piano de mão, mais usado no vizinho Zimbabué. O músico, natural de Chimoio, toca mbira há mais de dez anos.
"A mbira é a base da música tradicional africana. Serve como base para a música local", diz. "Também fabrico a mbira, mas não tenho nenhum financiamento. Uso o meu próprio dinheiro, mas gostaria de ter uma parceria ou um apoio."
Coutinho participa, desde 2008, em vários eventos musicais, tanto na província de Manica como na Associação dos Músicos Moçambicanos, em Maputo. Aprendeu a tocar mbira no povoado de Messica, distrito de Manica, com o mestre Dzandiwandira.
O músico diz que é preciso defender o património cultural africano e pede ao Estado moçambicano que ajude mais os tocadores de mbira. Os poucos que existem estão a trocar de profissão por falta de apoios.
Músicos pedem ajuda ao Governo
"Valorizem os instrumentos tradicionais e os seus tocadores, porque os instrumentos tradicionais são nossos, são africanos. É preciso valorizá-los, de modo a preservá-los, para não desaparecerem", apela Coutinho. "Se não consideram os tocadores e instrumentos tradicionais, praticamente a nossa música tradicional vai desaparecendo. O artista vai-se ocupar noutras coisas por não haver consideração."
Ouça aqui a mbira e a reportagem do correspondente da DW
Johanne Joaquim, outro tocador de mbira, pede ao Governo provincial que incentive mais pessoas a aprender a tocar o instrumento tradicional.
A mbira é um instrumento fascinante, afirma Joaquim: "Assim que eu comecei a tocar, apaixonei-me. Ultimamente pegava na mbira em qualquer lugar que eu fosse, ia com ela para poder-me inspirar mais, pois com o passar do tempo, conseguia ter outros toques, sem me aperceber."
O músico participa este fim-de-semana, dias 1 e 2 de dezembro, no Festival da Mbira, que decorrerá na capital moçambicana, Maputo. No festival participam 17 tocadores de mbira, entre outros artistas.
Tempos difíceis para a timbila de Moçambique
Os produtores da timbila debatem-se com dificuldades. Há cada vez menos árvores para a produção deste instrumento tradicional moçambicano da família dos xilofones, classificado como património da humanidade pela UNESCO.
Foto: DW/L. da Conceição
Origem e reconhecimento
A timbila surgiu no século X, de acordo com historiadores. No século XVI, os portugueses começaram a escrever sobre este instrumento musical criado pelo povo Chopi, que reside no distrito de Zavala, em Inhambane. Em 2005, a UNESCO reconheceu a timbila como obra-prima do património oral intangível da humanidade e apelou a uma maior preservação do instrumento.
Foto: DW/L. da Conceição
Escudo e azagaia
Os dançarinos da timbila entram sempre em palco com um escudo e uma azagaia. Significa defesa contra os inimigos na comunidade, segundo a tradição. Ao longo das danças são interpretadas canções de alegria, mas também de tristeza. Os adultos procuram envolver as crianças na preservação desta tradição, que tem sido passada de geração a geração.
Foto: DW/L. da Conceição
Escassez de árvores
Mwenge é a árvore cuja madeira serve de base para o fabrico da timbila. Pode ser encontrada nos distritos de Massinga e Vilankulo. Estes troncos foram comprados em em Vilankulo e custaram cerca de 20 mil meticais (300 euros), depois da burocracia e pagamento das taxas de corte. Estas árvores estão em vias de extinção, o que pode comprometer a produção da timbila nos próximos anos.
Foto: DW/L. da Conceição
Nova estrela da timbila
Simião Venâncio Mbande é filho de Venâncio Mbande, ícone da timbila em Moçambique e pretende seguir os passos do pai. Começou a tocar quando tinha apenas 4 anos e aos 11 anos já é considerado um verdadeiro timbileiro de mãos cheias. O seu maior sonho é ser uma estrela de timbila a nível mundial. Mas para isso precisa de apoio financeiro, diz.
Foto: DW/L. da Conceição
De pequenino se torce... a timbila
Também Edmercio Ofensio é timbileiro desde os cinco anos de idade. Hoje, aos 21 anos, integra o grupo de Guilundo, do mestre da timbila Venâncio Mbande, que morreu em 2015. "Gostaria de um dia levar a cultura para o estrangeiro, se houver condições", disse à DW África.
Foto: DW/L. da Conceição
Festival Anual da Timbila
Situado na vila de Quissico, à beira da praia, este espaço abriu portas em 1995 e desde então tem acolhido turistas que vêm assistir à atuação de diversos grupos que tocam timbila, no Festival Anual da Timbila M’saho, promovido pela Associação dos Amigos de Zavala (AMIZAVA). Este ano, o festival decorreu em agosto.
Foto: DW/L. Da Conceicao
Timbila para turistas
Em Inhambane são produzidas timbilas especiais para os turistas internacionais. A venda é feita nas zonas de praia e os preços rondam os 10 euros. Geralmente os instrumentos não pesam mais de dois quilos - para serem fáceis de transportar. Nos últimos anos, os produtores de timbilas reclamam da falta de compradores.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta de clientes
Armando Júlio começou a vender timbila a turistas há mais de 15 anos. Mas ultimamente reclama da falta de clientes. Com as vendas que fez, já conseguiu adquirir um terreno para construir uma casa, onde vice com a sua família. O vendedor diz que nos últimos anos os lucros caíram drasticamente, devido à falta de turistas interessados em comprar o instrumento.
Foto: DW/L. Da Conceicao
Homenagem aos timbileiros
Na sede do distrito de Zavala, em Quissico, foi erguido um monumento em homenagem a todos os que contribuiram para o desenvolvimento da timbila naquela região. O monumento atrai muitos investigadores nacionais e internacionais, além de muitos estudantes universitários que toso os os anos visitam o local.
Foto: DW/L. da Conceição
Esplanada Timbila
Devido à sua expressão cultural na sociedade moçambicana, a timbila é homenageada de várias formas pelos moçambicanos, como forma de preservação da identidade cultural do povo. Nas ruas é recorrente encontrar lugares públicos com o nome do instrumento, como esta esplanada em Zavala, muito conhecida pelos residentes. Um ponto de encontro de referência.
Foto: DW/L. da Conceição
Uma casa digna para a timbila
Os timbileiros de Inhambane reclamam da falta de uma "residência digna" onde os produtores do instrumento tradicional possam guardar as suas obras e respetivos materiais. Dizem que a atual casa não tem condições e que os lucros das atuações não chegam para construir um novo espaço. Por isso, pedem apoios.
Foto: DW/L. da Conceição
Para quando uma escola da timbila?
Era um sonho do ícone da timbila Venâncio Mbande construir uma escola de arte na sua terra natal, ao lado da sua residência, onde até deixou reservado um espaço. Antes de morrer, em 2015, deu várias entrevistas em que não escondeu o seu desagrado pela falta de ajuda do Governo para a materialização deste sonho. Hoje, a pergunta continua a ser: para quando a "escola da timbila ta Venâncio"?