Moçambique: Depender menos da exportação de matérias-primas
Lusa
23 de junho de 2021
O ministro da Indústria e Comércio, Carlos Mesquita, defendeu hoje que Moçambique deve deixar de ser um exportador de produtos primários e passar a vender produtos transformados, através da aposta na industrialização.
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"Temos o desafio de quebrar o paradigma assente na exportação de matérias-primas, passando a exportador de produtos transformados", afirmou Carlos Mesquita, que alava sobre o tema "Domesticação da Estratégica e Roteiro de Industrialização da SADC", inserido no primeiro fórum de negócios da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que se realiza na capital moçambicana.
A aposta na industrialização, prosseguiu, vai permitir que os produtos brutos sejam transformados em Moçambique e exportados a preços competitivos, gerando mais-valias para o país.
"Dou o exemplo de grafite: temos muita grafite em Moçambique, que é a matéria-prima para a produção de lápis, mas é todo exportado em bruto, porque o país não produz lápis, voltando Moçambique a comprar o seu grafite já em forma de lápis", apontou o ministro da Indústria e Comércio.
O boom do carvão em Moçambique
05:11
Carlos Mesquita apontou alguns aspetos que considera fundamentais para a industrialização do país: o fortalecimento da capacidade produtiva do tecido empresarial nacional, a formação de mão-de-obra com competências para trabalhar em indústrias, a criação de um ambiente fiscal favorável e o estabelecimento de ligações entre o setor de extração de matérias-primas e a área da transformação.
Transformar a economia
"Temos todos os elementos para promover a industrialização de Moçambique, desde que sejam ultrapassados os desafios que se colocam ao salto que o país deve dar", afirmou.
De acordo com o ministro, a disponibilidade de recursos energéticos, minerais e florestais, bem como o potencial agrícola e pesqueiro dão bases a Moçambique para embarcar no processo de transformação da economia. "Queremos que o valor adicionado aos produtos e bens acabados fique em Moçambique", enfatizou.
O ministro da Indústria e Comércio de Moçambique apontou que a recente abertura no país de uma fábrica que produz cimento e a respetiva matéria-prima - o clínquer - e a consequente redução de preço no mercado doméstico mostra que o desenvolvimento de uma indústria transformadora local não é uma utopia.
O défice da balança comercial moçambicana agravou-se em 43% entre 2018 e 2019, para 2,7 mil milhões de dólares (2,2 mil milhões de euros) de acordo com o mais recente anuário do Instituto Nacional de Estatística (INE), com o valor das exportações a recuar 6,8% no período e o montante das importações a crescer 6,9%.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.