Rádios comunitárias denunciam falta de acesso à informação
Bernardo Jequete (Chimoio)
9 de maio de 2017
Jornalistas acusam instituições governamentais de só cederem informação aos órgãos públicos. Assessor do Governo diz que se se confirmarem acusações, "haverá uma correção".
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Na província de Manica, no centro de Moçambique, jornalistas de várias rádios comunitárias dizem não ter acesso às fontes oficiais. Sentem-se discriminados pelo Governo moçambicano e afirmam que o Executivo privilegia os órgãos públicos, como a Rádio Moçambique (RM) e a Televisão de Moçambique (TVM).
De acordo com alguns jornalistas ouvidos pela DW, só estes órgãos têm acesso aos comunicados de imprensa e outros documentos. Tudo isto, afirmam, cria "embaraços de vária ordem" no relacionamento entre o Governo provincial e a imprensa, sobretudo nos casos de cobertura de grandes eventos e deslocações do governador para fora da cidade.
Pedro Primeiro, jornalista da Rádio Comunitária GESOM, na capital provincial Chimoio, dá conta que a "relação entre o Governo e os jornalistas das rádios comunitárias ainda está longe de se concretizar". Segundo o jornalista, "há alguns membros do Governo que entendem as dificuldades que as rádios passam". Mas outros não. "Há membros do Governo que se fecham quando veem que um jornalista de uma rádio comunitária está a pedir informação. Ele não cede informação, dando como justificação: "o meu superior hierárquico não me autorizou a dar tal informação. Em contrapartida, quando aparece o órgão público, ele cede", desabafa.
Benedito António, do jornal Zambeze, não usa o termo "discriminação" para classificar a situação. Prefere falar em "diferenciação no tratamento dos órgãos", já que "uns são tratados como filhos e outros como enteados". "Nós, como setor privado, muitas vezes fazemos os trabalhos como opositores do Governo. Os trabalhos vão andando normalmente, mas com essa diferenciação no tratamento em relação aos outros órgãos como a RM e a TVM, eu vejo uma diferenciação", afirma Benedito António, que apela ao Governo para que, "muito rapidamente, crie um gabinete de imprensa e indique alguém para assumir esta pasta para haver uma articulação entre o jornalista e o Governo".
Atitude "incorreta", diz MISA
Nogueira da Silva, representante do Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA), em Manica, critica a atitude "incorreta" das figuras que vedam o acesso à informação. E lembra que as rádios comunitárias funcionam dentro do quadro legal da Constituição da República e da lei de imprensa que, a seu ver, não está a ser respeitada. "Para além de não darem satisfação quanto à sua ausência, as fontes oficiais prejudicam, no dia-a-dia, o desempenho dos jornalistas. Nós, em coordenação com o Sindicato Nacional de Jornalistas, incluindo o Instituto Nacional de Comunicação Social, vamos unir esforços por forma a que os infratores possam observar o espírito e letra das leis de imprensa e do acesso à informação", afirma.
César Manhiça, assessor do governador, não confirma nem desmente a situação. "O Governo vai comunicar aos administradores e aos demais para poder ver a imprensa no seu todo e não só a imprensa pública. Se isso for verdade, nós vamos fazer uma correção. Como Governo, trabalhamos com todos os órgãos de comunicação social, sem excluir nenhum", concluiu.
Os filhos perdidos de Chimanimani
Todos os dias há jovens a subir. São eles que alimentam os garimpeiros em Chimanimani, a reserva natural que separa Moçambique do Zimbabué. Quando descem, trazem pepitas de ouro nos bolsos.
Foto: DW/M.Barroso
O ouro de Chimanimani
Em 2006, conta-se, a produção diária em Chimanimani era de 5g por garimpeiro por dia. Hoje, queixam-se, não passa de 3g por garimpeiro por dia.
Foto: DW/M.Barroso
Preciosidades em notas sem valor
É em notas de milhões de dólares zimbabueanos que se transporta o ouro por aqui. Papel não é seguro, porque, quando molha, rasga. A nota é mais fiável: dobra-se uma e outra vez, dobra-se umas quantas vezes e prende-se com um fio de ráfia. E as notas do Zimbabué há muito que não valem os milhões que prometem na figura.
Foto: DW/M.Barroso
Matzundzo, o régulo
Toda a zona que se estende até ao mercado do ouro de Baco Ramambo se encontra sob a autoridade do régulo Matzundzo.
Foto: DW/M.Barroso
Ao almoço, uma pausa
Mateus tem 24 anos. Há três ganha a vida a carregar produtos em Chimanimani. Para conseguir chegar a Baco Ramambo, é preciso fumar, conta. Para ter "power".
Foto: DW/M.Barroso
Para lá dos montes
Por aqui, todos dizem que o caminho até ao mercado demora "duas horas de relógio". Na realidade, o percurso toma dias. Pausas são luxo raro.
Foto: DW/M.Barroso
Quem passa, leva ensopadas as calças
Em Chimanimani, os rios não têm pontes. Os rapazes seguem em frente, água dentro, sem grandes paragens, sem hesitações, vestidos, calçados, a mercadoria a balançar nas cabeças.
Foto: DW/M.Barroso
Neto, o negocianteNeto, o negociante
António Neto Coco com a sua balança de ouro. Desde que foi agredido por bandidos, tem regularmente três rapazes a vender produtos na zona do mercado de Baco Ramambo.
Foto: DW/M.Barroso
Vida sob camuflagem
Muitos em Chimanimani vêm do Zimbabué. Por 600 meticais, nem 14 euros, compram identidade moçambicana. Assim, se forem descobertos com ouro, evitam ser deportados para o país do lado, um país sem futuro.
Foto: DW/M.Barroso
Entre o fumo
Carregadores e garimpeiros moram em cavernas. Aqui cozinham, aqui se aquecem com lenha do mato e aqui dormem. A fuligem que sobe do lume pinta as paredes da rocha, crava-se nos pulmões, queima os olhos.
Foto: DW/M.Barroso
Natureza em erosão
Desde que os fiscais do parque sobem ao planalto para escurraçar os infratores da lei, os garimpeiros dispersam ao longo de vários rios. Assim, a vegetação ribeirinha é destruída, a erosão dos solos espalha-se e os sedimentos são transportados pela corrente, causando turvação das águas.
Foto: DW/M.Barroso
Baco Ramambo, o mercado
Em dias de chuva como hoje, cada um se refugia na sua caverna e o mercado de Baco Ramambo adquire um ar triste. Das negociatas que aqui se fazem em dias bons não há sinal.
Foto: DW/M.Barroso
A camarata do mercado...
Poucos são os que se aventuram a pernoitar na zona de Baco Ramambo com medo dos fiscais. Ainda assim, esta camarata serve de abrigo aos que por aqui ficam.
Foto: DW/M.Barroso
... e a cozinha
O rádio que traz música na caverna da cozinha de Baco Ramambo foi vendido num dia húmido como o de hoje. Em dias assim, só os carregadores faturam, já que poucos garimpeiros ousam entrar nos riachos – nestas condições impiedosas, a água provoca febres.
Foto: DW/M.Barroso
Chimanimani - um El Dorado
É aos americanos, aos sul-africanos e aos libaneses que carregadores e garimpeiros vendem o seu ouro. São eles que fazem as verdadeiras fortunas vindas de Baco Ramambo.