O reajuste do salário mínimo, aprovado esta terça-feira (24.04) pelo Governo, vale a partir deste mês para todos os setores produtivos do país. Sindicatos dizem que o aumento está abaixo das necessidades do trabalhador.
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Em Moçambique, os sindicatos consideram que o novo valor salarial aprovado pelo Governo está muito aquém das necessidades do trabalhador, embora reconheçam que é o mínimo aceitável tendo em conta o atual ambiente económico e financeiro do país. O aumento varia entre os 5% e 18,67%, sendo a percentagem mínima para alguns setores do aparelho de Estado e a mais elevada para a indústria de extração mineira e grandes empresas.
Os funcionários e agentes do Estado vão ter um aumento de 6.5% no salário mínimo, passando a auferir 4.255 meticais, o equivalente a pouco mais de 57 euros. O Governo decidiu ainda disponibilizar 1,8 mil milhões de meticais (24 milhões de euros) para a retoma dos atos administrativos, nomeadamente progressão nas carreiras profissionais, promoções e mudanças de categorias.
Moçambique: Reajuste salarial em tempos de crise
O anúncio foi feito pela ministra Carmelita Namashulua. "Todo o processo preparatório decorre de modo a que, a partir do mês de maio, possamos recomeçar com os atos administrativos que foram interrompidos no ano de 2015", garantiu a titular do Ministério da Administração Estatal e Função Pública.
"Insuficiente"
Para a Organização dos Trabalhadores de Moçambique Central Sindical, o atual reajuste salarial está aquém das necessidades dos trabalhadores. De acordo com o chefe das Relações Jurídico Laborais da organização, "os resultados que foram alcançados não satisfazem as necessidades primárias de um trabalhador moçambicano". Daniel Ngoque diz ainda que "ainda estamos longe de atingir esse patamar".
Nas ruas de Maputo, cidadãos ouvidos pela DW África consideram igualmente que os novos salários não correspondem ao atual custo de vida. Para Jochua Armando Inguane, esse aumento não é suficiente, "porque as coisas no mercado estão muito caras e esse dinheiro não compensa sequer para pagar o chapa (transporte semicoletivo)".
Da mesma forma, António Jacinto, que trabalha na área de segurança, também ressalta o aumento do custo de vida e afirma que "não houve de facto um aumento". Também Rodrigues Mendes, que atua no setor terciário, considera que "aumento que o Governo não beneficia a nós que somos do ramo mais fraco, porque tudo subiu".
Negociações
As negociações que culminaram com a fixação do atual salário mínimo não foram fáceis, segundo Jeremias Timane, secretário-geral da Confederação dos Sindicatos Livres e Independentes.
Apesar de também considerar que o aumento salarial está muito aquém das necessidades do trabalhador, reconhece que é o mínimo aceitável tendo em conta o ambiente económico e financeiro vivido no país.
Entretanto, Timane defende que as negociações devem prosseguir a nível das empresas. "A seguir os nossos comités sindicais ao nível micro têm feito discussões extremamente positivas, muito diferente destes resultados que foram alcançados ao nível dos setores", conclui.
De roupa a peças de carro: Os mercados de Maputo
São muitos os mercados na capital moçambicana. Maior ainda é a variedade de produtos à disposição dos consumidores. Mas nem todos os mercados têm as infraestruturas necessárias para os comerciantes.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado de Xikhelene
Oficialmente mercado da Praça dos Combatentes, é um dos maiores de Maputo e vende desde materiais de construção e peças de automóveis a refeições. Também serve de terminal para os semicoletivos (chapas). Devido à falta de espaço, muitos comerciantes recorrem aos passeios ou mesmo às estradas para vender os seus produtos. A polícia tem estado a travar uma guerra para os retirar de lá.
Foto: DW/R. da Silva
Negócio de lenha
A venda de lenha não é comum noutros mercados. Mas em Xikhelene, Carlota Tembe, de 57 anos, que não quis ser fotografada, disse que trabalha neste negócio desde os seus 28 anos e que foi assim que educou e alimentou os seus filhos. O espaço que ocupava no mercado era pequeno, mas com o passar do tempo foi alargando o seu negócio.
Foto: DW/R. da Silva
Esquina de tambores
No mercado de Xikhelene, todas as esquinas estão identificadas com uma marca. Neste local são vendidos estes tambores, cuja capacidade ronda entre os cinco a 200 litros. São maioritariamente senhoras que se dedicam a este comércio. A taxa diária paga por cada um dos vendedores é de 37 cêntimos de euro em todos os mercados.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado de construção
Localizado na parte mais a norte de Maputo, e também conhecido como Praça da Juventude, o mercado de Magoanine especializa-se na venda de areia grossa e fina, pedra, cimento e blocos para a construção. No local é possível ver camionetas carregando ou descarregando esses produtos.
Foto: DW/R. da Silva
Os trabalhadores do estaleiro
No mercado de Magoanine, os trabalhadores destes estaleiros são maioritariamente jovens com idades entre os 17 e os 30 anos. Com este trabalho muitos deles alimentam as suas famílias, alguns pagam propinas e outros constroem as suas próprias casas. Além de blocos, este mercado oferece igualmente tanques para lavar a roupa.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado George Dimitrov ou Benfica
É outro grande mercado de Maputo. A foto mostra vendedores a fazer comércio nas bermas da Estrada Nacional 1 (EN1), devido à falta de espaço. O local é ainda um dos terminais rodoviários mais movimentados da capital e é alvo da ação de bandidos nas horas de ponta. Já houve várias operações policiais no sentido de retirar os vendedores dos passeios, sem sucesso.
Foto: DW/R. da Silva
Madeira do centro do país
Muita madeira vinda do centro de Moçambique chega ao mercado George Dimitrov, onde trabalha muita gente especializada na arte de fazer portas, aros para portas e janelas e mobiliário. Os camiões que estacionam no local para o descarregamento da madeira muitas vezes dificultam o tráfego, criando enormes filas de carros nas primeiras horas da manhã.
Foto: DW/R. da Silva
Monumental: O mercado da mecânica
Com o piso negro e escorregadio, por causa de lubrificantes que frequentemente são despejados no local, este é o maior mercado de peças de viaturas. Por causa do serviço realizado ali, diariamente uma quantidade de óleo queimado é drenada para o solo - um perigo para a saúde pública. O espaço circular ocupado pelos vendedores e mecânicos era utilizado para as touradas na era colonial.
Foto: DW/R. da Silva
Arranjos e artigos de automóvel
Augusto Sitoe, de 27 anos, é mecânico no mercado Monumental há sete anos. Ele conta que muitas viaturas aparecem para ser reparadas. De facto, quando um carro chega ao local já é rodeado por mecânicos para os primeiros diagnósticos. E não só: também aparecem jovens que vendem alguns artigos para enfeitar o veículo, bem como outros especializados em bate-chapa e pintura.
Foto: DW/R. da Silva
Vestuário
O mercado Compone está situado no fim da cidade de cimento e no início do bairro Polana Caniço. É especializado na venda de roupa e calçado em segunda mão. Antes da expansão de outros mercados, foi uma grande referência. Mas dada a exiguidade do espaço para o exercício da atividade, muitos preferiram instalar-se no vizinho mercado de Xikhelene.
Foto: DW/R. da Silva
"Estrela Vermelha"
O Estrela Vermelha é o mercado informal do centro de Maputo. Há aqui muitos produtos são de origem duvidosa - eletrodomésticos, telefones, máquinas fotográficas, além de bebidas alcoólicas contrabandeadas. Os cidadãos que são vítimas de roubo costumam ir a este mercado para procurar os seus pertences. Além disto, a falta de higiene também preocupa as autoridades.
Foto: DW/R. da Silva
De tudo um pouco
O mercado CMC é o mais novo dos mercados aqui mencionados e ganhou em pouco tempo o estatuto de um dos maiores de Maputo. Localiza-se mais a norte da cidade. Tal como outros mercados, exceto o Estrela Vermelha e a Praça da Paz, é também um terminal rodoviário dos chapas. Aqui há quase todos os produtos, destacando-se boutiques que vendem roupa nova a preços baixos, que variam de cinco a 15 euros.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado da Junta
É um dos mais antigos mercados, localizado no maior terminal rodoviário de Maputo e no histórico bairro de Chamanculo, na parte ocidental da capital. Ao longo da avenida Gago Coutinho pode-se ver gente a vender madeira, que é a bandeira deste mercado. São madeiras adaptadas para ser base para assentar congeladores, geleiras ou fogões. A ideia é não danificar a estrutura dos aparelhos.
Foto: DW/R. da Silva
Bases de madeira
Jordão Macuvele tem 27 anos e trabalha neste negócio desde os seus 16 anos. Diz ele que, em média, consegue 15 euros por dia. O vendedor sustenta, assim, a sua família composta por sete pessoas. Segundo Macuvele, as bases de madeira também são adaptadas por artistas para servirem de sofás, mesinhas de centro e outro tipo de mobiliário.