Moçambique: Recapitalização do Moza Banco gera polémica
Leonel Matias (Maputo)
2 de junho de 2017
O analista Egídio Vaz afirma que a atribuição da gestão do Moza Banco à Kuhanha era a "única via que garantiria a sobrevivência do banco”. Para CIP, "há fortes indícios de conflito de interesses”.
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A Sociedade gestora do Fundo de Pensões dos trabalhadores do Banco de Moçambique, denominada Kuhanha, passou a ser, esta semana, o acionista maioritário do Moza Banco, revelou um anúncio do Banco Central.
Num comunicado emitido esta quinta-feira (01.06), o Banco de Moçambique afirma que o processo de seleção para a compra da instituição foi transparente e não violou a lei nem a ética. Acrescenta que "os passos dados e que indiciam, para muitos analistas, violação da lei e da ética, foram superados por uma decisão superior de gestão, que evitou o descalabro que se notaria caso esta solução não tivesse tido lugar.”
Em entrevista à DW África, o analista Egídio Vaz afirma que, ao atribuir a gestão à Kuhanha, o Banco de Moçambique realizou uma engenharia financeira para assegurar a sustentabilidade do Moza Banco e garantir que não se perde todo o dinheiro investido até ao momento.
Para Egídio Vaz, esta engenharia pode levar mais ou menos até cinco anos para que o banco seja vendável para outros interessados. O analista acrescenta também que o Banco Central agiu de forma política e, claramente, para manter o Moza Banco, uma vez que este estava falido e, não tendo melhor comprador, podia ser vendido ao desbarato. "O que está a se querer salvaguardar é que o dinheiro não caia em mãos suspeitas, muito menos daqueles que, outrora, levaram o banco à falência”, afirmou.
Conflito de interesses
O analista admite que "existiu claramente um conflito de interesses”, no entanto, acrescenta, "existe também uma necessidade”. Para Egídio Vaz, "estamos perante um conflito entre a sobrevivência e a moral”. "Eu alinho pelo Banco de Moçambique, na medida em que esta é a única via que garantiria a sobrevivência do banco. A falência do banco teria consequências incalculáveis”, assevera.
Também Jorge Matine, do Centro de Integridade Pública (CIP) afirma que "há fortes indícios de conflito de interesses”. No entanto, acrescenta: "[este caso] carece ainda de informação adicional que nos possa indicar, de uma forma muito concreta, como é que este conflito de interesses acontece ou se manifesta”.
O Fundo de Pensões dos trabalhadores do Banco de Moçambique tem como objetivo proceder ao pagamento dos reformados da instituição e investir no mercado de capitais, financeiro, imobiliário, entre outros.
A administração da sociedade gestora do Fundo é presidida pelo Governador do Banco de Moçambique e é composta por administradores que representam os trabalhadores. Tem também um Conselho Fiscal e órgãos societários.Algumas vozes criticas questionam até que ponto serão os trabalhadores da supervisão bancária independentes na fiscalização do Moza Banco, sendo eles parte interessada, através da Kuhanha. Egídio Vaz afirma, sobre este tópico, "que foram tomadas medidas cautelares para garantir a imparcialidade da mesma e do negócio”.
02.06.2017 Moza Banco - MP3-Mono
O Fundo de Pensões dos trabalhadores do Banco de Moçambique deverá injetar no Moza Banco o equivalente a cerca de 120 milhões de euros para recapitalizar a instituição. "Vamos augurar que, com esta injeção, o banco sobreviva até onde puder e volte a ser viável para os outros investidores deixarem a Kuhanha livre”, afirmou.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
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Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
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O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
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Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
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O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.