Eventual alastramento dos ataques é algo a ser considerado, diz Saide Habibe. E sobre a errada associação que se faz entre o Islão e atacantes, o imam garante que a comunidade muçulmana está a desmistificar isso.
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Esta segunda-feira (11.06.) foi a vez de aldeias de Natugo, no distrito de Nangade, e Changa, no distrito de Macomia, província nortenha de Cabo Delgado, serem alvo dos ataques armados.
Um homem foi morto com golpes de catana em Natugo e em Changa um acampamento das FDS, Forças de Defesa e Segurança, foi atacado. Aqui morreram dois agentes e um ficou ferido, de acordo com a agência de notícias Lusa.
Mas o administrador de Nangade, Dinis Mitandi, sabe apenas de um outro ataque no domingo (10.06.) contra uma comunidade: "Em Nangade tivemos o incidente dos malfeitores na noite de domingo para segunda-feira (11.06.). Tivemos dois mortos e queimaram cinco casas. A população estava na sua comunidade, que é um centro de produção. Naturalmente é uma aldeia isolada, as pessoas vão lá para as machambas e a região acabou por se transformar numa aldeia."
Islão instrumentalizado pelos atacantesAs FDS anunciaram na última semana a criação de centros operativos em Macomia e Quissanga, igualmente alvo de ataques. Sobre um eventual centro operativo em Nangade para fazer frente aos ataques, o administrador Dinis Mitandi não tinha muitas certezas, mas garantiu que até pouco tempo atrás tudo decorria dentro da normalidade:"No nosso distrito em príncípio não havia a necessidade de um contingente de FDS significativo porque ainda não vivíamos em situações dessa natureza."
Em Nangade, cerca de metade da população é muçulmana. A província de Cabo Delgado é predominantemente muçulmana e os ataques armados que começaram em outubro de 2017 têm sido associados ao Islão.
Mas um estudo realizado pelo MASC, Fundação Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, e IESE, Instituto de Estudos Sociais e Económicos, publicado em maio passado, descarta essa possibilidade, mas conclui que o Islão tem sido usado para desestabilizar.
Comunidades muçulmanas em campanhas de esclarecimento
Moçambique: Receio de alastramento de ataques armados
No caso de Nangade o administrador esclarece que "os conservadores da religião muçulmana dizem que não têm nada a ver com esse tipo de pessoas [atacantes] , são jovens absolutamente enganados."
E Dinis Mitandi garante: "Temos contacto permanente com os líderes religiosos que consideram que os atacantes usam o Islão como capa, vestindo trajes islâmicos para criar desconfiança entre os cidadãos. Os cristãos quando vêm os muçulmanos desconfiam que estejam a causar problemas, e isso não fica bem."
A DW África questionou ao Sheik Saide Habibe se as associações islâmicas do país estariam em campanhas de sensibilização para dissociar as ações dos atacantes do Islão.
Habibe, que também participou do estudo do IESE e MASC, conta que"neste momento, ao níve da comunidade muçulmana há um trabalho que está a ser feito, embora seja titubeante, mas que procura esclarecer este fenómeno, tanto que muitas lideranças muçulmanas já estiveram em contacto com as autoridades governamentais, quer ao nível do distrito onde ocorrem os ataques, quer ao nível central."
Nampula pode ser o próximo alvo
Tal como Cabo Delgado, a província vizinha de Nampula é predominantemente muçulmana. É também vasta em termos de território e por isso difícil de ser controlada pelas autoridades, que tem mostrado fragilidades de vária ordem no exercício das suas funções.
E embora não seja tão atrativa como Cabo Delgado, Nampula também possui riquezas. Haveria possibilidade de um alastramento dos ataques armados para Nampula?
"É o facto que estamos agora a temer. Aqui é preciso que os esforços sejam mais enérgicos porque se não se conter agora que o fenómeno ainda é novo, há o receio de se alastrar", responde o Sheik Saide Habibe.
E o líder religiosos fundamenta: "E caso isso aconteça, naturalmente a província de Nampula poderá ser uma das vítimas por causa das semelhanças entre Nampula e Cabo Delgado, visto que o estudo [do IESE e MASC] constatou que parte dos elementos do grupo vinha da província de Nampula, de Memba e cidade de Nampula."
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.