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Reconciliação 'começa com Chapo e Mondlane'

António Cascais
22 de janeiro de 2025

Novo Presidente de Moçambique e ex-candidato devem partilhar responsabilidade de "abrir um novo capítulo na história do país que seja declaradamente aberto ao diálogo" com vista à reconciliação nacional, diz socióloga.

Daniel Chapo (esq.) e Venâncio Mondlane
Daniel Chapo e Venâncio MondlaneFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images

Depois da tomada de posse de Daniel Chapo, muito se especula sobre como o novo Presidente poderá contribuir para a pacificação da sociedade moçambicana, profundamente dividida com o conflito pós-eleitoral e o não reconhecimento dos resultados oficiais das eleições por parte de uma grande franja da sociedade.

Uma das possibilidades seria o início de um diálogo com o ex-candidato presidencial e autoproclamado Presidente Venâncio Mondlane. Mondlane exigiu a implementação de 25 medidas nos primeiros 100 dias do novo Governo, chefiado por Chapo.

À CNN Portugal, o Presidente da República disse que "o plano de 100 dias do seu próprio Governo não tem nada a ver com recomendações" de Mondlane. Admitiu, no entanto, que algumas medidas apresentadas pelo ex-candidato presidencial são "interessantes".

Em entrevista à DW África, a socióloga luso-moçambicana Sheila Kahn, investigadora e professora universitária na Universidade Lusófona do Porto, considera que Chapo e Mondlane devem "partilhar" a responsabilidade de reconciliar Moçambique e abrir "um novo capítulo na história" do país, "declaradamente aberto ao diálogo".

Daniel Chapo tomou posse como Presidente da República a 15 de janeiro, em MaputoFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images

DW África: O Presidente Daniel Chapo pode e deve acatar as propostas de Venâncio Mondlane, a bem da paz e da reconciliação nacional?

Sheila Kahn (SK): Esta responsabilidade tem de ser partilhada e dividida. Não podemos só olhar para Daniel Chapo como o quinto e o mais recente Presidente de Moçambique, mas temos também de olhar para Venâncio Mondlane. Aparentemente ou supostamente, Venâncio Mondlane terá declarado que estaria disponível para um diálogo com Daniel Chapo. Isto é, estaria disponível para a possibilidade de um Governo de coligação nacional, de unidade nacional. Pelos vistos, Daniel Chapo também terá demonstrado abertura a esta possibilidade e, portanto, eu acho que esta responsabilidade, como disse, tem de ser partilhada, tem de ser discutida e, acima de tudo, temos de abrir um novo capítulo na história de Moçambique que seja declaradamente aberto ao diálogo, para reconciliação e para reparação.

Aqui o importante é que os dois percebam que há um denominador comum nas duas realidades que eles visualizam: é que eles querem resolver esta situação.

DW África: Que país é este que Daniel Chapo agora governa? É um país difícil de reconciliar?

SK: Daniel Chapo encontra um país com pouco dinheiro e com imensas dificuldades e vulnerabilidades. Portanto, será uma inteligência maior, nobre, até, se estamos a apelar para um certo patriotismo e competência, um ajuste com esta reivindicação. Um ajuste de contas, nomeadamente com aquilo que a população pede.

Venâncio Mondlane promete continuar a lutar através de um "governo sombra"Foto: Nádia Issufo/DW

DW África: Daniel Chapo disse numa entrevista à CNN Portugal que as exigências de Mondlane são um "ultimato", mas que tem algumas medidas que são interessantes. Isso é um bom sinal? Mostra que Daniel Chapo, pelo menos aparentemente, está aberto ao diálogo?

SK: Eu penso que Daniel Chapo demonstrou no seu discurso [de tomada de posse] uma boa interpretação do Estado e da sociedade moçambicana. E percebe perfeitamente que algumas medidas de Venâncio Mondlane são medidas que podem ser cumpridas.

Os dois estão em diferentes lugares de poder - um está no lugar do poder oficial, legitimado e validado e o outro está num lugar de poder reivindicado, popular. Mas eu penso que Daniel Chapo demonstrou ser, pelo menos aparentemente, muito diferente de todo o aparato de hegemonia e de poder que a FRELIMO tem demonstrado.

DW África: A população estará preparada para a paz? Ou será que, entretanto, há muitas feridas difíceis de cicatrizar na sociedade moçambicana?

SK: A população quer a paz e se a população perceber que é uma paz que respeita, acima de tudo, a dignidade humana, vai poder lidar com as suas feridas.

Mondlane à DW: Promessas de diálogo de Chapo são "fachada"

19:09

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