Moçambique: Refugiados queixam-se de falta de condições
Sitoi Lutxeque (Nampula)
11 de julho de 2017
No norte de Moçambique, os refugiados no Centro de Maratane queixam-se que há falta de alimentos e de água potável. E esses não são os únicos problemas.
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A comida está toda contada no Centro de Refugiados de Maratane. Cada família tem direito a receber, por mês, nove quilos de milho e feijão e meio litro de óleo alimentar, entre outros produtos. Mas os refugiados queixam-se que não estão a receber comida suficiente. Ibocwa Erick é um deles: "O que nós esperamos não tem sido o mesmo. Dizem que vamos receber nove quilogramas [de produtos], mas chegada a hora dão-nos sete quilogramas e sempre reclamamos mas não há mudanças."
Ibocwa Erick conta que, às vezes, passam vários meses sem receber comida: "Alimentamo-nos com o pouco que recebemos. É normal receber produtos num mês para ficarmos mais dois ou três meses, isso faz com que a nossa vida volte atrás."
Erick, de 31 anos, fugiu da violência na República Democrática do Congo com a esposa e os três filhos. A família vive agora no Centro de Maratane com outros 12 mil refugiados, oriundos não só da República Democrática de Congo, mas também do Burundi, Ruanda, Somália e Etiópia.
Consumo de água salgada
06.07.17 Refugiados passam fome em Maratane - MP3-Mono
Outro dos problemas no centro, conta o refugiado, é a falta de água de qualidade: "Água da torneira [canalizada] fica dois ou três meses sem sair e usamos ‘puxapuxa' [água do poço] e essa água é salgada e não é boa para beber. É verdade que nos tem criado diarreias, mas nós já nos habituámos porque não temos alternativa."
Atualmente, há 12 bombas de água manuais e tanques. Mas a administração do Centro de Refugiados diz que está a ser construído um tanque maior, com nove metros de altura, para que não haja falta de água.
Outros refugiados queixam-se da morosidade no processo de requerimento de asilo. Juma Balossi, de nacionalidade congolesa, diz que está no centro desde o final de 2011, mas ainda não conseguiu os documentos e por isso faz um apelo: "Estamos a pedir ao Governo de Moçambique que se esforce para nos reconhecer, para sermos considerados [legalmente] refugiados, para termos muitas oportunidades, porque agora não há maneira."
Os refugiados denunciam casos de pessoas que pediram asilo há mais de dez anos e ainda não tiveram resposta das autoridades.
Administração do Centro de Maratane garante que Governo faz o que pode
O administrador do Centro de Refugiados de Maratane, António Luís Gonzaga, garante, no entanto, que o Governo e os parceiros têm feito de tudo para resolver os problemas dos refugiados.
Gonzaga diz ainda que, da sua parte, não há morosidade na emissão de documentos: "Os documentos neste momento estão em processo [de emissão], ele [refugiado] regista-se segunda-feira e sexta-feira já tem, temos uma máquina eficiente que está a produzir documentos em pouco tempo."
Sobre a falta de alimentação, o administrador refere que o Governo moçambicano tem dado o que pode. Diz ainda que o Executivo ofereceu sementes aos refugiados para que eles possam cultivar os seus próprios alimentos.
Angola: Congoleses denunciam horrores vividos
A província da Lunda Norte, em Angola, está a acolher diariamente centenas de congoleses que continuam a fugir à violência na região do Kasai, na República Democrática do Congo.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Mais de um milhão de deslocados
Estima-se que, pelo menos, 3.300 pessoas tenham já morrido na sequência do conflito que, desde agosto de 2016, se tem desenrolado nas região do Kasai e Kasai Central, na República Democrática do Congo, (RDC). 1,3 milhões de congoleses foram obrigados a fugir da região devido à violência da milícia Kamuina Nsapu.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Millhares no Campo de Kakanda
Germaine Alomba tem 29 anos e é uma das congolesas que conseguiu atravessar a fronteira rumo a Angola, estando abrigada, atualmente, no centro provisório de Kakanda. Como ela, cerca de 30 mil congoleses estão refugiados em Angola. A este campo chegam, todos os dias, cerca de 500 pessoas, muitas delas transportadas em camiões e autocarros cedidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Acusações a Kabila
Segundo as autoridades católicas no Congo, já foram encontradas mais de 40 valas comuns na região do Kasai. Congoleses em Angola ouvidos pela DW África, revelam que a violência contínua tem sido alimentada pelo Governo de Kabila. "[Ele] está a organizar uma guerra, está a entregar armas aos civis para matar a população. O sofrimento neste momento é muito", denuncia Jimba Kuna, um dos refugiados.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Familiares desaparecidos
Odia Rose é outra das vítimas deste conflito. A sua filha adolescente, de 15 anos, desapareceu quando ambas tentavam fugir à violência no seu país. Hoje, conta à DW, "reza todos os dias para a reencontrar com vida".
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Repetem-se as atrocidades
Mbumba-Ntumba é o espelho das atrocidades que sucedem na região do Kasai. "Estava em minha casa e um grupo de pessoas entrou e começou a bater-me. Cortaram o meu braço com uma catana e bateram-me na cabeça", contou em entrevista à DW África o congolês de 65 anos. Ntumba foi resgatado inconsciente por voluntários da Cruz Vermelha que o levaram até à fronteira com Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Violência sem fim
As atrocidades não ficam por aqui. Recentemente, o Conselho de Direitos Humanos da ONU voltou a enviar peritos para a região para investigar as denúncias de abusos, incluindo decapitações. Há relatos de refugiados que contam que foram forçados a enterrar vítimas em valas comuns e que afirmam que as milícias terão atacado e mutilado bebés e crianças.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Crianças sozinhas
Dados da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) indicam que mais da metade dos deslocados são menores e que, em muitas ocasiões, foram separados dos seus pais e familiares - como é o caso das quatro crianças na fotografia, atualmente refugiadas no Campo em Kakanda, Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Aulas de Língua Portuguesa
Tanto no Campo de Mussunga, onde se encontram alguns refugiados, como em Kakanda, onde está a maioria, foram criadas escolas improvisadas onde é ensinada às crianças a língua portuguesa.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Necessária mais ajuda
Em Angola, os centros de acolhimento improvisados estão já sobrelotados. Em entrevista à DW África, o bispo da diocese da Lunda Norte, Estanislau Chindecasse, explicou que é necessária “mais ajuda para que as pessoas possam ter, pelo menos, duas ou três refeições. O que estamos a fazer é o mínimo, porque não há outras possibilidades”, deu conta.