Moçambique: Regresso da violência provoca mais deslocados
Lusa | DW (Deutsche Welle)
18 de março de 2022
Os recentes ataques armados nos distritos de Meluco e Nangade, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, provocaram um novo fluxo de deslocados na região, afirma o bispo da diocese de Pemba, António Juliasse.
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"Temos ainda novos deslocados, devido aos ataques esporádicos que aconteceram em Nangade e Meluco", a somar às famílias que já tinham sido obrigadas a fugir da violência armada em Cabo Delgado, disse à Lusa António Juliasse, recentemente nomeado para o cargo.
O líder religioso declarou que a Igreja Católica tem recebido muitos pedidos de apoio humanitário para o novo grupo de famílias obrigadas a fugir dos ataques mais recentes dos grupos armados que atuam na província de Cabo Delgado. "A igreja tem sido muito solicitada para prestar ajuda", enfatizou.
António Juliasse alertou para o risco de a crise humanitária em Cabo Delgado ser esquecida perante os progressos registados no combate aos grupos armados que aterrorizam a província desde 2017.
"Há certas zonas em que houve retorno [dos deslocados]", mas as pessoas ainda precisam de ajuda, porque perderam tudo e ficaram meses sem cultivar a terra, devido aos ataques. "A necessidade de ajuda para Cabo Delgado, para deslocados, ainda é muito grande, e vai ainda levar muito tempo até que a situação de segurança se normalize, até que se acredite que o povo voltou à sua situação normal", continuou.
Sociedade civil não deve ficar parada
Apesar dos avanços na frente militar, prosseguiu, o retorno à segurança em Cabo Delgado continua a exigir uma mobilização geral, principalmente do Governo e da sociedade.
"Há a necessidade de todos nós, como país, encontrarmos segurança para Cabo Delgado. É preciso que encontremos discursos e narrativas de segurança para o país também", realçou.
Instituto Agrário de Bilibiza segue em frente após ataque
03:29
A sociedade civil, salientou, não deve ficar "na bancada a assistir", como se o Governo fosse uma "equipa" que deve gerir sozinha a crise em Cabo Delgado. Deve assumir uma função de fiscalização visando a responsabilização do executivo.
O bispo de Pemba observou que os religiosos da Igreja Católica foram forçados a abandonar os distritos afetados pela violência em Cabo Delgado, mas estão prontos a voltar, logo que as condições de segurança forem repostas.
"A igreja [em termos de infraestruturas] ainda está lá, o que nós não temos são os missionários, os padres, as irmãs. Nesses lugares [afetados pela violência] não estão, não poderiam permanecer, por questões de segurança, se a situação mostrar que a segurança está reposta, aí regressarão a esses pontos", ressalvou.
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Insurgentes invadem ilha de Matemo
Terroristas invadiram na quarta-feira (16.03) a ilha de Matemo, pertencente ao distrito da ilha do Ibo, no arquipélago das Quirimbas, em Cabo Delgado, anunciou a Polícia da República de Moçambique (PRM).
Segundo a PRM, 10 insurgentes morreram em 24 horas de confrontos e diverso equipamento militar usado pelos atacantes foi apreendido na contraofensiva das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
"Os meus jovens [militares] estão a combater na ilha de Matemo, porque os terroristas tentaram se infiltrar, mas estão a levar bem", disse o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, num jantar na sua residência oficial, em Maputo, perante o seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa.
"Temos plena consciência de que a vitória completa ainda está por conquistar", disse Nyusi. "Renovamos o apelo à comunidade internacional no sentido de continuar a apoiar os esforços de Moçambique" e dos contingentes do Ruanda e Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) "na frente de combate" para "erradicar" a violência armada o quanto antes, acrescentou.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.