Responsáveis do principal partido da oposição, RENAMO, desvalorizam a contestação interna à chefia de Ossufo Momade e questionam a agenda política dos organizadores dos protestos.
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Em resposta a contestações à liderança do partido Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) reiterou nesta quinta-feira (26.11) na capital, Maputo, o "total apoio" ao seu líder. Ossufo Momade foi alvo de protestos recentes de membros do maior partido da oposição em Tete, centro do país.
A RENAMO diz que os protestos não vão pôr em causa a liderança deste no maior partido da oposição. O protesto realizado na segunda-feira (23.11) na província de Tete terminou em pancadaria entre correligionários que apoiam e contestam à liderança de Momade. Duas pessoas ficaram gravemente feridas.
A RENAMO salientou em conferência de imprensa que Ossufo Momade foi eleito democraticamente na reunião realizada em 2019, em Gorongosa, centro do país. As manifestações contra Momade não vão dividir a RENAMO, garante o delegado político e deputado na Assembleia da Republica, Arlindo Bila.
Contestação equivale a agir "à margem da lei”?
"A RENAMO é esta dirigida por sua excelência presidente Ossufo Momade. Por isso não temos duvidas de que a RENAMO está aqui, continuamos a trabalhar, temos compromissos, sabemos que somos políticos, temos adversários e temos inimigos”.
Bila lembrou que na RENAMO existem estatutos que contêm órgãos aos quais todas as inquietações devem ser dirigidas e aos quais todos os membros devem obediência.
"Não seguir este caminho não difere de estar a agir à margem da lei. Mais do que isso, é desvirtuar um dos princípios que norteiam a luta da RENAMO e nenhum membro sério poderá embarcar nisso. O que nos leva a questionar a verdadeira militância e agenda dos cabecilhas deste grupo”.
Arlindo Bila diz que as tentativas de dividir a RENAMO já são antigas. Por isso, o delegado político na capital não tem duvidas de que estas situações, como as de Tete, têm "mão” externa.
"Estamos a falar dos nossos adversários, dos nossos inimigos. Somos um partido político e estamos conscientes de que não somos o único partido em Moçambique”, disse lembrando não ser a primeira vez que a RENAMO se depara com este tipo de dificuldade: "Já aconteceu em tempos, mesmo durante a luta dos 16 anos, tínhamos estas situações.”
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Divisões internas afetam todo o país
O jurista Job Fazenda em entrevista ao canal privado de televisão, STV, parceira da DW África, disse que é urgente que a RENAMO se reencontre para preservação da paz.
"Alguém dizia, se a guerra ocorresse apenas dentro da RENAMO sem perigar as vidas humanas, como acontece na zona centro, nós provavelmente como moçambicanos diríamos que o interesse não seria muito acentuado. Mas este aspeto interessa-nos sobremaneira a olhar pelos resultados que isso esta a causar não só àquelas pessoas que são vitimas mas pela nossa economia por causa desta confusão”, disse Fazenda.
Recorde-se que os contestatários de Ossufo Momade, em Tete, denunciam que as crises internas dentro da RENAMO não estão apenas a ter consequências dentro do partido, mas também para todo o país.
Bairro de reassentamento de Mualadzi: Quando a fome obriga a vender o telhado
Moradores de Mualadzi, no distrito de Moatize, centro de Moçambique, sofrem com a seca e a fome. Para sobreviver, muitos vendem as chapas que cobrem as casas construídas pela empresa de mineração Riversdale.
Foto: DW/Amós Zacarias
Um bairro de dificuldades
Mualadzi, no distrito de Moatize, província de Tete, foi finalizado em 2013 para albergar mais de 470 famílias retiradas de Capanga para dar lugar às operações da mina de Benga - hoje, propriedade da International Coal Ventures Limited (ICVL) - depois de ter passado pelas mãos da Riversdale e da Rio Tinto. Entretanto, muitos abandonaram o bairro onde falta quase tudo: água, comida e emprego.
Foto: DW/Amós Zacarias
Fome já é rotina
"Aqui comemos farelo e frutos silvestres. Estamos a morrer. Devem-nos devolver onde estávamos": este é o grito da comunidade reassentada em Mualadzi, que já escreveu uma carta ao governador provincial pedindo socorro. Vivem-se dias complicados devido à escassez de chuva nas épocas agrícolas de 2017 e 2018.
Foto: DW/Amós Zacarias
Sem telhados, portas ou janelas
É uma realidade dura. Muitas famílias estão a tirar as chapas de zinco que cobrem as suas residências para vender. Mais de 20 residências já não têm telhados, portas ou janelas. Muitas casas foram vendidas e os seus proprietários regressaram às zonas de origem.
Foto: DW/Amós Zacarias
Vender antes de partir
O cenário repete-se um pouco por todo o bairro. O proprietário desta casa foi vendendo a casa por partes: primeiro, as chapas de zinco, depois, as portas e as janelas das duas casas de banho e cozinha que tinham sido construídas pela Riversdale. No fim, sobrou apenas a cobertura do quarto onde até há bem pouco tempo vivia, antes de vender tudo a 20 mil meticais (cerca de 280 euros).
Foto: DW/Amós Zacarias
Alimentação pobre
Crianças e adultos recorrem a frutos silvestres para matar a fome. Esta é uma imagem vulgar: partem-se os frutos com pedras para retirar a amêndoa.
Foto: DW/Amós Zacarias
Xima quando há dinheiro
Os poucos moradores de Mualadzi com acesso a uma alimentação condigna são membros de famílias que conseguem desenvolver alguma atividade comercial no próprio bairro ou na vila de Moatize. A maior parte das refeições no bairro de reassentamento faz-se à base de farelo comprado na aldeia de Cateme ou na vila. Estas crianças comem xima, uma massa de farelo, acompanhada com caril.
Foto: DW/Amós Zacarias
Água não jorra
Quando o bairro de Mualadzi foi aberto, em 2013, estavam em funcionamento 16 furos de água. Hoje, a maioria não está a operar.
Foto: DW/Amós Zacarias
Zona imprópria para agricultura
Além da falta de água, o próprio terreno da zona de reassentamento não é adequado para a prática da agricultura. Para chegarem aos seus pequenos campos de cultivo, os residentes de Mualadzi têm de percorrer entre 10 a 15 quilómetros. Não há transportes, nem mesmo para ir de Mualadzi a Cateme. A principal via que dá acesso àquela zona residencial não está em condições.
Foto: DW/Amós Zacarias
Rostos do desespero
Torres Avelino Conforme, um dos moradores de Mualadzi, é pai de cinco filhos. Está desempregado. Em Capanga, desenvolvia muitas atividades de rendimento. Aqui, viu-se obrigado recentemente a vender as chapas de cobertura da sua cozinha por 1200 meticais, cerca de 17 euros, porque um dos filhos estava muito debilitado por causa da fome. Pede para voltar a Capanga: "Estávamos bem", afirma.
Foto: DW/Amós Zacarias
Fórum comunitário tenta dar apoio
Crianças e idosos são os mais afetados por todo o sofrimento que se vive em Mualadzi. O fórum comunitário local tenta encontrar formas de ajudar estas camadas sociais.
Foto: DW/Amós Zacarias
Apelos sem resposta
Liliane Rodrigues, presidente do Comité de Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento de Mualadzi, diz que já houve muitas tentativas de convencer as autoridades distritais e provinciais a dar assistência às crianças e idosos locais, mas em vão. Neste momento, a agremiação tenta encontrar apoio para as camadas vulneráveis junto de outras instituições.
Foto: DW/Amós Zacarias
Juventude desmoralizada
Muitos jovens em Mualadzi estão desempregados. Recorrem ao corte de lenha e produção de carvão vegetal, ao longo da Estrada Nacional 7, para sobreviver. Muitos estudaram e já estiveram empregados. Mas, agora, a realidade é outra: faltam oportunidades no bairro de reassentamento.