Em Moçambique, o Conselho Constitucional validou esta sexta-feira (21.12.) os resultados da polémica eleição autárquica de Marromeu, na província de Sofala, de 22 de novembro, que dá vitória a FRELIMO.
Publicidade
A votação da segunda volta em Marromeu, na província central de Sofala, foi marcada por fraudes gritantes com provas evidentes, mas sem nenhuma intervenção para se repor a verdade.
A RENAMO, que viu o seu recurso chumbado pelo Conselho Constitucional, já ameaçou inviabilizar a governação nessa autarquia.
A DW África entrevistou José Manteigas, porta-voz do maior partido da oposição de Moçambique, sobre este assunto que ao que tudo indica vai aumentar ainda mais a tensão no país.
DW África: Como pretendem inviabilizar a governação da FRELIMO em Marromeu?
José Manteigas (JM): Como disse esta manhã na devida altura vai-se verificar essa informação. Isso é uma estratégia e como tal não vamos divulgar o que vamos fazer porque o partido no momento próprio vai deliberar sobre como fazer para que de facto a verdade seja reposta no seu devido lugar.
DW África: O recurso às armas é uma hipóteses a ser colocada em cima da mesa?
JM: A RENAMO nunca recorreu às armas para resolver os problemas. É por isso que sempre foi pela via de negociações, tanto é que sempre tomou a iniciativa de chamar a razão a contra-parte e convidar para ir para a mesa de negociações. Portanto, a RENAMO vai ter outros mecanismos para poder inviabilizar a governação porque de facto aquela autarquia pertence à RENAMO.
Moçambique: RENAMO ameaça inviabilizar governação em Marromeu
DW Africa: A nomeação de quadros da RENAMO para cargos interinos nas Forças de Defesa e Segurança e as irregularidades nas eleições autárquicas voltaram a desencadear tensões entre a RENAMO e o Governo. Existem riscos de se por em causa o processo de paz que estava no bom caminho até há bem pouco tempo?
JM: Mantemo-nos calmos e seremos. O que estamos a exigir é que o Governo da FRELIMO seja sério e que o Presidente da República seja sério e aja de boa fé. Tivemos um grande entendimento que não fala claramente de nomeações interinas. Como é que agora o chefe de Estado, na qualidade de Comandante Chefe das Forças de Defesa e Segurança ordena nomeações interinas? Portanto, são essas questões que pouco a pouco criam conflitos entre os moçambicanos. E se queremos uma nação reconciliada temos que deixar de lado tudo aquilo que causa conflitos, que não é atualmente o caso. Portanto, a FRELIMO está determinada a criar conflitos, talvez porque tira proveito dessa situação com os conflitos que vão surgindo no nosso país.
DW África: Face a esta crescente tensão acha que existem condições para o país realizar eleições gerais daqui a mais ou menos dez meses?
JM: Achamos que sim e queremos convidar a comunidade internacional, que em muitas ocasiões fica digamos indiferente perante essas situações flagrantes, para que nos ajude a resolver esse problema. Se hoje a FRELIMO está a perder popularidade e como forma de se manter no poder pugna por essas artimanhas de fraudes e do não cumprimento do Memorando de Entendimento, que a comunidade internacional lhe chame a atenção e nos ajude a solucionar o problema. As confissões religiosas e a sociedade civil têm uma grande responsabilidade no sentido de nos ajudarem a mantermos esta paz e a reconciliação. E temos vindo a exortar para que isso aconteça, mas até hoje, com exceção de algumas embaixadas, há uma condenação do que aconteceu em Marromeu, mas de uma forma geral há um silêncio absoluto sobre os problemas que estão a acontecer no país e que podem de facto degenerar numa situação insuportável, como aconteceu há mais de dois anos atrás.
Parque Nacional da Gorongosa: uma história de sucesso
Depois de dizimado com a guerra civil moçambicana, muitos desistiram de recuperar a vida sevagem do parque. Mas uma fundação apostou na recuperação. O maior parque de vida selvagem do país é hoje exemplo de prosperidade.
Foto: Gorongosa National Park/Clive Dreyer
Só, nunca mais
O Parque Nacional da Gorongosa tem uma história turbulenta. Até há uns anos, este leão poderia sentir-se solitário, mas entretanto a população de leões cresceu. Hoje o parque tem uma área de mais de 4.000 quilómetros quadrados, com uma zona tampão adicional de 3.300 quilómetros quadrados. Uma relíquia num país de 25 milhões de habitantes.
Foto: Gorongosa National Park/Ticky Rosa
Paisagem de perder de vista
O parque está localizado no extremo sul do Grande Vale do Rift, que vai desde a Etiópia, Quénia e Tanzânia, antes de terminar em Moçambique. Esta característica geológica única cria um enorme vale cercado de planaltos. No geral, cerca de dois terços do vale são constituídos por savana, 20% são pastagens e o restante é área de floresta.
Foto: Gorongosa National Park/James Byrne
Memória de elefante
Embora parte da área do parque tenha sido reservada para zona privada de caça, em 1920, as autoridades coloniais portuguesas criaram o parque nacional até 1960. Depois da guerra de libertação, Moçambique tornou-se independente em 1975. Seguiu-se a guerra civil que terminou em 1992. Alguns elefantes mais velhos estão ainda traumatizados pelo conflito.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
Dias sombrios do parque
Em 1977, dois anos depois da independência, Moçambique mergulhou numa violenta guerra civil. O parque foi duramente afetado. A Resistência Nacional Moçambicana instalou o seu comando central numa zona do parque. As duas partes em conflito dizimaram animais para alimentação e tráfico de marfim, para financiar a guerra. Em 1983, o parque foi encerrado e abandonado.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
O regresso a casa
Depois da guerra civil ter terminado em 1992, o parque permaneceu fechado. Estima-se que entre 90% e 95% da vida selvagem do parque se tenha perdido. Dados daquela altura apontam para apenas 15 búfalos, 5 zebras, 6 leões, 100 hipopótamos e 300 elefantes. Os primeiros animais a regressar foram aves. Hoje, o parque alberga mais de 400 espécies.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Clima especial para circunstâncias especiais
Devido à sua topografia, o parque tem vários microclimas e um ciclo anual de estações húmidas e secas, o que contribui para a sua diversidade.
Num esforço para revitalizar o parque, foram contratados novos funcionários, em 1994, com o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento e da União Europeia. Lentamente, o espaço estava a recuperar, mas às vezes a natureza precisa de uma mão amiga.
Foto: Gorongosa National Park/Paul Kerrison
Esforços de todas as partes
Em 2004, a Fundação Carr, com sede nos Estados Unidos, aliou-se ao Governo de Moçambique num projeto para reconstruir o parque e reintroduzir animais. Um esforço para restaurar vida selvagem devastada. Este projeto piloto teve tanto sucesso que em 2008 a fundação e seu fundador, Gregory Carr, concordaram em continuar a recuperar o parque, acordando numa gestão conjunta por mais 20 anos.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Um verdadeiro final feliz
O Parque Nacional da Gorongosa passou por várias etapas: de reserva de caça privada, a parque nacional e campo de batalha antes de voltar a ser um parque nacional. Nos últimos anos, muitos milhões foram investidos no parque e nas comunidades locais. É a prova viva que a vida selvagem pode renascer das cinzas - com paciência, muita força de vontade e dinheiro.