RENAMO conforma-se com data de início do recenseamento
Sitoi Lutxeque (Nampula)
9 de abril de 2019
Maior partido da oposição moçambicana diz que arranque do recenseamento eleitoral a 15 de abril favorece a FRELIMO, pois resultará "numa inscrição deficitária de eleitores" nos distritos afetados pelo ciclone Idai.
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A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição em Moçambique, está descontente com a nova data para o arranque do recenseamento eleitoral em Moçambique. Mas, em conferência de imprensa, en Quelimane, o chefe da mobilização nacional da RENAMO, Inacio João Reis, anunciou na tarde desta terça-feira (09.04.) que o seu partido "se conforma com a data escolhida".
Após a passagem do ciclone Idai, no centro do país, a FRELIMO, partido no poder, remarcou o início do recenseamento eleitoral, com vista às próximas eleições legislativas e presidenciais de outubro, para o próximo dia 15 de abril, terminando trinta dias depois, ou seja, a 15 de maio.
No entanto, Augusto Fernando, chefe nacional do Departamento de Organização e Estatísticas da RENAMO, considera que o Governo violou a lei eleitoral, por não respeitar o que foi acordado entre os partidos políticos, INGC e os órgãos eleitorais, após a passagem do ciclone Idai, que era de prorrogar a data de início do recenseamento eleitoral entre 45 a 60 dias.
RENAMO e MDM saem prejudicados?
Em entrevista à DW África, este membro da RENAMO explicou que a "dilatação de 15 dias do início do recenseamento eleitoral é pouco clara e obscura, por ter a finalidade de promover uma inscrição deficitária de eleitores – uma vez que houve muita movimentação da população nos seus principais locais de habitação".
Refira-se que em grande parte dos distritos da província do centro do país, assolados pelo ciclone Idai e inundações, os partidos da oposição, sobretudo a RENAMO e o MDM, têm mais simpatizantes. Ou seja, acusa Augusto Fernando, a alteração da data do início do recenseamento, por parte da FRELIMO, "tem em vista a redução de mandatos das quatro províncias". "Aliás, viola grosseiramente a nossa Constituição ao querer privar, deliberadamente, aos cidadãos o direito de eleger e de ser eleito", acrescentou.
Moçambique: RENAMO conforma-se com a data para o início do recenseamento
Por seu turno, a FRELIMO, partido que governa Moçambique desde a sua independência, lembra que não há razão para a oposição "reclamar", uma vez que a RENAMO, assim como o MDM, estão representados nos órgãos eleitorais e que o governo apenas aprovou uma proposta saída deste órgão.
Margarida Talapa, chefe da bancada parlamentar e chefe da brigada central de assistência a província de Nampula, fala em falta de preparação por parte da RENAMO.
"Os partidos com assento no Parlamento moçambicano, nós não devíamos ser os primeiros a por em causa os prazos, porque quem decide e quem propõe são os órgãos eleitorais. Nós, a FRELIMO, temos os nossos membros na Comissão Nacional de Eleições, assim como a RENAMO e o MDM. E estamos preparados para qualquer decisão", afirma.
Margarida Talapa acrescenta que a FRELIMO "não vê nenhuma inconveniência em iniciar o recenseamento eleitoral no dia 15 de abril. Penso que essa avaliação que se faz de que não estamos em condições [de iniciar o processo] e que só estaremos daqui a 45 dias, [mostra que] provavelmente a RENAMO não está preparada para as eleições", disse.
O processo de mobilização de eleitores para adesão nos postos de recenseamento eleitoral teve início, esta segunda-feira (08.04), em todo o país.
Moçambique: Vítimas de ciclone tentam o regresso à normalidade após Idai
Na província de Tete as famílias vítimas do ciclone Idai, aos poucos, vão acordando do pesadelo para encarar a nova realidade. Lutam pela sobrevivência e tentam ao mesmo tempo recuperar os seus pertences.
Foto: DW/A. Zacarias
Rasto de destruição
Estima-se que mais de cinco dezenas de casas ficaram completamente destruídas pelas inundações dos rios Rovúbwe e Zambeze, na cidade de Tete. Foram mais 9 mil pessoas afetadas pelas cheias em toda província de Tete. Muitas das quais, foram desalojadas das suas casas.
Foto: DW/A. Zacarias
Ainda há casas inundadas
Há também muita água estagnada no interior de algumas casas. Muitos bens perdidos. Contabilizam-se também muitos prejuízos materiais.
Foto: DW/A. Zacarias
Limpeza das famílias
Várias famílias estão a regressar aos poucos às zonas de origem, mesmo que sejam consideradas de risco. No Bairro Chingodzi, unidade 03 de Fevereiro as poucas casas que resistiram à fúria das águas do rio Rovúbwe, ainda continuam cheias de lama. Os proprietários esforçam-se em limpezas. Em algumas casas a lama chegou a atingir um 1 metro de altura. Acabando por soterrar muitos bens.
Foto: DW/A. Zacarias
Regressar a casa mesmo que seja em zona de risco
Tatos Fernando, 29 anos de idade. Teve uma casa completamente alagada. Não desmoronou mas tem muitas fissuras. Agora está a construir uma nova casa. Reconhece que está numa zona de risco. Está disponível a abandonar a zona caso o município de Tete e o governo lhe dê um espaço numa zona segura.
Foto: DW/A. Zacarias
Muitas aulas perdidas
Nino Alferes – é um rapaz de 12 anos de idade. Hoje a sua grande preocupação é recuperar as aulas perdidas. Até porque sabe que não será nada fácil. “Perdi todos os meus livros e muita matéria está perdida”, diz Nino. A semelhança de Nino há muitas crianças que perderam tudo e estão a começar do zero.
Foto: DW/A. Zacarias
Medo de Crocodilos e Erosão
Francisco Martinho é um dos sobreviventes. Teve a sua casa alagada, mas resistiu. Tenta recuperar muitos documentos e livros que se molharam devido a invasão das águas. A sua casa corre sérios riscos de desabar devido a erosão sobre o rio Rovúbwe, mas também tem medo de crocodilos, “basta dar 18 horas toda família fica dentro da casa, porque de repente podem aparecer aqui crocodilos”, relatou.
Foto: DW/A. Zacarias
Centro de Reassentamento de Chimbonde
Neste momento, está a ser montado um centro de reassentamento, na região de Chimbonde, cerca de 15 Km do centro da cidade e Tete. No local já estão alojadas mais de 80 famílias. Foram igualmente demarcados mais de 140 talhões. Mas há ainda talhões por demarcar, segundo Richard Baulene. O outro centro será montado no bairro Mpádue.
Foto: DW/A. Zacarias
Garantidos serviços básicos em Chimbonde
No centro de reassentamento de Chimbonde, cada família recebe uma tenda, feita com lonas, fixadas em estacas, num talhão de 15/20 metros. No local estão garantidos alguns serviços básicos, como água, saneamento de meio, serviços sanitários e está para breve a eletrificação da zona.
Foto: DW/A. Zacarias
Chegam mais famílias no Chimbonde
Não obstante os desafios que lhes esperam pela frente de reiniciar a vida numa nova zona os reassentados de Chimbonde mostram-se felizes por considerar o local seguro. No centro, a DW ÁFRICA encontrou mais de 30 voluntários da Cruz Vermelha que estão ajudando na construção das tendas improvisadas para os reassentados.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias continuam abrigadas
Na cidade de Tete, mais de 600 famílias estiveram abrigadas no Centro de Acomodação da Escola Comercial e Industrial de Matundo. Em Tete foram montados 5 centros dos quais 3 nos distritos de Mutarara e Doa. Continuam abrigadas no centro da Escola Industrial de Matundo mais de 200 famílias, cerca de 1000 pessoas. Algumas famílias estão em tendas, mas outras dormem num salão multi-uso da escola.
Foto: DW/A. Zacarias
Erosão Pós-cheias
Jorge Mafalauzi, tem 30 anos de idade. É pai de 4 crianças. Sabe que tinha uma casa de 3 quartos. A água levou tudo. Pior ainda, agora não consegue chegar onde era sua casa, porque devido à erosão o lugar foi invadido pelo leito do rio Rovúbwe. Mafalauzi vive numa tenda oferecida pelo INGC, próximo da sua antiga casa, nas bermas do rio Rovúbwe e fala de falta de mais apoios do Instituto.