Denúncias de irregularidades neste processo de recenseamento eleitoral, em curso desde o dia 15 de abril, vêm de todas as regiões da província da Zambézia.
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Numa altura em que a delegação provincial da RENAMO na Zambézia pede a prorrogação do processo de recenseamento na província, o maior partido da oposição em Moçambique acusa o partido no poder, a FRELIMO, de orientar os brigadistas no sentido de somente recensearem os membros do partido, prejudicando desta forma a grande maioria da população.
Denúncias de irregularidades neste processo de recenseamento eleitoral, em curso desde o dia 15 de abril, vêm de todas as regiões da província da Zambézia. Maquinas avariadas, falta de energia e painéis solares, são algumas das inúmeras reclamações feitas pelos partidos políticos.
Prolongamento da data do processo?
Em declarações à DW África, o delegado da RENAMO em Quelimane, Latifo Charifo, pediu que o processo seja prolongado por forma compensar os dias em que o mesmo teve de enfrentar várias anomalias."Quando vejo na televisão o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) a dizer que não haverá prorrogação do período de recenseamento, sinto muita pena porque sinceramente não sei onde as pessoas querem chegar com esse tipo de atitude. A data do processo tem que ser prorrogada para dar oportunidade as pessoas que ainda não se recensearam. Não se deve esquecer que o recenseamento começou com um atraso de 15 dias", revelou o político.
Moçambique: RENAMO pede mais dias para recenseamento na Zambézia
Na última segunda-feira (20.05.), a CNE convidou organizações e partidos políticos para uma análise do processo em curso ao nível da província da Zambézia.
Segundo Listano Evaristo do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), "o processo de recenseamento na cidade de Quelimane, está a ser uma dor de cabeça para os partidos políticos. É verdade que o processo está mais simples na cidade de Quelimane, mas acrescentaria que o mesmo não diria para os distritos. Para uma pessoa recensear-se é preciso que seja membro da FRELIMO. Isso não é correto", destacou.
Por seu turno, Eliseu Bento, da FRELIMO, nega a acusação do membro do MDM e diz que "isso não constitui verdade porque se é o partido do dia que esta a recensear significa que mobilizou os seus membros e todos estão lá presentes… Não é possível ser só o partido no poder que vai recensear enquanto os outros cidadãos estão lá. Não sei qual é o tipo de organização que só e só os membros o partido no poder são recenseados e os outros não", concluiu.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.