RENAMO quer reintegração mais rápida de ex-guerrilheiros
Sitoi Lutxeque (Nampula)
18 de fevereiro de 2022
O processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos guerrilheiros residuais da RENAMO está praticamente paralisado, acusa o maior partido da oposição moçambicana. E apela para um processo mais célere.
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O porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), José Manteigas, confirmou à DW África que se regista uma paralisação do processo de desmobilização e reintegração do braço armado do partido desde a segunda semana de dezembro. Na altura foi encerrada a primeira base militar da RENAMO no distrito de Murrupula, província de Nampula.
Manteigas insiste que não há, para já, motivo para preocupação. "O DDR está a correr, apenas tem algum sobressalto, sobretudo, por causa das férias [de Natal e fim de ano]", assegura.
O porta-voz recusou comentar rumores sobre faltas no pagamento de pensões a alguns ex-guerrilheiros. Questionado pela DW África sobre o grau de satisfação da RENAMO com o decorrer do processo, José Manteigas realçou a complexidade do DDR. "Cada etapa é sempre uma evolução do processo", disse.
RENAMO pede mais cargos no exército
Na quarta-feira (16.02), o Presidente da República, Filipe Nyusi, empossou onze novos chefes superiores das Forças de Defesa e Segurança (FDS), entre eles o ex-combatente da RENAMO, Messias André Limposso. Foi pouco, disse Manteigas.
"O ideal era que tivéssemos um maior número de oficiais, para alcançar a paridade", explicou o porta-voz, ressalvando: "Nós entendemos que é um sinal positivo enquadrar um oficial oriundo das forças da RENAMO numa posição de relevo".
Presidente satisfeito com DDR
Recentemente, ao realçar que mais de 60% dos 5.200 ex-guerrilheiros da RENAMO já estão "abrangidos pelo processo", o Presidente Nyusi admitiu atrasos no DDR. "Explicámos [à União Europeia]porque houve alguma ligeira demora e eles sabem disso, porque fazem parte do processo", disse Nyusi, agradecendo a parceria da UE.
A RENAMO reforçou os apelos ao Governo da FRELIMO para respeitar o compromisso assumido no pacote do DDR e estendeu o apelo aos parceiros do mesmo. Desde junho de 2020 foram encerradas onze bases, estando desmobilizados 63% de todos os beneficiários do DDR.
Gonçalo Mabunda: a arte pacífica das armas
O artista moçambicano Gonçalo Mabunda transforma armas em objetos de arte para promover a paz no país. Mabunda recolhe as armas usadas em 16 anos de guerra civil para criar máscaras e cadeiras.
Foto: R. da Silva
Artista universal
Gonçalo Mabunda começou a trabalhar no meio artístico da capital moçambicana, Maputo em 1992. Na altura colaborava no Núcleo de Arte como assistente de galeria. Hoje expõe a sua arte em todo o mundo, tendo passado com as suas obras por cidades como Tóquio, Londres e Düsseldorf. Por onde passo,: “as pessoas quando vêem estes trabalhos ficam curiosas" e entusiasmadas, conta.
Foto: R. da Silva
Tronos irónicos
A oficina está cheia de restos de espingardas, AK-47, rockets e cadeiras feitas com recurso a estes artefatos. No seu site online, Mabunda diz que os tronos - uma das suas imagens de marca - funcionam como atributos do poder, símbolos tribais e peças tradicionais de arte étnica africana. São ainda um comentário irónico à experiência de violência que viveu em criança na guerra civil moçambicana.
Foto: R. da Silva
Recolha de material
Em 1995, o Conselho Cristão de Moçambique lançou o projecto "Transformar Armas em Enxadas". O projeto continua a ser um dos fornecedores do material de que o artista precisa para criar as suas peças. Mas hoje em dia, contou Mabunda à DW África "também consigo comprar artefactos de guerra já destruídos" na sucata.
Foto: R. da Silva
Arte com assistência
Gonçalo Mabunda precisa de assistentes para completar as suas obras. O material bélico desativado exige um tratamento especial para poder ser trabalhado artisticamente. Mabundo orienta os seus ajudantes. Mas acrescenta que também troca ideias com eles, criando uma obra conjunta. Algo que, na sua opinião, os políticos também deviam fazer.
Foto: R. da Silva
A cara da guerra
O artista conta que muitas pessoas ficam impressionadas com a capacidade de transformar em arte positiva material usado para semear a morte e a miséria. Como ainda acontece em Moçambique hoje. Mabunda não poupa críticas aos governantes: "Estamos perante uma situação em que apenas um grupinho de pessoas é que decide sobre como é que queremos viver.”
Foto: R. da Silva
A cara da guerra
A situação de conflito que o país atravessa novamente preocupa o artista: “Foram 16 anos de guerra e 22 de paz. Quem nasceu em 1992 vivia em liberdade. E agora nem sei explicar como voltámos a esta situação.” Talvez por isso as máscaras que produz com o material de guerra tenham um ar mais assustado do que assustador.
Foto: R. da Silva
As armas falam de paz
As armas também podem falar de paz. Pelo menos aquelas que passaram pelas mãos de Mabunda. As máscaras que cria exprimem o horror da matança. O percurso de Mabunda passou pela África do Sul, mais precisamente Durban, graças à ajuda do artista sul-africano, Andreies Botha. Aos 18 anos, Mabunda teve a possibilidade de ali fazer um curso de metal e bronze, como contou ao semanário português Expresso.
Foto: R. da Silva
Reconhecimento internacional
Nascido em 1975, Mabunda trabalha como artista a tempo inteiro desde 1997. Optando por reciclar material bélico criou um estilo muito próprio, hoje reconhecido em todo o mundo. Sobreposta à arte está a mensagem de promoção da paz, num país em que as armas que falam da guerra ainda não se calaram.