Reserva do Niassa há um ano sem mortes de elefantes
AP | tms
15 de junho de 2019
Parque no norte moçambicano celebra um ano sem registar elefantes mortos por caçadores furtivos. Segundo ONG, fim da matança de animais na Reserva Nacional do Niassa deve-se ao reforço na fiscalização.
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Uma das maiores reservas de vida selvagem em África completa um ano sem um único elefante vítima de caçadores furtivos, o que os especialistas chamam de um desenvolvimento extraordinário numa área maior do que a Suíça, onde milhares de animais foram abatidos nos últimos anos.
A aparente reviravolta na Reserva Nacional do Niassa, no norte de Moçambique, surge após a introdução de uma força policial de intervenção rápida e patrulha e resposta mais assertivas por via aérea, segundo a Wildlife Conservation Society, organização não governamental sediada em Nova Iorque, que gere a reserva com o Governo de Moçambique e vários outros parceiros.
A monitorização da vasta reserva com meios aéreos e patrulhas a pé permanece incompleta e depende da amostragem, no entanto. E apesar do sinal de progresso, pode levar muitos anos para que a população de elefantes do Niassa se reconstitua até aos níveis anteriores, mesmo que a caça furtiva seja mantida sob controlo.
Anos anteriores
A caça furtiva ao longo dos anos reduziu o número de elefantes do Niassa de aproximadamente 12 mil exemplares da espécie para pouco mais de 3,6 mil em 2016, de acordo com uma pesquisa feita pela ONG. Estratégias anti-caça furtiva de 2015 a 2017 reduziram o número de animais mortos, mas o grupo de ambientalistas classifica a taxa como ainda muito alta.
As novas intervenções, com o Presidente moçambicano Felipe Nyusi autorizando pessoalmente a força de intervenção rápida, são "uma chance genuína de recuperação" para os elefantes, disse o grupo ambientalista.
"É uma conquista notável", disse James Bampton, diretor da Wildlife Conservation Society, à agência de notícias Associated Press. A última vez que um elefante na reserva do Niassa foi morto por um caçador ilegal foi a 17 de maio de 2018, disse Bampton, que aponta a vontade política como um dos fatores que contribuíram para o sucesso das medidas de proteção à vida selvagem no Niassa.
Entretanto, Bampton reconheceu que o baixo número de elefantes restantes também é um fator no declínio da caça furtiva. Há um ano, ele estimou que menos de 2 mil elefantes estivessem no Niassa, embora ele agora diga que a análise preliminar dos dados de uma pesquisa realizada em outubro e ainda não publicada indica que cerca de 4 mil elefantes estão na reserva.
Ainda assim, um ano sem registos da caça furtiva de elefantes na extensa Reserva do Niassa atraiu exclamações de alguns especialistas em vida selvagem. "É um desenvolvimento muito importante. Isso representa um grande sucesso", disse George Wittemyer, presidente do conselho científico da organização Save the Elephants, sediada no Quénia.
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.