Sala da Paz pede mais preparação para eleições em Moçambique
Sitoi Lutxeque (Nampula)
25 de maio de 2018
Plataforma de observação eleitoral moçambicana defende uma maior preparação dos políticos e da sociedade civil face ao novo modelo de eleição, que entra em vigor em outubro. Sala da Paz acredita que processo será tenso.
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A revisão constitucional aprovada esta quarta-feira (23.05) pelo Parlamento é aplaudida não só pelos partidos políticos, mas também pelas organizações da sociedade civil, que entendem que foram dados passos largos para uma paz duradoura em Moçambique.
Uma delas é a Sala da Paz, uma plataforma de observação eleitoral composta por organizações da sociedade civil, que surgiu este ano por causa das eleições intercalares de Nampula.
Hermenegildo Mulhovo, director-executivo do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), organização que criou a Sala da Paz, acredita que as próximas eleições em Moçambique serão "tensas".
"Para este ano, com a atual reforma que está a fazer-se da descentralização e consequentemente a utilização de um novo modelo de cabeças de lista e a possibilidade de não existência de eleições intercalares, estamos a prever eleições bastante tensas", diz. "Os partidos políticos vão querer logo na volta única determinar os resultados e isso traz bastante desafios", acredita Mulhovo.
Desafios do novo modelo
Com a aprovação da proposta de revisão constitucional, os presidentes de municípios passam a ser eleitos também como cabeças de lista à assembleia municipal, já a partir das eleições de 10 de outubro de 2018.
Sala da paz.... - MP3-Mono
Até aqui, a votação era direta, em boletins de voto próprios, como acontecia desde as eleições autárquicas de 1998.
O responsável do Instituto para a Democracia Multipartidária fala em "desafios de aprendizagem" por causa do novo modelo. "Porque teremos cabeças de listas - e isso já foi amplamente discutido -, mas não sabemos qual é a disposição no boletim de voto", lembra.
Smartphones para monitorizar eleições
Nas eleições de outubro, a Sala da Paz vai fiscalizar o processo em 16 dos 53 municípios do país, incluindo Nampula, Beira, Quelimane, Guijá, Tete e Maputo, entre outros mais propícios a "potenciais conflitos", adiantou à DW África Hermenegildo Mulhovo.
"Nós definimos [esses 16 municípios] por serem aquelas zonas onde obtivemos resultados mais ou menos equilibrados no que diz respeito à representação da oposição e do partido no poder. Normalmente, esses são os locais onde os conflitos têm sido maiores nas eleições porque há uma grande competição para vencer as eleições'', explica.
Além das brigadas de observação que serão enviadas para os locais de voto, a Sala de Paz quer usar também smartphones para publicar "informações pertinentes" sobre o processo em tempo real, à semelhança do que aconteceu nas eleições intercalares de Nampula.
Sobre o recenseamento eleitoral que terminou a 17 de maio, a Sala da Paz detetou muitas irregularidades no país, principalmente em Nampula. Por isso, Hermenegildo Mulhovo deixa um conselho. "É necessário que os órgãos de gestão eleitoral se preparem no sentido de colmatar todos os problemas, quer sob o ponto de vista da logística, quer dos próprios agentes nas mesas", defende. "Aprendemos bastante de Nampula. As eleições foram de qualidade, apesar de alguns sobressaltos'', conclui Mulhovo.
Eleições intercalares em Nampula
Já teve início em Nampula, norte de Moçambique, o ato eleitoral que elegerá o sucessor de Mahamudo Amurane. As eleições decorrem até às 18h00 e contam com cerca de 300 mil eleitores e cinco candidatos nos boletins.
Foto: DW/S. Lutxeque
Munícipes chegam cedo
Um pouco por toda a província, os munícipes responderam positivamente ao apelo da CNE para votarem o mais cedo possível e começaram a marcar lugar nas filas para as assembleias de voto duas horas e meia antes da abertura das urnas. As urnas estão abertas até às 18:00, com 296.590 eleitores inscritos e cinco candidatos nos boletins de votos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Atrasos na abertura das urnas
Sete horas da manhã desta quarta-feira (24.01.) era o horário previsto para a abertura das 54 assembleias de voto, mas algumas só começaram a funcionar uma ou duas horas mais tarde. Os atrasos registaram-se nos postos de votação instalados nas escolas de Muthita, 12 de Outubro, Mpuecha, Namicopo e Nahene, entre outros.
Foto: DW/S. Lutxeque
Denúncia de ilegalidades
Durante a manhã, Mário Albino, candidato do movimento AMUSI, denunciou a presença "de novos eleitores que não constam nos cadernos eleitorais". As declarações foram feitas depois de ter ido votar. Mário Albino mostrou-se satisfeito e confiante na vitória. Para estas eleições, foram credenciados 1200 observadores nacionais e internacionais e cerca de 150 jornalistas nacionais.
Foto: DW/S. Lutxeque
CNE garante normalidade no processo
Daniel Ramos, presidente da Comissão Provincial de Eleições, negou as acusações. Segundo este responsável, o processo eleitoral está a decorrer sem problemas. Sobre o atraso na abertura de mesas da assembleia de voto, Daniel Ramos explica que ficou a dever-se às chuvas que caíram durante a noite de ontem e início desta manhã.
Foto: DW/S. Lutxeque
Falta de material
Também a plataforma de observadores eleitorais que acompanha o processo denunciou, à margem de uma conferência de imprensa, algumas irregularidades na abertura das eleições. Entre elas, a falta de material de votação. Segundo a organização, 57% das 401 assembleias de voto abriram à hora estipulada. As restantes abiriram com um atraso de cerca de uma/duas horas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Assembleia de voto encerrada
A votação foi interrompida na Escola Comunitária de Malimusse. Membros do MDM paralisaram o processo devido a erros nos cadernos eleitorais. Luísa Morroviça (na foto), fiscal do MDM, afirma que o seu partido “não vai admitir brincadeiras do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral. A assembleia de voto em causa já admitiu o problema e confirma que a votação está interrompida desde manhã.
Foto: DW/S. Lutxeque
Cinco candidatos na corrida
Disputam o cargo de presidente do Município de Nampula Carlos Saíde do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Amisse Cololo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Paulo Vahanle da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Filomena Mutoropa do Partido Humanista de Moçambique (PAHUMO) e Mário Albino Muiquissince da Ação Movimento Unido Para Salvação Integral-Nampula (AMUSI).
Foto: DW/S. Lutxeque
Mandato curto
O MDM venceu as últimas eleições, em 2013, com 53,84% dos votos e a FRELIMO, que lidera o Governo em Moçambique, arrecadou 41,04%. Na altura, a RENAMO boicotou as autárquicas. Para além de contarem com mais candidatos, estas eleições diferenciam-se ainda pelo curto mandato que vão ditar, uma vez que as eleições autárquicas em Moçambique estão marcadas para 15 de outubro deste ano.