Há um novo partido, o PODEMOS, e foi criado pela AJUDEM, que apoiou Samora Machel júnior nas autárquicas de 2018. O PODEMOS pondera ter Samora Machel Júnior como candidato às presidenciais, mas Samito diz que é FRELIMO.
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O PODEMOS foi criado por membros da AJUDEM, uma associação ligada à FRELIMO. O descontentamento interno no seio do partido no poder impulsionou a criação do novo partido em Moçambique, como revela Albino Forquilha, membro do PODEMOS.
"Surge das bases da FRELIMO e é a continuação do que aconteceu em 2018 quando as bases da FRELIMO decidiram colocar alguém que seria apropriado para a mudança dentro da FRELIMO e este propósito não foi aceite, houve um processo anti-democrático e a vontade das bases não prevaleceu. O que fizemos foi trabalhar para que no ano seguinte pudessemos estabelecer um partido político."
A AJUDEM apoiou Samora Machel Júnior, membro da FRELIMO, a candidatar-se às eleições autárquicas de 2018 para o município de Maputo. A pretensão foi entretanto travada através de elementos de natureza formal.
Samora Machel Júnior é uma opção a considerar como candidato presidencial do PODEMOS? Albino Forquilha não hesita: "É sim, é sim."
Samito distancia-se do PODEMOS
Samito, como também é conhecido o filho do primeiro Presidente de Moçambique independente, enfrenta um processo disciplinar na FRELIMO por ter pretendido candidatar-se às autárquicas como independente e com o apoio da AJUDEM.
Esperava-se um desfecho sobre o assunto no comité central da FRELIMO no começo de maio, mas tal não aconteceu. Várias correntes já advinhavam que o caso Samito seria colocado em "banho maria" com a intenção clara de travar possíveis ambições eleitorais suas este ano.
Falamos com ele e perguntámos: Caso seja convidado a ser o candidato da PODEMOS para as presidenciais deste ano aceitaria?
"Como vou fazer uma coisa dessas? Eu sou da FRELIMO e estou na FRELIMO", respondeu Samora Machel Júnior.
E acha que há condições para continuar dentro do partido FRELIMO? "Se não houvesse já teria saído", atira.
Não há alinhamento: Há carta na manga?
Estamos, então, diante de posições antagónicas entre Samora Machel Júnior e os seus apoiantes. Será uma jogada estratégica para, por exemplo, forçar mudanças no partido no poder?
Moçambique: Samito distancia-se do partido PODEMOS
Seja qual for a motivação nessa história toda, o evidente, para o analista político Silvestre Baessa, é que Samito não se vai atirar do precipício: "Estamos a falar de eleições gerais, de um país grande, de uma grande capacidade de mobilização para cobrir este país e para concorrer. Não acho que Samora Machel Júnior a ter de se lançar estaria interessado apenas em participar, acho que ele precisaria de ter uma máquina muito melhor preparada para concorrer."
E Baessa lembra ainda que "as máquinas melhores preparadas para concorrer em eleições desta dimensão, para além da FRELIMO é a RENAMO. Pode ser que o MDM tenha construído alguma capacidade, mas isso leva tempo e não creio que esse tempo, mesmo com esses apoios internos, seja o suficiente para fazer a mudança para lhe projetar tal como ele pretende ser projetado neste processo."
Já se pode falar em cisão na FRELIMO?
Os membros da PODEMOS são todos dissidentes da FRELIMO e lutam, entre outras coisas, pela democracia interna no novo partido, a separação nítida de poderes, o combate à corrupção e a dignidade dos moçambicanos, recuperando os valores da luta de libertação nacional.
Face à fragmentação na FRELIMO e ao caso Samito, é prematuro falar em cisão, no caso histórica, no único partido que governou Moçambique até ao momento?
"É prematuro. O que vamos ter possivelmente é um determinado grupo de frelimistas omisso, não vão participar nesse processo eleitoral", responde Baessa.
E o analista diz que "é preciso lembrar o seguinte: a FRELIMO hoje é mais do que um partido, acho que a FRELIMO hoje é uma máquina que sustenta uma elite nacional a qual independentemente das diferenças que se possa ter, o que os une é o facto da FRELIMO manter-se no poder. A única forma dessa elite sobreviver, no meu entender, é com a FRELIMO no poder."
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.