A multinacional Sasol abandonou o projeto para explorar petróleo e gás no bloco 16/19 em Inhambane e em Sofala. Centro de Integridade Pública (CIP) diz que projeto não era viável e operadores turísticos falam em alívio.
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Desde 2005, a multinacional Sasol detinha uma licença para a prospeção de hidrocarbonetos (petróleo e gás) ao longo da zona do arquipélago de Bazaruto, em Inhambane, e parcialmente na província de Sofala. Mas no âmbito das consultas públicas sobre o impacto ambiental do projeto, houve protestos por parte da população, dos operadores turísticos e a da sociedade civil que se mostraram indignados porque o plano não beneficiava a comunidade local.
"A própria Sasol mencionou que uma das grandes causas está relacionada com questões ambientais", afirma Inocência Mapisse, do CIP. "A outra causa que se advoga é que a Sasol estava com alguns problemas financeiros porque realizou alguns investimentos por via de endividamento e atualmente não permitiam à Sasol avançar com o projeto porque não se apresentava potencialmente viável", explica a investigadora.
Cipriano Neto, um operador turístico em Bazaruto, disse à DW África que o projeto da Sasol só poderia danificar o ecossistema, causando o desaparecimento de muitas espécies marinhas que servem de cartão de visita para o turismo na região.
"São elas que fazem com que os turistas de todo mundo venham para aqui ver e conviver em paz. E assim que terminar esta pandemia os nossos clientes hão-de ter vontade de regressar e fazer o turismo avançar o nosso país. Aquele é o santuário de animais que já estão em extinção", sublinha.
Biodiversidade em risco
Ilídio Wamusse, representante da African Park, uma organização vocacionada para a preservação do meio ambiente em Bazaruto, explica que o bloco 16/19 onde a Sasol pretendia implantar o projeto danificaria a biodiversidade.
"É uma área que coincide com uma zona que o plano de maneio do parque nacional do arquipélago de Bazaruto propõe que seja uma área de proteção ambiental por causa das condições em que a principal espécie de proteção costuma imigrar para aquela região, os danos poderia afectar esta biodiversidade que estamos a proteger", diz.
A DW África tentou, sem sucesso,ouvir o Governo e a Sasol sobre a decisão do abandono do projeto de pesquisa de petróleo e gás.
Inocência Mapisse, do CIP, alerta que não basta cancelar o projeto: "O que deve ser monitorizado é se, de facto, a licença será devolvida ao Governo, como é que isso se vai fazer e quais são os documentos que comprovam esta devolução do bloco 16/19."
Ilha de Santa Carolina: paraíso abandonado
A ilha de Santa Carolina é uma pérola no arquipélago de Bazaruto, na província moçambicana de Inhambane – tem praias paradisíacas e uma grande riqueza natural. Mas tem um problema: edifícios ao abandono.
Foto: DW/L. da Conceição
Um paraíso na terra
A ilha de Santa Carolina, na província moçambicana de Inhambane, tem praias paradisíacas, com areia branca e águas cristalinas. E poucos a visitam. Mas a ilha tem um problema: com os conflitos armados da década de 70, vários edifícios ficaram ao abandono, incluindo um hotel que tinha 100 camas, campos de ténis e até um spa. Há quem acredite que a ilha está assombrada.
Foto: DW/L. da Conceição
Visita não é para todos
Viajar até à ilha de Santa Carolina sai caro - chega a custar o equivalente a 100 euros por pessoa. Antes, era possível ir até à ilha em pequenos aviões. Mas agora o barco é a única forma de lá chegar. Uma viagem pode demorar mais de quatro horas, em barcos públicos. Os barcos privados chegam lá em metade do tempo, mais saem mais caros.
Foto: DW/L. da Conceição
"Praia dos Namorados"
O antigo proprietário do hotel de Santa Carolina, hoje em ruínas, costumava trazer os amigos para a região para passar férias. Diz-se que eles gostavam de vir a este local, a que chamaram de "Praia dos Namorados". Antes de a ilha ficar ao abandono, várias celebridades sul-africanas também terão passado por aqui. Quem não gostaria de tirar férias, andar por aqui e nadar nestas águas cristalinas?
Foto: DW/L. da Conceição
Os guardiães da ilha
A ilha de Santa Carolina é protegida por guardas. Quem quiser entrar aqui tem de pagar uma taxa, cujo montante varia consoante as atividades a serem praticadas na zona. Mas os guardas precisam de equipamentos - barcos, por exemplo.
Foto: DW/L. da Conceição
Vista paradisíaca
Daqui dá para imaginar que a vista deste hotel sobre as águas do Oceano Índico seria paradisíaca. Mas o edifício está lentamente a ficar em ruínas.
Foto: DW/L. da Conceição
Outros empreendimentos
Foi um cidadão português, Joaquim Alves, quem construiu o hotel na ilha de Santa Carolina. O empresário tinha outros empreendimentos na costa moçambicana, incluindo o hotel "Dona Ana", na vila turística de Vilankulo. "Dona Ana", esposa de Alves, era conhecida pelos piripiris que fazia para os restaurantes. O hotel ainda funciona em Vilankulo, com novos proprietários.
Foto: DW/L. da Conceição
Mais sinais de abandono
Na ilha de Santa Carolina, este era um local de hospedagem anexo ao edifício principal do hotel. O empreendimento de Joaquim Alves deixou de funcionar em 1973. Hoje, diz-se que o local está assombrado.
Foto: DW/L. da Conceição
Renascer das ruínas
Novos empresários preparam-se para reabilitar esta zona. O Grupo Echos Delta Holding Lda, de origem britânica, detém o título de concessão da ilha de Santa Carolina desde 2006 e pretende renovar uma parte do antigo hotel, juntamente com sócios moçambicanos e portugueses.
Foto: DW/L. da Conceição
Lugar de golfinhos
Por enquanto, os golfinhos aproveitam o sossego da ilha de Santa Carolina e vão brincando com os visitantes, que vêm e vão de barco. Entretanto, as águas devoram cada vez mais a ilha. As alterações climáticas estão a transformar este habitat.