Residentes e pesquisadores repudiam implementação do projeto devido a fatores ambientais e recomendam um estudo completo sobre o impacto. Proposta abrange as províncias de Inhambane e Sofala.
Publicidade
A empresa multinacional Sasol apresentou um projeto de aquisição sísmica e perfuração no mar para o bloco 16/19 que abrange as províncias de Sofala e Inhambane, em Moçambique. Gestores detalharam o projeto durante uma auscultação pública que teve lugar na cidade de Inhambane esta sexta-feira (05.07). De acordo com os participantes, a empresa foi muito criticada pelo facto de violar os acordos já existentes na exploração de gás
Getrudes Namburete, representante do Centro Terra Viva, organização não-governamental ambiental de Inhambane, afirma que a Sasol deve explicar o que está à procura exatamente, porque as comunidades afetadas estão com dúvidas sobre o novo projeto da empresa.
Sasol tem novo projeto para exploração de hidrocarbonetos
"Os pescadores possivemente não poderão entrar para o mar. Como é que fica a situação dos pescadores desta área? A Sasol explicou que está à procura de hidrocarbonetos. O que está a procurar exatamente, gás ou petróleo?", questionou.
Andrea da Silva, pertecente à organização da sociedade civil Arquitetos sem Fronteira, revela que o projeto gera muitas dúvidas para a sustentabilidade das comunidades abrangidas. "Como podemos garantir a sustentabilidade dos recursos pesqueiros se houver esta perfuração císmica ou petrolífera?", critica.
Poucos benefícios
Portanto, recordando os antigos projetos da Sasol em Inhambane, onde está a explorar gás há mais de dez anos, os residentes locais não têm se beneficiado dessa exploração e, por isso, pedem mais formação para os jovens para que não sejam excluídos nas oportunidades de emprego.
"A Sasol deve pensar como formar nossos filhos aqui para no futuro fazerem parte do projeto, para não virem sempre pessoas de Maputo e nós sermos chamados só para erguer casas", explica Carlos José Maria, líder comunitário na cidade de Inhambane.
O estudo do impacto ambiental foi levado a cabo pela empresa Golden Associados Moçambique Limitada e deve ficar pronto até setembro.
O geógráfo moçambicano e docente universitário em Inhambane, Amário João, disse que é preciso a integração e uma análise metodológica para se identificar a potencialidade dos recursos existentes. "Integrar várias metodologias de análise dos impactos ambientais. Há uma necessidade de interação de métodos e, de mais, o que vai acontecer depois de se identificar as potencialidades que existem lá", diz.
Tashiq Naicker, gestor do projeto, explicou que a empresa Sasol está à procura dos hidrocarbonetos, mas, sem detalhar, afirma que a empresa vai avançar se o projeto for aprovado pelo Governo moçambicano.
"Estamos à procura realmente de hidrocarbonetos, pode ser gás ou petróleo. Nós ainda não temos certeza o que temos, mas aquilo que for encontrado vai ser levado ao Governo no sentido de termos uma aprovação para avançar", explicou.
Por sua vez, José Matsinhe, representante do Governo, diz que é preciso recolher todas as contribuições para que o projeto beneficie todos os moçambicanos.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
Foto: AP
Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
Foto: picture-alliance/Tong jiang
Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
Foto: picture-alliance/dpa
Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
Foto: Imago
Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
Foto: AFP/Getty Images
Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
Foto: Reuters
Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.