Moçambique: Corrida à presidência do MDM está ao rubro
Sitoi Lutxeque (Nampula)
20 de julho de 2021
Membros do MDM anunciaram apoio total ao atual secretário-geral daquela força política, José Domingos Manuel, na sucessão de Daviz Simango na liderança partidária. Responsável admite anuir à vontade do partido.
Publicidade
A corrida eleitoral interna no Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira maior força política moçambicana, está ao rubro. Vários militantes na província nortenha de Nampula pedem a candidatura do atual secretário-geral, José Domingos Manuel, à sucessão de Daviz Simango na liderança do MDM.
O apoio chega principalmente de alguns quadros de relevo no partido, como por exemplo Luciano Tarieque, ex-delegado político da cidade de Nampula e atual membro do secretariado-geral, André Américo, membro do Conselho Nacional, e Manuel Tocova, o antigo e polémico presidente interino da autarquia de Nampula.
Luciano Armando Tarieque, porta-voz dos apoiantes, explicou à DW África que o atual secretário-geral do partido tem larga experiência na gestão pública, qualidades que lhe valeram a confiança do antigo líder, Daviz Simango.
"Achamos que o José Domingos é a pessoa ideal para assumir os destinos futuros do partido, assim como está a assumir agora", disse.
Publicidade
Três figuras na corrida
Existem, atualmente, três figuras partidárias que são apontadas internamente como possíveis candidatos à sucessão de Daviz Simango: José Domingos Manuel, Lutero Simango e Silvério Ronguane. Destes nomes, apenas o deputado Silvério Ronguane já manifestou publicamente a sua intenção em aderir à corrida.
Para Luciano Tarieque, José Domingos Manuel deve avançar e apresentar a sua candidatura à presidência do partido.
"Ele não nos disse que quer concorrer, mas deve concorrer. Queira ou não, deve concorrer. Nós é que queremos que ele concorra. E pela força dos membros e pela maioria, terá de concorrer", reforçou.
Os membros do MDM em Nampula não anseiam ter Lutero Simango à frente dos destinos do partido. Trata-se do irmão mais velho do então presidente Daviz e é apontado como um dos prováveis candidatos.
"Primeiro a idade dele, segundo ele já foi presidente de um partido [o extinto Partido de Convenção Nacional-PCN]", refere Luciano Tarieque.
"De algum modo ele não deve substituir o seu irmão, uma vez que o partido passará a ter um outro nome... Aliás estaremos aqui a legitimar os discursos do Venâncio Mondlane, Manuel de Araújo e [António] Frangoulis que apontam para um partido-família e isso nós não queremos", frisou.
José Domingos Manuel admite entrar na luta
José Domingos Manuel confirmou à DW África que ainda não se manifestou sobre a sua candidatura, mas poderá entrar na luta pela sucessão de Daviz Simango, em respeito à vontade dos membros.
"Esse [apoio] está a acontecer um pouco por todos os lados, mas a última pessoa a decidir sou eu. Mas também quem sou eu para negar a vontade da maioria, se assim for. Tenho que ponderar e poderei decidir a favor dos pensadores, porque são missões políticas e quem decide é o partido", admitiu.
Sobre a provável candidatura do irmão mais velho de Daviz Simango, o secretário-geral diz que "em nenhuma parte os nossos estatutos e/ou ordenamento excluem a candidatura por essa afinidade, portanto, não tem nada a ver; ele é membro como qualquer um", afirmou.
As candidaturas para o preenchimento do lugar deixado por Simango, falecido em fevereiro deste ano na vizinha África do Sul, vítima de doença, terminam a 30 de setembro, sendo que as eleições para a presidência do partido realizar-se-ão em dezembro próximo.
Dez líderes africanos que morreram em exercício
A população costuma acompanhar com atenção o estado de saúde dos altos dirigentes – muitos especulam atualmente, por exemplo, sobre a saúde do Presidentes da Nigéria. Vários chefes de Estado já morreram em exercício.
Foto: picture-alliance/dpa
John Magufuli, Presidente da Tanzânia
Morreu a 17 de março de 2021, doente. O seu estado de saúde, pouco antes da falecer, esteve em volto a muito secretismo. Assumiu a liderança do país em 2015 e boa parte do seu povo enaltece os seus feitos, tais como a melhoria dos sistemas de saúde, educação e transporte. Mas também foi contestado por algumas políticas duras e por perseguir os seus críticos.
Foto: Sadi Said//REUTERS
1) Malam Bacai Sanhá, Presidente da Guiné-Bissau (2012)
Malam Bacai Sanhá morreu em 2012. Ele sofria de diabetes e morreu em Paris, aos 64 anos, menos de três anos depois de chegar ao poder. Sanhá tinha vários problemas de saúde.
Foto: dapd
2) João Bernardo "Nino" Vieira, Presidente da Guiné-Bissau (2009)
João Bernardo "Nino" Vieira foi assassinado em março de 2009. Tinha 69 anos de idade. Esteve no poder durante mais de duas décadas. Tornou-se primeiro-ministro em 1978 e, em 1980, tomou a Presidência. Ficou no cargo até 1999, ano em que foi para o exílio. Regressou a Bissau em 2005 e venceu nesse ano as presidenciais.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
3) Mouammar Kadhafi, chefe de Estado da Líbia (2011)
Mouammar Kadhafi foi assassinado em 2011. Kadhafi, auto-intitulado líder da "Grande Revolução" da Líbia, foi morto por forças rebeldes em circunstâncias ainda por esclarecer. Estava no poder há 42 anos, desde um golpe de Estado contra a monarquia líbia em 1969, onde não houve derramamento de sangue. A sua liderança chegou ao fim com a chamada "Primavera Árabe".
Foto: Christophe Simon/AFP/Getty Images
4) Umaru Musa Yar'Adua, Presidente da Nigéria (2010)
Umaru Musa Yar'Adua morreu em 2010 aos 58 anos de idade. Morreu no seu país, vítima de uma inflamação do pericárdio – estava há apenas três anos no poder. Já durante a campanha eleitoral, Yar'Adua teve de se ausentar várias vezes devido a problemas de saúde. Depois de ser eleito, em 2007, a sua saúde deteriorou-se rapidamente.
Foto: P. U. Ekpei/AFP/Getty Images
5) Lansana Conté, Presidente da Guiné-Conacri (2008)
Após 24 anos no poder, Lansana Conté morreu de "doença prolongada" aos 74 anos de idade. O Presidente da Guiné-Conacri sofria de diabetes e de problemas cardíacos. Conté foi o segundo chefe de Estado do país, de abril de 1984 até à sua morte, em dezembro de 2008.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
6) John Atta Mills, Presidente do Gana (2012)
John Atta Mills morreu de apoplexia em 2012. Tinha 68 anos. Atta Mills esteve apenas três anos no poder. Enquanto chefe de Estado, introduziu uma série de reformas sociais e económicas que lhe granjearam fama a nível local e internacional.
Foto: AP
7) Meles Zenawi, primeiro-ministro da Etiópia (2012)
Meles Zenawi morreu na Bélgica aos 57 anos de idade, vítima de uma infeção não especificada. Zenawi liderou a Etiópia durante 21 anos – como Presidente, de 1991 a 1995, e como primeiro-ministro, de 1995 a 2012. Foi elogiado por introduzir o multipartidarismo, mas criticado por reprimir violentamente os protestos do povo Oromo no norte da Etiópia.
Foto: AP
8) Omar Bongo, Presidente do Gabão (2009)
Omar Bongo morreu em Barcelona, Espanha, em junho de 2009, vítima de cancro nos intestinos. Bongo estava no poder há 42 anos e morreu aos 72 anos de idade. Foi um dos líderes que esteve mais tempo no poder e um dos mais corruptos. Bongo acumulou uma riqueza imensa enquanto a maior parte da população vivia na pobreza, apesar de o país ter grandes receitas de petróleo.
Foto: AP
9) Michael Sata, Presidente da Zâmbia (2014)
Michael Sata morreu no Reino Unido aos 77 anos. A causa da morte não foi divulgada. Após a sua eleição em 2011, circularam rumores sobre o estado de saúde do Presidente. As suas ausências em eventos oficiais alimentaram ainda mais as especulações, apesar dos seus porta-vozes garantirem que estava tudo bem.
Foto: picture-alliance/dpa
10) Bingu wa Mutharika, Presidente do Malawi (2012)
Bingu wa Mutharika morreu em 2012. Teve um ataque cardíaco e faleceu dois dias depois, aos 78 anos de idade. Esteve oito anos no poder e ganhou gama internacional devido às suas políticas agrícolas e de alimentação. A sua reputação ficou manchada por uma onda de protestos por ter gasto 14 milhões de dólares num jato presidencial.