Primeiro secretário da FRELIMO em Quelimane, Pita Duarte Luís, diz que foi forçado a abandonar o seu mandato, que terminaria em 2022, pelos membros do seu partido. Faustino Nhacungo assume, interinamente, o lugar.
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Como a DW já havia dado conta, a FRELIMO enfrenta, em Quelimane, desde a semana passada, um período conturbado e de desestabilização no seu seio. Nos últimos dias, Pita Duarte Luís, que era o primeiro secretário do partido nesta cidade, foi acusado, por vários membros, de ser o responsável pelas sucessivas derrotas nas autárquicas de 2011, 2013 e 2018. Apontaram-lhe ainda o dedo por má gestão.
No entanto, e em entrevista à DW África, o agora ex-primeiro secretário do partido em Quelimane, vem defender-se. E explica ter abandonado o poder, não por livre e espontânea vontade, mas porque se sentiu pressionado por outros membros do partido.
"Não me demiti. Deixei o cargo à disposição para os membros do comité da cidade. No nosso partido não se usa a palavra "demitir". Os militantes acusavam-me de arrogância, não está relacionado com a má gestão", explica Pita Duarte Luís, que diz ainda sentir-se bem com a decisão, uma vez que não chegou ao cargo por "ambição", mas porque foi "eleito pelos camaradas".
As acusações acerca dos maus resultados da FRELIMO também são negadas por Pita Duarte. "Quando entrei tivemos muitos membros do partido que entraram como membros da assembleia municipal de Quelimane. Trabalhámos muito. A nossa intenção era a de resgatar o município de Quelimane. O que falhou não sei dizer".
"Não quis criar ruído" no partido
Pita Duarte Luís garante que a "casa está organizada" e que por isso "quem vier pode dar continuidade [ao trabalho]". "Eu gostaria de terminar o meu mandato como qualquer um, porque fui eleito, e por isso devia terminá-lo. Mas, os membros fizeram um abaixo assinado [para a cessação de funções deste secretariado], e eu devo deixar [o lugar] para não criar ruídos no partido", acrescentou.
No entanto, este domingo (20.01), alguns simpatizantes da FRELIMO contestaram o afastamento do primeiro secretário. Abdala Nito é um deles. À DW diz que: "uma camisa quando está velha e suja, pode ser lavada e continuar a ser usada. O mais importante é sentar e falar sobre no que se está a falhar para depois ver se podemos endireitar o que está torto".
De acordo com fontes do partido FRELIMO na Zambézia, Pita Duarte Luís candidatou-se e foi eleito para o cargo de primeiro secretário da FRELIMO em Quelimane em 2012. Voltou a candidatar-se em 2017 para o segundo mandato, que não chegou a concluir devido esta crise interna que se desencadeou dentro do partido.
Prioridade são eleições de outubro
Ouvido também pela DW, Paulino Lenço, secretário provincial da FRELIMO na Zambezia, diz que o partido está preparado "para resolver os seus problemas internos e eventuais casos que possam surgir. Debatemo-los e o que ficou decidido é que vamos preparar-nos para as eleições gerais, que se realizam em outubro deste ano".
A reunião do comité da FRELIMO em Quelimane, que culminou com a saída do primeiro secretário, decorreu na quinta-feira (17.01). Para além de Pita Duarte Luís, foram também afastados Santos Emílio, que ocupava o cargo de secretário para a mobilização e formação de quadros, e Amina Manuel Tabane, com funções no setor das finanças. Cargos estes que passam a ser ocupados interinamente por Faustino Nhacungo e o seu adjunto Silvério dos Anjos. Alice Magaia passa a controlar a área das finanças.
Quelimane: Familiares de doentes queixam-se das condições de acomodação no Hospital
Familiares vêm acompanhar os pacientes transferidos, na maioria, dos hospitais dos distritos e províncias vizinhas. Acompanhantes dormem no chão, alguns sem cobertores, e sem redes mosquiteiras.
Foto: DW/M. Mueia
Acomodação nos sanitários
As autoridades de saúde adjudicaram, recentemente, as obras para a construção de um muro de vedação à volta dos sanitários públicos do Hospital Central Quelimane. É nestes sanitários, e ao ar livre, que uma parte dos acompanhantes dos pacientes deste Hospital dorme. Usam a água do poço para as necessidades diárias, nomeadamente, para preparar refeições, lavar roupa e tomar banho.
Foto: DW/M. Mueia
Dormir em "Muchungué"
"Muchungué" é o nome dado ao local onde, no Hospital Central de Quelimane, se acomodam os acompanhantes dos pacientes que precisam de internamento. A maioria vem transferida dos hospitais distritais da província da Zambézia. À DW, os acompanhantes explicam que este nome se deve às condições do local: "o modo de vida é comparado ao da região de Muchungué, em Sofala, no tempo do conflito armado".
Foto: DW/M. Mueia
Péssimas condições
À DW, os acompanhantes dos doentes queixam-se da falta de dormitórios, cobertores e redes mosquiteiras. Não há também estendais para a roupa. As roupas que são lavadas são expostas nas matas para secar. Já por muitas vezes, asseveram estas pessoas, houve queixas sobre as condições de sobrevivências no local, mas as autoridades nada fizeram para melhorar a situação.
Foto: DW/M. Mueia
Redes mosquiteiras
Cada acompanhante é responsável por criar as suas condições para dormir. Têm por isso que trazer as suas próprias "esteiras e mantas". A fumaça das fogueiras tem sido uma salvação, pois afugenta os mosquitos, uma vez que também não existem redes mosquiteiras no local.
Foto: DW/M. Mueia
Refeições
As refeições são confecionadas individualmente ou em pequenos grupos de quatro elementos, independentemente, do sexo ou idade, e têm como base as pequenas contribuições de arroz e farinha ou valor monetário. Muitas vezes, o caril é feito com peixe seco, localmente conhecido como "Madjembe", e verduras preparadas em água e sal.
Foto: DW/M. Mueia
Entreajuda
Joaquina Oniva veio da Maganja da Costa, a sul da província da Zambézia. Acompanha a sua neta, que está internada há meses. Joaquina Oniva não tem nada para comer, nem para dormir, tal como a maioria dos acompanhantes. Quando a comida acaba, pede ajuda a outros acompanhantes. Algumas vezes, há gente de boa fé que, ao preparar refeições, conta com mais dois ou três elementos.
Foto: DW/M. Mueia
Falta de segurança e luz
Também Eric Semba se queixa das condições do local. À DW, lembra o sofrimento que tem passado: as noites sem cobertor, sem um dormitório convencional e sem comida. Com ou sem chuva, homens e mulheres dormem, juntos, no local. Muitas mulheres reclamam que são assediadas sexualmente por falta de segurança e iluminação.
Foto: DW/M. Mueia
Esperando a alta médica dos familiares...
Beatriz Lourenco Coambe é mais uma das muitas mulheres que aqui se encontra. Veio há três semanas do distrito de Mocuba, para acompanhar o seu irmão, internado devido a um acidente de viação. Beatriz Coambe explica que gostava de abandonar o local devido ao sofrimento que ali passa. Mas não tem alternativa. Terá que esperar até que o seu irmão tenha alta médica.
Foto: DW/M. Mueia
Situações mais críticas
Não revelando a sua identidade, este jovem veio do distrito de Gorongosa, em Sofala, para acompanhar o seu irmão mais novo. Por semana vai duas vezes à lixeira do Hospital à procura de caixas que sirvam de dormitório. Não tem condições para comprar esteiras ou cobertores. O dinheiro que trazia de casa acabou, por isso, de madrugada, circula pelos bairros vizinhos, onde apanha fruta para vender.
Foto: DW/M. Mueia
Sem garantias de melhorias
Em média, e segundo os dados estatísticos da direção do Hospital Central de Quelimane, cinco a dez acompanhantes procuram abrigo neste local, diariamente. A maioria chega dos distritos de Caia, Maganja da Costa, Mocuba, Inhassunge, Madal, Namacurra, Nicoadala e Pebane. Apesar das reclamações serem frequentes, não há garantias de melhoria das condições a curto prazo.
Foto: DW/M. Mueia
Hospital reconhece situação
O diretor do Hospital Central de Quelimane, Ladino Suade, diz estar preocupado com a situação e lamenta a falta de capacidade para solucionar o problema. No entanto, afirma que à sua instituição compete cuidar dos pacientes e não dos acompanhantes. Na sua opinião, a Direção Provincial de Ação Social da Zambézia deveria intervir.
Foto: DW/M. Mueia
Situação arrasta-se desde 2016
Construído com fundos do Governo e parceiros sul-coreanos, o Hospital Central de Quelimane foi inaugurado a 27 de outubro de 2016. É composto por mais de 100 compartimentos e tem ainda uma clínica privada com serviços e tratamentos mais especializados. Durante a construção deste Hospital, não foi periodizada a construção de salas para os acompanhantes dos pacientes.