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Moçambique: Será possível parar com raptos de empresários?

Delfim Anacleto
23 de janeiro de 2024

Académico moçambicano Arsénio Cucu diz que combate aos raptos será possível se o Estado munir as Forças de Defesa e Segurança de meios tecnológicos.

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Foto: DW / Maksim Nelioubin

A onda de raptos voltou a abalar empresários em Moçambique. Num espaço de um mês houve duas tentativas frustradas e dois raptos consumados na cidade de Maputo. O último caso se deu no sábado (20.01) quando indivíduos desconhecidos raptaram um empresárioem frente do seu estabelecimento comercial.

Os raptores efetuaram vários disparos para repelir qualquer tentativa de socorro ao empresário, tal como num outro caso, onde a intervenção dos populares evitou a consumação de um rapto nas ruas de Maputo.

O Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD) criticou no seu boletim emitido no domingo (21.01) o que considera "inércia do Estado” em travar os raptores, que nos últimos tempos estão a intensificar as suas incursões, particularmente na capital do país.

Há três anos que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou a criação de uma brigada anti-rapto vista como esperança para erradicar este tipo de delito. A intenção foi reforçada pelo primeiro-ministro Adriano Maleiane, quando em maio anunciou no Parlamento a conclusão da primeira fase de seleção de agentes que iriam compor a referida unidade.

Todavia, o CDD entende que a criação da entidade "não passa de uma declaração de intenção ou um sonho que não será alcançado, pelo menos, este ano”.

"As instituições envolvidas no combate contra os raptos denotam sinais de desnorte e resignação”, argumenta o Centro para a Democracia e Direitos Humanos.

As ruas de Maputo são palcos de sequestros há muitos anos. Empresários moçambicanos estão com medo do recrudescimento dos raptosFoto: Amós Fernando/DW

Em entrevista à DW, o académico Arsénio Cucu defende que não basta criar uma unidade anti-rapto. Para Cucu, o Estado devia munir de meio materiais tecnológicos às instituições de investigação e combate ao crime.

DW África: O que deve estar na origem do recrudescimento dos raptos em Moçambique?

Arsénio Cucu (AC): Eu acho que já vamos completar cerca de uma década em que se assistem raptos no país e até agora não há uma explicação clara sobre as razões que levam a este tipo situações. Veja só que há estudos que mostram queMoçambique tem sido um lugar de passagem de drogas, então a que buscar encontrar uma possível relação entre esta ideia de que o Moçambique se tornou um espaço de passagem drogas e esta onda de rapto que está a acontecer neste momento.

DW África: Como é que se pode erradicar em definitivo este problema de rapto, que já está a ameaçar o tecido empresarial em Moçambique?

AC: Eu acho que as nossas Forças de Segurança detêm recursos humanos competentes para encontrar mecanismos de resposta para esta situação. A grande questão que nós temos que colocar neste momento é, porque razão toda essa gente competente não encontra estratégias que visam responder à onda de raptos a acontecer em Moçambique?

E já se cogitou ao longo do tempo a possibilidade de encontrar-se experiência de outros países do mundo que viveram situações dessa natureza, mas até agora, parece que ainda não se encontrou uma fórmula mágica que permita que se erradique esse fenómeno que o país está a sofrer neste momento.

DW África: Tendo em conta essa sua linha de pensamento, há algum tempo para cá, as autoridades moçambicanas têm falado sobre a criação de uma unidade anti-rapto. Entretanto, hoje pouco se vê em concreto e raptos continuam...

AC: Eu não sei se essa medida seria a mais correta neste momento, porque, como sabe, em Moçambique tem-se criado uma série de unidades com vista a combater-se determinados crimes específicos. A grande questão que nós temos que colocar é se essas unidades são criadas, conseguem ou não responder a este tipo de situações?

O que eu coloco e, tenho falado de forma repetida, é que, enquanto não se criarem as condições necessárias para que as Forças de Defesa e Segurança em Moçambique possam responder rapidamente a qualquer tipo de situação que ocorre em Moçambique, dificilmente poderemos conseguir responder às situações como esta que estamos a viver neste momento no país.

DW África: A que condições se refere?

AC: Refiro-me à criação de uma logística e equipamento necessários para combater situações dessa natureza, inclusive encontrar mecanismos que permitam prever, assim como prevenir focos deste tipo de ocorrência.

DW África: E neste momento, que consequências este fenómeno poderá ter para o tecido empresarial e para a economia moçambicana?

AC: Eu penso que a dado momento os empresários podem começar a colocar uma série de interrogações quanto à possibilidade de investir no nosso país com medo de situações de raptos. Então eu acho que de forma direta e isso pode afetar a economia moçambicana, tendo em conta que são parceiros fortes de Moçambique neste momento.

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