Cabo Delgado: SENAMI quer maior fiscalização migratória
DW (Deutsche Welle)
3 de setembro de 2022
Serviço Nacional de Migração quer intensificar fiscalização migratória em Cabo Delgado, Moçambique. Apelo vem depois do Presidente Filipe Nyusi ter criticado presença excessiva de estrangeiros ilegais na província.
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O diretor-geral do Serviço Nacional de Migração (SENAMI) de Moçambique, Fulgêncio Seda, que se encontra de visita à província de Cabo Delgado, apresentou ontem o efetivo que passará a operar no novo posto de fiscalização migratória em Montepuez.
"A vossa missão principal é se deslocarem ao interior do distrito para fiscalizar os estrangeiros. Aquele que não estiver legal, naturalmente deverá ser interceptado, encaminhado para os devidos lugares e repatriado, se for o caso", disse Fulgêncio Seda.
Em visita a Cabo Delgado no dia 15 de agosto, o Presidente da República, Filipe Nyusi, criticara a apatia das autoridades migratórias face ao número crescente de imigrantes indocumentados.
"Excesso de estrangeiros ilegais"
"Há excesso de estrangeiros ilegais na província de Cabo Delgado, por isso é que temos problemas [...]. Não acontece nada à grande parte de pessoas que não têm documentos em dia", disse.
Na ocasião, em agosto, Nyusi apontou também esquemas de corrupção que resultariam na atribuição de documentos nacionais a imigrantes.
"Há muitas pessoas que não sabem nenhuma língua de Mecufi, nem português falam. Como é possível? Precisam ver esses detalhes todos!", disse o Presidente.
Nyusi considerou, na altura, a migração e a permanência ilegal de estrangeiros entre as principais causas dos vários problemas que assolam a província, com destaque para o terrorismo.
População em fuga no norte de Moçambique
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Atividades económicas
O diretor-geral do SENAMI também não escondeu ontem a sua preocupação com o que considera a "proliferação de atividades económicas" levadas a cabo por migrantes em Cabo Delgado.
"Teremos de aferir se realmente os estrangeiros que estão a desenvolver essas atividades económicas estão cá legalmente, ou não. O apuramento é possível através de um trabalho de fiscalização", explicou Fulgêncio Seda.
Entre as medidas que poderão facilitar a aferição da legalidade dos imigrantes estão o recenseamento de estrangeiros e o processo - em fase de testagem - do sistema informático, mas cujo arranque ainda não tem data definida.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
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Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.