Palma: Sete mortos em ataque a caravana de resgate
Lusa | AFP
27 de março de 2021
Uma caravana de resgate que saía da vila de Palma, norte de Moçambique, foi atacada na sexta-feira. Sete pessoas teriam morrido e outras ficaram feridas, segundo fonte da operação.
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A caravana saiu do hotel Amarula, onde aguardavam transporte cerca de pelo menos 180 pessoas que ali se refugiaram, incluindo trabalhadores de empresas ligadas aos projetos de gás, entre os quais expatriados de várias nacionalidades, quando foi atacada.
Segundo fonte ligada à operação ouvida pela agência de notícias Lusa, sete pessoas teriam morrido e outras ficaram feridas. Aguardam-se, entretanto, detalhes sobre as vítimas e circunstâncias do ataque à caravana.
Desde quinta-feira (25.03) que o hotel está a ser evacuado, com transferência para o recinto do projeto de gás na península de Afungi, a cerca de sete quilómetros, embora com muitas dificuldades - uma vez que rebeldes armados continuam na vila que invadiram na quarta-feira (24.03).
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Tensão crescente
Mais cedo, a agência noticiosa AFP havia noticiado que mais de 180 pessoas, incluindo trabalhadores expatriados, encontravam-se presas dentro do hotel, citando denúncias de trabalhadores e fontes de segurança feitas na sexta-feira (26.03).
"Quase toda a cidade foi destruída. Muitas pessoas estão mortas", disse um trabalhador à AFP por telefone na sexta-feira à noite, depois de ter sido evacuado para Afungi.
"Enquanto os locais fugiam para o mato, trabalhadores de empresas de gás natural, incluindo estrangeiros, refugiaram-se no hotel Amarula onde esperam ser resgatados", acrescentou, pedindo para não serem identificado.
Outro trabalhador de uma empresa subcontratada pela francesa Total, que opera na área, disse à AFP que os helicópteros sobrevoaram o hotel mais cedo na sexta-feira, tentando encontrar "um corredor para salvar as cerca de 180 pessoas presas no hotel".
A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado
02:28
"Mas até ao anoitecer muitas pessoas permaneceram nas instalações, enquanto os militantes tentavam avançar em direção ao hotel", disse ele.
"Várias testemunhas disseram à Human Rights Watch que viram corpos nas ruas e residentes em fuga depois dos combatentes de terem disparado indiscriminadamente contra pessoas e edifícios", informou a à organização norte-americana numa declaração na sexta-feira.
O site de notícias sul-africano News24 relatou que um cidadão sul-africano foi morto durante o ataque.
Segundo relatou, ele e outras pessoas foram avançando às escondidas, de rua em rua, evitando as zonas onde se ouvia tiroteio, para assim saírem do perímetro de Palma, chegando a Quitunda, aldeia construída de raiz junto ao recinto do projeto de gás, na quinta-feira à tarde.
Um número de pessoas está desde quarta-feira a fugir para a península de Afungi, após o ataque a Palma que na sexta-feira entrou no terceiro dia de confrontos.
O Governo de Moçambique confirmou, na quinta-feira, o ataque à cidade e disse que soldados tinham lançado uma ofensiva para repelir os combatentes da cidade.
A nova ronda de ataques começou na quarta-feira horas depois de a Total ter anunciado um retomar gradual dos trabalhos no projeto do gás natural liquefeito.
O ataque é o mais grave junto aos projetos de gás após três anos e meio de insurgência armada à qual a sede de distrito tinha, até agora, sido poupada.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI), entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua a ser investigada.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.