O Jornalista da DW Luciano da Conceição foi agredido no domingo (13.09) em Inhambane e levado inconsciente para uma zona de praia. Sindicato Nacional de Jornalistas, DW e MISA pedem responsabilização dos autores.
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Luciano da Conceição foi agredido por desconhecidos e levado inconsciente para uma zona da praia na cidade da Maxixe, onde permaneceu até ao dia seguinte.
Segundo o profissional de comunicação, os malfeitores apoderaram-se de diversos bens, incluindo equipamento de trabalho.
"Antes de abrir a porta da casa fui surpreendido com dois indivíduos desconhecidos, mascarados e com faca que me disseram para não fazer barulho", relata o jornalista. "Colocaram-me um pano na boca e bateram-me até perder os sentidos", diz ainda.
Em comunicado, o Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) em Inhambane informa que "recebeu com preocupação a informação dando conta que o jornalista da DW sofreu ofensas corporais na noite de domingo".
Aquela estrutura sindical refere que o "caso já é de conhecimento das autoridades policiais na cidade da Maxixe", embora não se saiba ainda a identidade dos autores do ataque.
O Sindicato Nacional de Jornalistas, a SNJ em Inhambane, e a DW lamentam o sucedido e pedem para que os autores deste crime sejam encontrados e responsabilizados.
MISA pede investigação
Em comunicado, o MISA Moçambique - Instituto para a Comunicação Social na África Austral - descreve que se vive um ambiente de "impunidade" no país e "manifesta a sua profunda preocupação pela crescente onda de perseguição e de agressões contra jornalistas".
Na nota, o MISA dá conta de um segundo caso de intimidação de jornalistas no domingo (13.09). "O jornalista da TV Sucesso, Leonardo Gimo, sofreu um atentado, no qual lhe foi arrancada a sua câmara de filmar, em plena via pública", lê-se no documento.
"O atentado contra Leonardo Gimo ocorreu por volta das 21h00 horas e foi protagonizado por três indivíduos não identificados", indica ainda.
Leonardo Gimo viria a recuperar o equipamento no dia seguinte, já na esquadra local da polícia de Inhambane, onde voltou a ser aconselhado a apagar imagens que comprometessem homens da FRELIMO, o partido no poder.
"Ao recuperar a sua máquina, Leonardo Gimo apercebeu-se de que tinham sido apagadas imagens onde apareciam indivíduos supostamente membros da FRELIMO que se haviam infiltrado num evento da RENAMO, realizado no mesmo domingo à noite, do qual Leonardo Gimo tinha estado a fazer cobertura jornalística", afirma a nota de imprensa.
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Casos até aqui não esclarecidos
"Estes últimos casos ocorrem num momento em que ainda não foi cabalmente esclarecido o desaparecimento de Ibraimo Mbaruco, locutor da Rádio Comunitária de Palma, na província de Cabo Delgado, raptado no dia 7 de abril.
Recorde-se que antes do seu desaparecimento, Ibraimo Mbaruco enviou uma mensagem a um dos seus colegas, dando conta que estava cercado de militares", recorda o MISA.
"Mais uma vez, o MISA Moçambique apela às autoridades nacionais, nomeadamente a polícia e o Ministério Público, a empenharem-se de forma convincente na investigação de casos que representam uma verdadeira ameaça aos princípios fundamentais da liberdade de expressão e liberdade de imprensa consagrados na Constituição da República de Moçambique, tendo em conta que o usufruto destas liberdades constitui o principal alicerce para a materialização de um outro direito fundamental, que é o do acesso do Povo à informação", reitera o organismo.
"O MISA Moçambique lembra ainda que é função das autoridades do Governo proteger todos os cidadãos, incluindo profissionais da comunicação social", conclui o comunicado.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.