Nos mercados de Quelimane o preço dos alimentos disparou. Comerciantes associam a subida ao ciclone Idai. Mas o Governo diz que os preços continuam estáveis e que a especulação não está relacionada com o ciclone.
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A inflação dos preços dos produtos alimentares regista-se desde março no mercado grossista. No mercado central da cidade de Quelimane, por exemplo, há mais reclamações dos revendedores. Queixam-se que não há clientes por causa de subida excessiva dos preços dos produtos.
"As coisas todas subiram de uma única vez, não sabemos o problema que está a acontecer", conta o comerciante Betinho Pedro. "A cebola estava a 1500 e agora compramos a 8 mil, a batata estava a 5 mil, agora está a 7.500. Quando colocamos os preços a 70 meticais por quilograma, os clientes reclamam, dizem que estamos a roubar aos clientes. O alho estava a 1200, subiu para 2500 meticais. Queremos pedir ao Governo para olhar para esta situação, estamos a passar mal", apela.
Há tendências de especulação
A inspetora das atividades económicas na província central da Zambézia, Vera Godinho, em relação aos preços dos produtos básicos alimentares garante: "Tivemos sim no mês de abril oscilação de preço da cebola nacional, disparou até 100 meticais por quilo. Recentemente os preços oscilam entre 80 a 100 meticais o quilograma, digamos que os preços estão estáveis."
Mas ressalva, "embora haja alguns comerciantes com tendências de especulação, os nossos técnicos estão no terreno a controlar os principais mercados."
Subida do preço dos alimentos é por causa do ciclone Idai?
Egídio Viagem, outro comerciante de Quelimane, admite que teve de aumentar o preço das batatas. "O preço ainda se mantém, está a 6.500 meticais um saco de 50 quilos de batata na venda, vendemos a 70 meticais e o dinheiro não sai, então vamos subir para 80 por quilo porque quando compramos a 6500 meticais e vendendo a 70 não dá lucro. A batata vem de Angonia, na província central de Tete, isso deve-se às cheias, para conseguir a batata lá não é fácil", explica.
A vendedora Amélia Filipe lamenta a subida de preços de produtos básicos alimentares na capital da província da Zambézia. "Nós aqui estamos a sofrer, os produtos estão mais elevados. Uma bacia de banana, está a mil meticais, batata esta sete mil, verdura 35 a 40 meticais, vou vender quanto? como é que vamos vender os produtos aos nossos clientes? Não estou a entender a situação daqui, se é Governo que está a fazer isso aqui, não houve ciclone, ciclone passou na Beira, aqui ninguém sofreu com ciclone", relatou à DW.
Ciclone não é o culpado, entendem autoridades
A inspetora Vera Godinho descarta também a hipótese de a provável especulação de preços de produtos alimentares na cidade de Quelimane ser um efeito do ciclone Idai, como dizem alguns comerciantes.
"Não vamos associar a especulação com o ciclone porque a ser assim teria acontecido logo em março e não agora em meados de maio. No olhamos nesse prisma porque mesmo nos pontos afetados pelo ciclone já estão a se erguer. O ponto mais fustigado pelo ciclone foi a cidade da Beira, estamos numa localização que nos permite receber mercadoria de outros pontos do país", justifica Vera Godinho.
Mas o consumidor Esmeraldo Custódio receia que os preços dos produtos alimentares fiquem mais caros nos próximos dias porque se avizinham as festividades de 1 de junho, dia Internacional da Criança.
"O quilo estava a 50, mas agora está a 60 meticais, a batata, a cebola, muita coisa subiu de preço e vão aumentar, não sabemos quando estivermos próximo das festas como as coisas vão estar", lamenta.
Moçambique: Vítimas de ciclone tentam o regresso à normalidade após Idai
Na província de Tete as famílias vítimas do ciclone Idai, aos poucos, vão acordando do pesadelo para encarar a nova realidade. Lutam pela sobrevivência e tentam ao mesmo tempo recuperar os seus pertences.
Foto: DW/A. Zacarias
Rasto de destruição
Estima-se que mais de cinco dezenas de casas ficaram completamente destruídas pelas inundações dos rios Rovúbwe e Zambeze, na cidade de Tete. Foram mais 9 mil pessoas afetadas pelas cheias em toda província de Tete. Muitas das quais, foram desalojadas das suas casas.
Foto: DW/A. Zacarias
Ainda há casas inundadas
Há também muita água estagnada no interior de algumas casas. Muitos bens perdidos. Contabilizam-se também muitos prejuízos materiais.
Foto: DW/A. Zacarias
Limpeza das famílias
Várias famílias estão a regressar aos poucos às zonas de origem, mesmo que sejam consideradas de risco. No Bairro Chingodzi, unidade 03 de Fevereiro as poucas casas que resistiram à fúria das águas do rio Rovúbwe, ainda continuam cheias de lama. Os proprietários esforçam-se em limpezas. Em algumas casas a lama chegou a atingir um 1 metro de altura. Acabando por soterrar muitos bens.
Foto: DW/A. Zacarias
Regressar a casa mesmo que seja em zona de risco
Tatos Fernando, 29 anos de idade. Teve uma casa completamente alagada. Não desmoronou mas tem muitas fissuras. Agora está a construir uma nova casa. Reconhece que está numa zona de risco. Está disponível a abandonar a zona caso o município de Tete e o governo lhe dê um espaço numa zona segura.
Foto: DW/A. Zacarias
Muitas aulas perdidas
Nino Alferes – é um rapaz de 12 anos de idade. Hoje a sua grande preocupação é recuperar as aulas perdidas. Até porque sabe que não será nada fácil. “Perdi todos os meus livros e muita matéria está perdida”, diz Nino. A semelhança de Nino há muitas crianças que perderam tudo e estão a começar do zero.
Foto: DW/A. Zacarias
Medo de Crocodilos e Erosão
Francisco Martinho é um dos sobreviventes. Teve a sua casa alagada, mas resistiu. Tenta recuperar muitos documentos e livros que se molharam devido a invasão das águas. A sua casa corre sérios riscos de desabar devido a erosão sobre o rio Rovúbwe, mas também tem medo de crocodilos, “basta dar 18 horas toda família fica dentro da casa, porque de repente podem aparecer aqui crocodilos”, relatou.
Foto: DW/A. Zacarias
Centro de Reassentamento de Chimbonde
Neste momento, está a ser montado um centro de reassentamento, na região de Chimbonde, cerca de 15 Km do centro da cidade e Tete. No local já estão alojadas mais de 80 famílias. Foram igualmente demarcados mais de 140 talhões. Mas há ainda talhões por demarcar, segundo Richard Baulene. O outro centro será montado no bairro Mpádue.
Foto: DW/A. Zacarias
Garantidos serviços básicos em Chimbonde
No centro de reassentamento de Chimbonde, cada família recebe uma tenda, feita com lonas, fixadas em estacas, num talhão de 15/20 metros. No local estão garantidos alguns serviços básicos, como água, saneamento de meio, serviços sanitários e está para breve a eletrificação da zona.
Foto: DW/A. Zacarias
Chegam mais famílias no Chimbonde
Não obstante os desafios que lhes esperam pela frente de reiniciar a vida numa nova zona os reassentados de Chimbonde mostram-se felizes por considerar o local seguro. No centro, a DW ÁFRICA encontrou mais de 30 voluntários da Cruz Vermelha que estão ajudando na construção das tendas improvisadas para os reassentados.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias continuam abrigadas
Na cidade de Tete, mais de 600 famílias estiveram abrigadas no Centro de Acomodação da Escola Comercial e Industrial de Matundo. Em Tete foram montados 5 centros dos quais 3 nos distritos de Mutarara e Doa. Continuam abrigadas no centro da Escola Industrial de Matundo mais de 200 famílias, cerca de 1000 pessoas. Algumas famílias estão em tendas, mas outras dormem num salão multi-uso da escola.
Foto: DW/A. Zacarias
Erosão Pós-cheias
Jorge Mafalauzi, tem 30 anos de idade. É pai de 4 crianças. Sabe que tinha uma casa de 3 quartos. A água levou tudo. Pior ainda, agora não consegue chegar onde era sua casa, porque devido à erosão o lugar foi invadido pelo leito do rio Rovúbwe. Mafalauzi vive numa tenda oferecida pelo INGC, próximo da sua antiga casa, nas bermas do rio Rovúbwe e fala de falta de mais apoios do Instituto.