Empresário e também curandeiro foi raptado há cinco meses em Inhambane e até agora a Polícia não tem pistas dos raptores. A família acusa agentes de terem participado no sequestro. PRM promete esclarecer o caso.
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Francisco Remane, curandeiro e agente económico no distrito de Inhassoro, na província de Inhambane, foi raptado na sua residência em dezembro de 2017. Um membro da família, que não quer ser identificado, disse à DW África que na altura do sequestro os raptores envergavam a farda da polícia e um deles deixou cair o seu crachá que o identificava como Eduardo de Jesus Titosse, agente da polícia.
Mesmo perante esta aparente prova, a Polícia da República de Moçambique (PRM) ainda continua em silêncio. O facto levou a família e alguns membros da comunidade a realizarem uma manifestação diante do comando distrital da PRM de Inhassoro no último final de semana, para exigir justiça e o resgate de Francisco Remane.
Um dos manifestantes disse que o curandeiro "saiu com agentes da policia e até hoje não voltou." Outro cidadão descontente diz o mesmo: "Vieram agentes da polícia de noite e saíram com ele sem dizer para onde íam e no dia seguinte encontramos o crachá de um agente da polícia que fomos entregar ao comando policial. Lá informaram-nos que no distrito não existe nenhum agente com esse nome, afirmando que ainda estavam a trabalhar no caso."
O mesmo cidadão questiona: "Será que com o nome e o número do crachá não se pode identificar o tal agente para explicar porque o seu documento de identificação foi encontrado no nosso quintal?"
Agentes da Polícia envolvidos?
O chefe das operações no comando distrital da PRM em Inhassoro, Benedito Mazivila, disse que pode ser verdade que um dos agentes da polícia tenha participado neste sequestro, mas acrescentou que o caso está a ser investigado pela direção do pessoal no comando geral em Maputo.
Suspeita de envolvimento de polícias em rapto em Inhambane
Por outro lado, Mazivila lembra que pode haver pessoas de má fé que gostam de manchar a imagem da corporação cometendo crimes utilizando fardamento e identificação da polícia.
"Oxalá que não seja um membro da Polícia, porque hoje em dia muitos desonestos têm aparecido na televisão bem uniformizados como polícias, embora não sejam da corporação. E isso é só para mancharem o nome da instituição. Contudo, estamos a investigar o caso e a direção do pessoal conhece todo o seu efetivo e está a procurar identificar a pessoa", declarou.
Nem as orientações de Nyusi funcionam
Durante um comício popular em Inhassoro em dezembro de 2017, a população falou do caso ao Presidente da República. Na altura, Filipe Nyusi deu o prazo de uma semana à Polícia para esclarecer esse sequestro. Mas até hoje, segundo o comandante provincial, Joaquim Nido, somente foi aberto um processo-crime contra desconhecidos.
"Acreditamos que este caso poderá ser esclarecido, porque há um trabalho coordenado entre a Policia da República de Moçambique e os serviços nacionais de investigação criminal. É verdade que ainda não temos os autores do sequestro identificados, mas estamos no terreno no sentido de descobrir pistas e outras informações", diz otimista Joaquim Nido.
Maxixe: Obras sem qualidade são adjudicadas por milhões
Em Maxixe, Moçambique, somam-se os casos de obras públicas sobrefaturadas. A DW África juntou exemplos de obras cujo processo de adjudicação não foi transparente e nas quais os orçamentos foram inflacionados.
Foto: DW/L. da Conceição
Favorecimento na seleção das empresas
Em Maxixe, parte das obras de construção civil têm sido adjudicadas à empresa SGI Construções Lda. que não se encontra registada no Boletim da República e que apenas tem escritórios em Maputo. A empresa, com laços fortes com o Presidente do município, Simão Rafael, faturou, nos últimos dois anos, mais de 30 milhões de meticais (cerca de 427 mil euros) em obras que até hoje ainda não terminaram.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta de transparência
Como se vê na imagem, para além de não se saber a data do início desta obra, não se conhece o fiscal nem a distância exata para a colocação de pavés. Sabe-se apenas que tem um prazo de execução de 90 dias.
Foto: DW/L. da Conceição
Figuras ligadas à FRELIMO criam empresa
Esta obra, orçada em mais de sete milhões de meticais, foi adjudicada à MACROLHO Lda, uma empresa com sede em Inhambane e que tem, segundo a imprensa local, participações de sócios ligados ao partido FRELIMO, como o ex-governador de Inhambane, Agostinho Trinta. Faturou, nos últimos dois anos, mais de 40 milhões de meticais em obras que, até agora, ainda não foram entregues. O prazo já expirou.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras faturadas e abandonadas
Esta via é a entrada do bairro Eduardo Mondlane. Desde 2016, o munícipio já gastou na reparação desta estrada - com cerca de 200 metros -, mais de quatro milhões de meticais. Até à data, apenas foram executados 150 metros. Ao que a DW África apurou, o empreiteiro apenas trabalha nos dias de fiscalização dos membros da assembleia municipal. O dinheiro faturado dava para pavimentar mais de 1 km.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sobrefaturadas
Este é o estado atual de várias obras na cidade de Maxixe. Na imagem, a via do prolongamento da padaria Chambone, foi faturada em mais de cinco milhões de meticais (cerca de 71 mil euros) no ano de 2016. No entanto, esta mesma obra voltou a ser faturada este ano, não tendo o valor sido tornado público.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sem qualidade
Desde o ano de 2015, o conselho municipal da cidade de Maxixe já gastou mais de 10 milhões de meticais (cerca de 142 mil euros) com as obras de reparação de buracos nas avenidas e ruas do centro da cidade. No entanto, o trabalho não tem qualidade e os buracos continuam a danificar carros ligeiros. O empreiteiro desta obra é também a SGI Construções Lda.
Foto: DW/L. da Conceição
MDM denuncia corrupção
A bancada do MDM na assembleia municipal de Maxixe denunciou que as viaturas adquiridas pela edilidade não estão a ser compradas em agências, mas no mercado negro em África do Sul. Diz a oposição que as últimas duas viaturas adquiridas custaram mais de sete milhões de meticais. Um preço quatro vezes superior, quando comparado ao valor das duas viaturas no mercado em Moçambique.
Foto: DW/L. da Conceição
“Não interessa qualidade, queremos faturar”
Jacinto Chaúque, ex-vereador do município de Maxixe, está a ser investigado pelo Gabinete de Combate à Corrupção de Moçambique. Da investigação consta, entre outros, uma gravação telefónica entre Chaúque e o empreiteiro desta obra, na avenida Ngungunhane, e em que o ex-vereador afirma que “não interessa a qualidade. Queremos faturar nestas obras”. Chaúque está a aguardar julgamento.
Foto: DW/L. da Conceição
Preços altos nas construções de edifícios
Em 2015, o conselho municipal de Maxixe construiu um posto policial no bairro de Mabil. Esta infraestrutura - com apenas dois quartos, uma sala comum e uma cela com capacidade para cinco pessoas – custou mais de 1,3 milhões de meticais, não contando com a aquisição de material como mesas ou cadeiras. Ao que a DW África apurou junto do mercado, esta obra não custaria mais de 300 mil meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Um milhão de meticais por cada sede do bairro
As sedes dos bairros são outro exemplo. Todas as sedes dos bairros construídas pelo conselho municipal contam com a mesma planta. Cada uma custou cerca de um milhão de meticais (cerca de 14 mil euros). O preço real de mercado para uma casa tipo dois, sem mobília de escritório, é de cerca de 300 meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Empreiteiro exige dinheiro de volta
O empreiteiro Ricardo António José reclamou, em 2015, a devolução do dinheiro que foi exigido pelo ex-chefe da Unidade Gestora Executora e Aquisições, Rodolfo Tambanjane. O montante pago por Ricardo José era referente ao valor da comissão de Tambanjane por ter selecionado esta empresa e não outra. Rodolfo Tambanjane foi preso, tendo saído depois de pagar caução. O caso continua em tribunal.