O edil de Nampula está revoltado com o seu partido, o MDM. Mahamudo Amurane acusa a formação de querer prejudicá-lo, por alegadamente ser intolerante com atos de corrupção. O MDM diz que as acusações são infundadas.
Publicidade
O mau clima entre a segunda maior força da oposição, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e Mahamudo Amurane, edil da cidade de Nampula, norte do país, começou nos finais de 2014, segundo contou o edil à imprensa moçambicana na manhã desta terça-feira (07.02.): "Tudo começou com as pressões, porque tenho vindo a destituir pessoas [do cargo de chefia], e por não compactuar com a utilização de recursos públicos para usos do partido. É justamente por causa disso que acontecem situações desta natureza, de difamação."
Refira-se que desde o início do seu mandato em 2014, o presidente do Município de Nampula já promoveu e despromoveu mais de uma dezena de pessoas ligadas ao MDM. Por causa disso, o edil é considerado intolerante e igualmente se diz que presta maus serviços aos cidadãos. E a situação tem gerado muito descontentamento.
Amurane diz ainda que "o MDM pretende denegrir a imagem do presidente Amurane justamente porque não compactua com atos de corrupção."
Nampula /Edil problemas com MDM - MP3-Mono
Amurane também suspeito de corrupção
A situação também já atingiu a sua família que, de acordo com o edil, "passou por momentos de muita intimidação por parte dos membros do MDM."
Mahamudo Amurane conta: "Começaram a cercar a minha esposa no sentido de intimidá-la, para que eu possa ter posições mais favoráveis ao partido. E quando viram que o método não surtiu efeito avançaram para uma outra campanha."
Recentemente, veio a público Maria Marovica, antiga chefe da bancada do MDM na Assembleia municipal, para denunciar que "outros estão a trabalhar para dar dinheiro ao senhor Amurane para comprar casa em Portugal [onde vive a sua família, alegadamente às custas de desvios do erário público]."
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.