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Moçambique: Teatro e rádio para combater a caça furtiva

Stefan Ehlert
20 de dezembro de 2020

A caça furtiva continua a ser um grande problema em Moçambique. Governo e ambientalistas apostam agora no diálogo com a população, que consideram ser peças-chave nesta luta, através de eventos lúdicos.

Wilderei Mosambik I Radio unterm Baum - in Povoado de Cumane
Foto: Stefan Ehlert/DW

A letra da música cantada por um jovem, cujo nome artístico é "Nazza", é clara: "a caça furtiva não é um emprego, mas uma irresponsabilidade".

É esta a mensagem que se pretende passar à população da aldeia de Captine, no Parque Nacional do Limpopo, que faz fronteira com a África do Sul e onde centenas de pessoas continuam a perder a vida na sequência de tiroteios com guardas florestais.

A performance de "Nazza" é o ponto alto de um evento muito invulgar em Captine, uma aldeia remota perto do Parque Nacional do Limpopo. Cerca de 60 mulheres e alguns homens acompanham a sua apresentação.

Captine fica a oito horas de carro da capital de Moçambique, Maputo. O facto de celebridades da emissora estatal Rádio Moçambique e representantes de alto nível das autoridades da capital visitarem a aldeia é algo que os residentes nunca tinham experimentado antes.

A iniciativa faz parte de uma série de ações que integram o programa "Kheta", organizado pelo Governo moçambicano em parceria com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês) e vários meios de comunicação social, e que pretende sensibilizar a população para os riscos da caça furtiva.

Governo e ambientalistas apostam agora no diálogo com a população, que consideram ser peças-chave nesta luta.

Énia Bila (à dir.), da Rádio Moçambique, moderou o eventoFoto: Stefan Ehlert/DW

Enfrentar as carências

Isto porque nestas comunidades, que não beneficiam diretamente do turismo e onde é difícil viver da agricultura, existem pessoas que acabam por ser aliciadas a juntar-se ao comércio ilegal de marfim por razões financeiras.

Fátima Mário, residente de Captine, explica as carências da população.

"Falta-nos água. O poço ali só tem água durante meio dia, depois das 15 horas está seco. Muitas famílias dependem [da caça furtiva]", descreve.

Para muitas famílias, a caça furtiva representava, até há bem pouco tempo, mais do que apenas uma renda extra. Mas isso acabou, garante Fátima Mário, que diz que os caçadores furtivos vêm de fora.

"Fomos informados de que a caça furtiva foi proibida. Mesmo que um animal apareça aqui na aldeia, não podemos disparar contra ele", relata.

António Miguel NdapassoaFoto: Stefan Ehlert/DW

Envolver a comunidade

A mesma opinião não tem o representante do WWF Marcelino Foloma, que afirma que esta "é uma das áreas críticas" para a caça furtiva, especialmente de rinocerontes. Por isso, considera fulcral o envolvimento da população nesta luta.

"Trata-se de um crime organizado, não é visível. Para ser visível, há que apanhar as pessoas em flagrante delito, para poder prender os criminosos", diz Foloma.

Os aldeões presentes não parecem inteiramente convencidos. Assistiram ao concerto de "Nazza" e também a uma peça de teatro sobre os perigos mortais da caça furtiva de rinocerontes. Mas o seu aplauso foi contido.

António Miguel Ndapassoa, apresentador da Rádio Moçambique, um dos meios de comunicação parceiros da iniciativa, também sentiu isto mesmo: "Como a caça furtiva está a ser controlada, as pessoas ficarão sem rendimentos. Esta é uma luta para assegurar os maiores rendimentos possíveis".

"As pessoas estão numa situação em que são pobres, sentem-se desprotegidas e, entre morrer da pobreza ou morrer da caça furtiva, é melhor morrer a tentar. É uma estratégia lógica de sobrevivência", conclui.

Mulheres combatem caça furtiva em Moçambique

03:08

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