Governo reduziu em mais de 40% o valor do gás doméstico, mas aumentou em quase 1 euro o da gasolina. Especialista ouvido pela DW África alerta para má gestão dos combustíveis no país.
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O Governo moçambicano anunciou esta quarta-feira (28.06) uma série de mudanças no preço dos combustíveis no país. O reajuste mais significativo registou-se no preço do gás doméstico, que passou de 70 meticais (1,02 euros) o quilograma para 40,57 (cerca de 0,58 euros), representando uma redução de 42%. O preço do gasóleo desceu ligeiramente, mais concretamente um metical e meio, passando a custar 50,48 meticais (0,73 euros).
Entretanto, apesar da redução nestes combustíveis, o preço da gasolina aumentou cerca de quatro meticais o litro, passando a custar 57,89 meticais (0,83 euros), revela um comunicado do Ministério dos Recursos Minerais e Energia.
O petróleo de iluminação também registou um aumento ligeiro no seu preço, mas em apenas cerca de dois meticais.
Cidadão surpreso
Em Maputo, cidadãos ouvidos pela DW África saudaram o atual reajuste dos preços. Mas, para Paulino Bernardo Nore "deviam baixar a gasolina porque a gasolina é mais usada em relação ao diesel".
Por seu turno, Anselmo João considera bem-vinda a redução do preço do gasóleo. "Pelo menos assim já não haverá aquele encurtamento de rotas [do transporte público]. Já não há motivos para eles alegarem que o combustível está caro".
Outro cidadão ouvido pela DW África, Mateus Domingos, não escondeu a sua surpresa com a redução do preço do gás doméstico em 40%.
"Essa queda surpreende-nos bastante, também porque não somos produtores de gás. Foi positivo. É que ultimamente o custo de vida era muito alto e as pessoas já não estavam a aguentar", disse o cidadão entrevistado na capital moçambicana.
O Diretor Nacional Adjunto de Hidrocarbonetos e Combustíveis, Almirante Dima, justificou esta redução com a apreciação da moeda nacional, o metical, em relação ao dólar e ao rand sul-africano.
Questão de transparência
Para o analista Borges Nhambir, do Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP), o atual reajuste dos preços dos combustíveis é importante. Segundo ele, é "uma questão de transparência".
Moçambique: Aumento de combustíveis - MP3-Mono
"Transparência no sentido de que o cidadão já pode prever, em função de diversos fatores, como a oscilação do preço do petróleo bruto no mercado internacional, se neste mês haverá ou não haverá um ajuste significativo ou não nos preços", explica Nhambir.
Nhambir recorda que até março o Governo não cumpria com a legislação que estabelece a necessidade da revisão dos preços de venda ao público numa base mensal, sempre que se verifique uma variação do preço-base superior a três por cento ou caso haja alteração dos impostos.
De acordo com o analista, o Governo justificava que tinha um subsídio generalizado, mas este não era transparente, não beneficiava as pessoas que mais necessitavam e propiciava a corrupção.
Má gestão dos combustíveis
Borges Nhambir observou ainda que há outros aspetos fundamentais da legislação sobre os preços dos combustíveis que não estão a ser cumpridos.
Um exemplo é a gestão do Governo sobre os combustíveis líquidos, que deveria ser exercida sempre que houvesse uma redução no seu armazenamento, como medida de segurança nacional. Porém, isto não está a acontecer, alerta Nhambir.
"Neste momento, Moçambique não tem esta capacidade de manter reservas suficientes dentro daquilo que é estabelecido pela legislação por inexistência de infraestruturas".
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.